Mais do que dinheiro, a Amazônia precisa de política de Estado

Preocupa a indisfarçavel satisfação de autoridades do Brasil com promessa de "vultosa" quantia.
Geraldo Alckmin, vice, e Marina Silva, só sorrisos para John Kerry. Foto: Cadu Gomes/Vice-presidencia.

Vi no JN o vice-presidente Geraldo Alckmin falando sobre a visita de John Kerry, enviado da presidência dos Estados Unidos para o Clima. Eles (os americanos) querem colocar recursos “vultosos”, expressão de Alckmin, no Fundo Amazonia e em outras iniciativas.

Fico preocupada com a indisfarçável satisfação das autoridades brasileiras com oferta ainda no campo da promessa, e mesmo que consolidada, em razão de reconhecer no Brasil todas as condições para impor o processo de uma negociação global de ajuda mediante a apresentação, clara, soberana e objetiva, de uma política de Estado para a Amazônia, uma política na qual gerações sucessivas de governantes com ela tenha compromisso, lastreada no desenvolvimento de agenda econômica verde e participação ativa da população que na região vive.

Lastreada em uma política de investimentos em ciência e tecnologia, vitais para deletar o descaso que o próprio País (sociedade, governos, União, empresários etc.) produz, vide ações criminosas na região, farta ausência do Estado e ausência de investimentos. Sem política de Estado, a Amazonia, podem acreditar, está a passos largos rumo à internacionalização, fartamente defendida por gente como Leonardo Boff, braço da “esquerda” anacrônica que infelizmente voltou a presidir o país.

Marina Silva1 loteou seu ministério com organizações não governamentais que impediram a possibilidade de desenvolvimento na Amazonia, investiram praticamente só na repressão, faltando pesado trabalho de educação ambiental e cultura de valorização da floresta em pé, não para sua intocabilidade, mas para sua exploração sustentável.

O impedimento submisso a ditames internacionais bloqueou, por exemplo, iniciativas de pouca monta como produzir em parceria com instituições cientificas uma tecnologia para o apanhador de açaí, que num esforço descomunal e secular tem de atleticamente galgar até 25 metros de altura para tirar o fruto. Cegueira total da burocracia.

Vejam o vídeo de um caboclo amazônico que inventou um instrumento para colher o cacho da fruta. A política de Estado para a Amazonia tem de abraçar esse povo sofrido, tem de criar um centro de tecnologia urgente. Por que o BNDES pode financiar a Argentina, lembrem-se, são 4 bilhões de reais para o gasoduto poluente, e não pode investir na Amazônia, 60% do território nacional, a mais rica biodiversidade do planeta? Colocar cientista e pesquisador em todos os 9 estados da Amazonia Legal? Vão continuar mendigando dinheiro de fora?

Marina2 e Lula3 não podem ignorar que a região politicamente radicalizou a preferência política devido ao engessamento de ações desenvolvimentistas ditado de fora, obedecido aqui dentro. Se não aprenderem esta lição, irão ter dias difíceis em breve.

O clima mundial precisa de atitude de todos os líderes, é certo, mas não dá para admitir que a Amazônia seja a redenção dos problemas causados pela instabilidade climática advinda da ação humana sem que a sua população seja oferecida uma política que  combata a desigualdade e, sobretudo, sem que o Brasil tenha a chance derradeira (os sinais estão dados) de tornar verdadeiramente – de forma soberana – a região no epicentro de uma economia verde cuja experiencia será única e enriquecedora em razão do potencial e vocação existentes.