Bittar aponta hipocrisia de ONG ambientalista que recebe dinheiro de país altamente poluente

A sua ONG já fez alguma nota, algum vídeo público, contundente, a países como Noruega e Alemanha, por aumentarem a queima de combustíveis fosseis? Fez isso?
Reunião da CPI das ONGs na oitiva de Humberto Ditt, do IPE. Foto: Geraldo Magela.

O relator da CPI das ONGs, senador Márcio Bittar (União Brasil-AC), criticou nesta terça-feira, 3, a hipocrisia de entidades ambientalistas como o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), que recebeu R$ 45 milhões da Noruega por meio do Fundo Amazonia, um dos países desenvolvidos que mais jogam CO2 (gás carbônico) na atmosfera no mundo.

Márcio Bittar disse que as ONGs que atuam na Amazônia acham normal as críticas feitas ao Brasil, mas os países desenvolvidos, citando a Alemanha, a Noruega, Estados Unidos e Inglaterra, não são cobrados pela falta de compromisso com metas feitas no Acordo de Paris para as mudanças climáticas.

Pelo contrário: estão poluindo a atmosfera cada vez mais, com o anúncio recente de novos projetos de exploração de petróleo. E a Inglaterra anunciou recentemente que não irá cumprir metas porque irá sacrificar o povo inglês com a redução de atividades econômicas.

O relator disse ainda ser uma “vergonha” a política Bolsa Floresta do Ministério do Meio Ambiente para destinar R$ 200 a famílias da Amazônia que preservarem o bioma.

“É incrível que em nome da humanidade a região e seu povo são chamados a pagar um preço, sempre na ideia da compensação, e aí quando a compensação vem, no máximo chega a 200 reais? Um valor que a pessoa gasta só no deslocamento para receber, “afirmou.

Humberto Ditt disse não considerar imoral receber recurso de pais alamente poluente. Foto: Geraldo Magela.

Ao diretor-executivo do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), Eduardo Humberto Ditt, o relator disse que esse fato “não chama a atenção de vocês, o que chama a atenção de vocês é a Amazônia não emitir CO2, mas a Alemanha pode, a Noruega pode, a Inglaterra pode, os Estados Unidos podem.”

Com sede na cidade de Nazaré Paulista (SP), a entidade conduziu processo de criação de Unidades de Conservação no Baixo Rio Negro, inclusive como organizador de outras ONGs atuantes desse processo.

Ela teve acesso a recursos do Fundo Amazonia. Ditt acredita que a emissão de gás carbônico no planeta é um dos principais motivos do aquecimento global.

“Do Brasil todo mundo faz crítica, mas para os países que pagam ONGs é um silencio absoluto! A Inglaterra, uma das maiores financiadores dessas entidades, anunciou, como a França no passado, que não vai cumprir com metas que ela estabeleceu porque irá sacrificar atividades econômicas e em consequência o povo inglês. E anunciou 100 novas licenças de perfuração de petróleo,” disse o relator, citando a hipocrisia do país ao lembrar ainda que o rei Charles, ao tomar posse, pediu para o presidente do Brasil cuidar da Amazonia.

À pergunta do relator, Humberto Ditt disse não se lembrar se o IPE, como entidade ambientalista, já tinha feito alguma nota ou vídeo público, contundente, a respeito do descumprimento do Acordo de Paris pelos países desenvolvidos. O senador Márcio Bittar também perguntou se ele não considerava “imoral” receber dinheiro dos maiores poluidores do planeta.

“No meu ponto de vista não há nada de imoral, não vejo problema algum, porque as regras estão muito claras,” respondeu o convidado, ao que Bittar respondeu: “O fato de as regras serem claras não significa que elas sejam morais. O fato de você ter uma prestação de contas que não enseja uma denúncia na polícia não significa que seja moral. O senhor sabe que a Noruega sozinha joga muito mais CO2 no planeta do que a Amazonia inteira, o senhor sabe disso?”

Veja mais sobre a condução do relator:

Márcio Bittar – O senhor faz parte da corrente de pensamento que o aumento de CO2 no planeta aumentar a temperatura global. Se isso é verdadeiro, não é imoral receber dinheiro de países que queimam combustíveis fosseis, como é o caso da Noruega, que o Senhor recebeu 45milhões de reais do Fundo Amazonia? Ou não?

Humberto Ditt- Para responder essa pergunta tem de compreender como é que surgiu o Fundo Amazonia E o histórico da agenda de clima. Vejo a estratégia do Fundo Amazonia como um importante mecanismo e a gente deveria aproveitar ao máximo os recursos para trazer benefícios em termos de redução de emissões na Amazônia. Com relação a Noruega, cabe aos países se posicionarem nas conferências do clima e cobrarem posição sobre redução de combustíveis fosseis.

Márcio Bittar – Mas a pergunta é clara. Então o senhor não acha que é imoral receber dinheiro de um país que queima combustíveis fosseis, como a Noruega, cujo PIB per capita é um dos maiores PIBs do planeta, de quem não se vê nenhum movimento para redução da emissão, ao contrário, continuam autorizando novas licenças de petróleo, e a sua entidade continua recebendo dinheiro e não há imoralidade nenhuma em compreender e defender que o aumento de CO2 no planeta é responsável pelo aquecimento global e ao mesmo tempo receber dinheiro de um país que queima combustível fóssil, não tem problema algum?

Humberto Ditt – No meu ponto de vista senador, não há nada de imoral vejo problema algum, porque as regras estão muito claras.

Márcio Bittar – o fato de as regras serem claras não significa que elas sejam morais. O fato de que você ter uma prestação de contas que não enseja uma denúncia na polícia não significa que seja moral. O senhor sabe que a Noruega sozinha joga muito mais CO2 no planeta do que a Amazonia inteira, o senhor sabe disso?

Márcio Bittar – Sabendo que a Noruega sozinha, um país pequenininho, joga muito mais CO2 no planeta, é interessante porque as ONGs que se dizem preocupadas com clima e meio ambiente não tem nenhuma restrição aos países que mais poluem o planeta segundo a própria ótica delas.  A Alemanha sozinha joga mais CO2 no ambiente global do que o Brasil inteira e está emitindo carvão.  O senhor não acha que mereceria um movimento de repúdio, alguma manifestação contra das ONGs como tem na Amazônia?

Humberto Ditt – Senador, eu acredito sim que todo país que recorre a uso de combustíveis fosseis deve ser pressionado para que mude a forma de gerar e consumir energia, e assim deve ser feito com Alemanha ou qualquer outro país, seja de termelétrica, exploração e petróleo; temos de valorizar atividades que sejam referentes à energia limpa.

Márcio Bittar – A sua entidade já fez alguma nota, algum vídeo público, contundente, a países como Noruega e Alemanha, não só por continuarem, mas também por aumentarem a queima de combustíveis fosseis. Já fez isso?

Humberto Ditt – Senador, não me recordo neste momento…

Marcio Bittar. – Do Brasil todo mundo faz crítica, mas para os países que pagam ONGs é um silencio absoluto! Na mesma semana, a Inglaterra, que é uma das fomentadoras dessas entidades, anunciou, como a França no passado, que não vai cumprir com as metas que ela ajudou a estabelecer porque não tem como ajudar a resolver o problema do clima global devido às dificuldades do povo inglês. Iria diminuir as atividades econômicas.

Anunciou e ao mesmo tempo soltou 100 novas licenças de perfuração de petróleo. Essa atitude da Inglaterra que tem o rei que ao tomar posse pediu para o presidente do Brasil que tomasse conta da Amazônia não é uma tremenda hipocrisia?

Humberto Ditt – Não me cabe falar sobre o posicionamento da Inglaterra, do Reino Unido, o que for…

Márcio Bittar – Deixa ver se eu entendi seu Eduardo. A Inglaterra tem o direito de falar sobre o Brasil.  Ela tem o direito inclusive de receber o presidente da República, que não foi o meu, mas foi eleito, é do Brasil, e perguntar se ele está cuidando da Amazonia. Praticamente orientando sobre a Amazônia, e nós brasileiros e entidades ligadas à questão do clima não deveriam se posicionar quando a Inglaterra aumenta 100 novas licenças de perfuração de petróleo e ao mesmo tempo anuncia que não vai cumprir as metas estabelecidas na COP?

Humberto Ditt – Acredito que o que precisa se buscar são oportunidades de diálogo para que cada país seja devidamente cobrado dos outros sobre as emissões, que são um problema que afeta a todos. As conferências do clima são oportunidades para dialogarem, a gente sabe que não existe uma solução senão o problema estaria sendo resolvido já, mas existem esforços e tudo isso atrelado a um processo de negociação que envolve certamente um jogo de interesses e eu entendo que as NDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada) são um modo de cada país estabelecer medidas.

Márcio Bittar – Mas o senhor compreende o fato das ONGs recebem dinheiro de entidades internacionais do Canada, EUA, Inglaterra, pressionando sempre o Brasil através delas, segundo eles com a preocupação das mudanças climáticas e ao mesmo tempo descumprem os acordos que eles próprios fizeram e não são criticados.

O senhor há de concordar que o fato de as ONGs não fazerem as críticas, para muita gente, é porque recebem dinheiro deles.

Após citar a renúncia dos compromissos feitos em Paris pela Inglaterra e Alemanha, o relator da CPI citou o representante do clima dos Estados Unidos, John Kerry, que recentemente “foi suavemente cobrado pelo ministro da Fazenda e governador do Pará, dizendo que o brasil sozinho não tinha como dar conta das tarefas colocadas nas COPs.”

John Kerry teria desviado a pergunta, relatou o senador, e dito que pais nenhum do mundo tinha como bancar sozinho a mudança climática. “E o presidente Joe Biden, na mesma ocasião, anunciou mais novas perfurações de petróleo no Alaska. Assim como no caso da Inglaterra, e na época do Barack Obama, que chegou a autossuficiência de petróleo e gás tirando e xisto. Não é uma imensa contradição e hipocrisia de uma país que pressiona o Brasil e ao mesmo tempo aumenta a pressão do petróleo sem pedir licença para ninguém?,” questionou Bittar.

Humberto Dipp disse que o IPE cumpria com seu papel de reduzir o desmatamento na Amazônia, ao que o senador se contrapôs demonstrando que “é uma conta ridícula” porque os países ricos estão jogando no planeta mais CO2 do que todos, a Alemanha emite mais do que o Brasil inteiro.

“Então, qual é a lógica? Acham que estão com o dever cumprido, para diminuir o CO2 do Brasil, mas eles não estão preocupados com isso. Eles se sentem liberados para aumentar o quanto queiram! Você diminui um delta e eles aumentam 10 deltas. Isso que me parece hipocrisia, fogem do combinado nas COPs e não acontece nada,” disse Bittar.