O governo atravessa os 100 dias de gestão com a reedição de velhos programas, mesmo com L3 pedindo “criatividade” à equipe, não sai do “nós contra eles,” bom para os partidos, péssimo para o Brasil e claramente grupos do PT disputam os rumos da gestão, especialmente no campo econômico.
Como se não bastante a pasmaceira que se prenunciava, afinal na campanha sequer programa de governo foi apresentado, L, populista que é, arruma adversários para maquiar a fragilidade de sua concertação interna e externa incapaz de gerar, até o momento, solução para encrencas urgentes, como a definição da política de preços da Petrobras, reforma tributária, mudança na previdência, correções na trabalhista, ausência de crescimento da economia e, com o habitual desprezo pela austeridade e contenção de despesas, está nem aí para uma remodelação administrativa, a não ser ter criado 37 ministérios.
Os juros de 13,75% são sim criminosos, e a inflação não se dá por demanda, como diz Roberto Campos, mas custo, preço. Se L3 deseja vê-lo longe do governo, que instrua os membros do Conselho Monetário Nacional (CMN) a justificar um pedido de demissão ao Senado. Trabalhe para ter voto, faça o que tem de ser feito. Gritaria e eleição do adversário da vez nada resolve, apenas traz desconfiança e anima a bolha alienada.
O PT, cuja permanência eterna no poder é razão principal de existência – entrevista recente de José Dirceu é mais uma confirmação -, jogou no lixo da história a oportunidade de fazer reformas estruturais necessárias nos anos favoráveis e de bonança, com alta popularidade, apoio dos movimentos e instituições, votos no Congresso Nacional. Mas L disse na campanha a uma rádio gaúcha que o Brasil não precisa de reformas, o imperativo é gastar, gastar e gastar.
Se o corte de gastos é ausente, de pronto verificado em janeiro quando Fernando Haddad apresentou medidas iniciais na seara econômica, centradas 80% no aumento de receitas, o previsível de acontecer é aumento de arrecadação com o novo marco fiscal, ainda por encaminhar ao Congresso.
Partido não reformista, o PT, que escanteia aliados da falaciosa Frente Ampla, vai continuar ignorando a injusta e maluca cadeia de tributação no país, a previdência que privilegia militares, filhas solteiras, procuradores, juízes etc., a cruel informalidade como instância principal de “emprego” e a privatização da Eletrobras?
L3 acha que o sangue e o suor dos trabalhadores informais e dos demais devem ser utilizados para financiar com 4 bilhões de reais a Vaca Muerta da Argentina, nada menos do que um gasoduto poluente e um país falido.
O BNDES usaria melhor essa dinheirada se financiasse trabalho para milhões de desempregados, se adotasse uma política de reversão da informalidade. Se capacitasse a mão de obra nacional. Se investisse na bioeconomia, elevando o Brasil ao patamar de desenvolvimento que encara o sustentável uso de suas riquezas naturais e se esforça para prover tecnologia com autonomia, deixando de lado migalhas do Fundo Amazonia, entregues nem sempre com boas intenções.
Em 100 dias, o cidadão brasileiro estropiado, lascado, desnutrido, ferrado e esperançoso de ter a picanha do fim de semana, não ouviu uma só palavra de L3 como ele pretende gerar emprego, debelar a inflação.
Foi tempo suficiente, entretanto, para fazer o que ele e seu partido sempre fizeram, que se revela uma compulsão criminosa e anacrônica: abrir as portas do Estado e desmontar as boas iniciativas para saciar a pior política e os piores políticos.
Mais recente, a mudança no Marco Legal do Saneamento, de tão pouca prática, mas de inegável resultado positivo. Interrompe-se um processo, atraindo a corrupção – ela, de novo – ao permitir que estatais de água e saneamento voltem a contratar projetos de tratamento de esgoto sem licitação, com a complacência absurda de nada lhes exigir no campo da gestão eficiente e comprometida com a população, como prevê a lei aprovada em 2020.
É o voluntarismo ideológico acima do interesse público, atrasando projetos pelo país. Antes, ainda na transição, ocorreu a votação na calada da noite de 13 de dezembro para mudar a lei de estatais, sancionada por Michel Temer, a fim de colocar Aloízio Mercadante no BNDES.
Já nos 100 dias, o PC do B questiona o STF sobre a lei, mente ao dizer que impede a nomeação de políticos e criminaliza a política, Lewandowski dá liminar, e breve o Senado completará a violação iniciada pela Câmara, compromisso de Rodrigo Pacheco em troca do apoio de L3 para sua reeleição. A quarentena antes de 36 meses será de 36 dias apenas.
Querem mais? Os satélites amestrados do PT (PSOL e PCdoB) dizem que a Lava Jato só produziu ilegalidades. Entraram no STF, com o argumento do Estado de Coisas Inconstitucional (ECI), para anular 7 bilhões de reais em multas devidas por empreiteiras penalizadas pela lei na Lava Jato. Alegam que empregos foram destruídos, “esquecem” a lei anticorrupção sancionada por Dilma que pune empresas corruptas.
Empregos foram destruídos pela corrupção, e se os acordos de leniência têm problemas na elaboração podem ser questionados, não considerados ilegais e frutos da “criminosa” mente de todos os procuradores. Empresas sem a prática contumaz da corrupção, sem o exercício perene de uma contabilidade nociva e fraudulenta como a da Odebrecht, se transformaram e continuam no mercado, deram a volta por cima.
O toque antirrepublicano – junte a provável indicação de Cristiano Zanin para o STF – nos 100 dias marca indelevelmente esse início de gestão na qual L3 não é mais “o cara,” e se o Brasil Voltou com a reorganização da institucionalidade destruída pelo populista anterior, como diz o slogan dos 100 dias copiado de Temer, voltou também o Estado inchado, mais perdulário, generoso com os desmandos, sinecuras e favorecimentos aos de cima, mantendo-se lento, omisso, burocrático e injusto com os de baixo.
Para esses, o discurso de “nós contra eles” e as eternas políticas compensatórias.