Portos amazônicos irão desbancar os do sul este ano

Carga que sai de Campo Novo (MT) para o porto de Porto Velho custa 150 reais menos o frete por tonelada.
Movimentação de embarque de grãos no porto de Porto Velho. Foto: Rafaela Schuindt.

Com informações de O Estado de São Paulo

Distância menor e custo do frete mais barato tornaram a opção atrativa e que veio para ficar.

Os portos amazônicos de cidades como Porto Velho, capital de Rondônia, e Barcarena, no Pará, irão superar, ainda neste ano, o volume de escoamento de soja e milho dos portos das regiões sudeste e sul, como Paranaguá e Santos. A expectativa é da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

O agronegócio está com os olhos voltados para o chamado Arco Norte. Os terminais da região já alcançam 50%  do volume escoado de soja e milho verificados no ano de 2020, desbancando pela primeira vez a preferência dos produtores no transporte dos grãos.

A média de avanço anual segundo a Antaq tem sido de 4%. A maior parte da soja e do milho é exportada para a Ásia, seguida por Europa.

Segundo informações publicadas em destaque neste domingo (11) pelo jornal O Estado de São Paulo, até dez anos atrás terminais portuários de cidades como Itaituba, Santarém e Barcarena (PA), Santana (AP), Itacoatiara (AM) e Porto Velho (RO) eram tratados como “experiências” logísticas pela maior parte dos produtores de Mato Grosso, dada a precariedade – ou mesmo a inexistência – da infraestrutura de acesso aos terminais.

Investimentos feitos ao longo do tempo pelos estados amazônicos apontam que  esses endereços se consolidaram como alternativa aos terminais de Santos (SP) e Paranaguá (PR). O porto de Porto Velho ampliou as condições para embarque e desembarque de mercadorias, o que tem atraído o interesse de investidores de outras partes do mundo. Empresários e comissões da China, Japão, Coreia e Cingapura visitaram o porto.

Segundo dados da Antaq, em 2010 a movimentação nos portos do Arco Norte respondia por apenas 23% da produção nacional de soja e milho. A participação saltou para 31% em 2015, até atingir 50% no ano passado.

O mapa logístico esta mudando por diversas razões. Na última década, o governo federal, com muitos atrasos, conseguiu, finalmente, dar condições razoáveis de trafegabilidade à BR-163, estrada que sai do Mato Grosso e segue até o Pará, onde passou a se ligar com a hidrovia do rio Tapajós.

Melhorias também foram feitas na BR-364, que segue até Rondônia, para se conectar à hidrovia do Rio Madeira, que ainda precisa de muitos investimentos.

O modal de transporte unindo estradas e rios facilitou  o acesso a mercados importantes.  Os aportes da iniciativa privada tiveram peso grande: colocaram dinheiro em estruturas de armazenamento, transporte e transbordo de grãos. O resultado foi imediato: redução da distância e do custo do transporte.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), órgão ligado ao Ministério da Agricultura, mediu os custos. O produtor que embarca hoje sua carga em um caminhão em Sorriso (MT), por exemplo, e despacha para o porto de Santos, tem que fazer uma viagem de 2.171 km de extensão e pagar R$ 300 por tonelada de grão transportada. Ele pode até dividir o percurso com o uso de uma ferrovia, a partir de Rondonópolis (MT), mas não verá o preço de seu frete mudar quase nada.

Se esse mesmo produtor de Sorriso escolhe como destino o terminal portuário erguido em Miritituba, no município de Itaituba, Pará, verá a sua distância encolher para 1.017 km até chegar à hidrovia do Tapajós, com um preço de R$ 160 por tonelada. É praticamente metade do preço e da distância. A partir de Miritituba, a produção segue por hidrovia, ao porto de Vila do Conde (PA) para, então, ganhar o mundo.

No caso de um produtor  de Campo Novo (MT), se ele envia sua carga para o porto de Santos, vencerá os 2.290 km pagando R$ 290 o frente por tonelada, ao passo que se for ao porto público de Porto Velho rodará 1.179 km (mil a menos do que a rota paulista) e pagará R$ 140 a tonelada.

O preço do frete caiu de forma geral com as alternativas de escoamento dos grãos.  Em janeiro de 2020, uma tonelada de grãos que saía de Campo Novo (MT) para viajar 2.210 km até o porto de Santos custava R$ 310. Um ano depois, essa mesma tonelada custa R$ 290.

No Arco Norte, os preços caíram de forma ainda mais acentuada. Entre janeiro de 2020 e de 2021, a tonelada de grãos transportada de Sorriso a Miritituba viu seu frete reduzir em 16%, de R$ 190 para R$ 160. Quem partiu de Sorriso a Santarém (PA) pagou R$ 245 no ano passado, mas agora desembolsa R$ 220.

“É uma mudança muito forte no setor, algo que já era esperado há algum tempo e que veio pra ficar. Os portos do Norte estão trazendo mais competição e opções de saída, que são nosso maior gargalo hoje”, diz Antonio Galvan, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja).