Rede de crime ambiental tem ramificações em 24 Estados

O estudo que mapeou mais de 300 operações da PF aponta que as ações chegaram a 197 municípios da Amazônia Legal.
Garimpo Itaituba, Pará. Foto: Divulgação/PF.

Levantamento do Instituto Igarapé, que mapeia mais de 300 operações da PF entre 2016 e 2021, mostra que muitas vezes financiadores das atividades irregulares estão longe da floresta.

José Maria Tomazela, O Estado de S.Paulo

20 de julho de 2022 | 10h01

Garimpo no rio Madeira, em Porto Velho, um dos municípios alvo de operações. Foto: Grenpeace.

Estudo do Instituto Igarapé mostra que a rede do crime organizado da Amazônia se espalha por todo o Brasil. Operações da Polícia Federal (PF) apontam ramificações dessa cadeia, que inclui extração irregular de madeira e garimpo ilegal, em 254 cidades de 24 Estados, incluindo São Paulo e no interior paulista. Ou seja: a natureza é agredida na Amazônia, mas muitas vezes financiadores ou receptores de materiais extraídos irregularmente se articulam em várias regiões – e longe da floresta. Além disso, quase metade das ações foi na repressão a delitos em reservas públicas ou terras indígenas, embora o desmate avance rapidamente por outras frentes nos últimos anos.

A análise de mais de 300 operações da Polícia Federal (PF) entre 2016 e 2021 demonstrou que, além de ter perfil organizado, a criminalidade ambiental na Amazônia está  longe de ser um problema local. As ramificações do ecossistema do crime ambiental só não chegaram aos Estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba. As operações se desdobraram em 846 territórios espalhados na América do Sul.

Os territórios mapeados nas operações da PF estão em 197 municípios da Amazônia Legal, (75% do total), 57 municípios fora da Amazônia Legal (22%) e oito em cidades de países vizinhos (3%). O estudo, divulgado nesta quarta-feira, 20, faz parte da série “Mapeando o Crime Ambiental na Amazônia”.

As operações da PF foram motivadas pelo desmate descontrolado com alvo em diferentes economias ilícitas, como extração ilegal de madeira, mineração ilegal, sobretudo do ouro, grilagem de terras e atividades agropecuárias com passivo ambiental. A Amazônia bateu novo recorde de desmatamento no 1º semestre, como revelam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Essas atividades envolvem delitos ambientais e não ambientais, como crimes financeiros, tributários, corrupção, fraude e crimes violentos. “Já havíamos identificado que o crime ambiental não acontece sozinho. O que esse novo artigo mostra é que todo o Brasil é responsável pelo o que acontece na Amazônia”, avalia Melina Risso, diretora de Pesquisa do Instituto Igarapé.

“O lócus do crime ambiental é a Amazônia Legal, que acaba sofrendo os impactos sociais, econômicos e ambientais. Porém, os desdobramentos ultrapassam suas fronteiras. Atividades criminosas em diferentes Estados e países sul-americanos participam dessa cadeia de ilicitudes amazônica”, acrescenta ela.

O esquema de conexões deriva de quatro grandes economias ilícitas: grilagem de terras públicas, exploração ilegal de madeira, mineração ilegal e agropecuária com passivo de ilegalidades ambientais, como o desmatamento. Em todas, a “lavagem” ou “esquentamento” dos recursos naturais amazônicos é central. A aparência de legalidade garante que recursos e produtos oriundos de territórios protegidos na Amazônia Legal adentrem os mercados legais no Brasil e no mundo.

Assim, as fraudes se ramificam dos trabalhadores que executam o crime e transportam os produtos, até servidores públicos e técnicos que fraudam documentos autorizativos ou de inspeção, atingindo ainda aqueles que comercializam produtos da Amazônia a centenas ou milhares de quilômetros da floresta.

O estudo identifica ‘territórios’ como as localidades que abrigam um ou mais crimes ou ilegalidades ligados ao ecossistema da Amazônia. As 302 operações da PF se desdobraram em 846 territórios, porque 64% das investigações atingiram dois ou mais municípios, casos das operações Rios Voadores, deflagrada em 2016 no Pará, e Ouro Perdido, desencadeada em 2019 no Amapá.

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