O ex-ministro Luiz Henrique Mandetta disse em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 que o governo federal não quis fazer uma campanha de comunicação contra a Covid-19 e, por isso, por se tratar de uma pandemia de vírus ainda bem desconhecido então, decidiu manter as entrevistas coletivas que fazia diariamente.
“Fizemos campanhas com a Aids, bem sucedida, e isso é extremamente necessário,” disse. O ex-ministro falou da diretriz por transparência e por interação direta com a população como condições essenciais para reduzir estragos provocados por uma pandemia causada por um vírus altamente contagioso, lembrando que é uma ferramenta em sociedades democráticas fundamental em momentos de crise sanitária.
As perguntas feitas pelo relator, senador Renan Calheiros, foram em tom protocolar. O ex-ministro disse que a expectativa de sua equipe no pior cenário, sem o devido apoio governamental para as medidas preconizadas pela OMS, era a de que em dezembro de 2020 ocorresse 180 mil óbitos no país. Ele apresentou essa projeção ao presidente Jair Bolsonaro, e o resultado final foi que chegaram a 191 mil óbitos. Sua projeção foi subestimada em 11 mil.
Mandetta disse que havia uma espécie de “assessoramento paralelo” dado ao presidente Jair Bolsonaro, dizendo ter encontrado em reuniões ministeriais o filho do presidente, vereador Carlos Bolsonaro, fazendo apontamentos, e que Eduardo Bolsonaro prejudicou muito as relações com a China, de quem, naquele momento, era imprescindível obter apoio para compra de insumos, como Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e outros.
Mandetta disse que 94% de produtos hospitalares como esse são produzidos pela China, “a indústria do mundo ocidental renunciou a isso”, e que diante do comportamento da família Bolsonaro resolveu agir diretamente junto à embaixada da China.
Sobre a cloroquina produzida pelo Exército, indagado por Renan Calheiros se o Ministério da Saúde autorizou a produção ampliada do medicamento, Henrique Mandetta disse que a ampliação do estoque de medicamento não passou pela pasta.
“A Fiocruz é a instituição que tem e controla esse medicamento, sempre foi, e para o que preconizávamos o que havia era suficiente. Não passou por nós”, disse.