O advogado Antonio Kakay cita na carta que vazou para o blog da Andrea Sadi o isolamento a que está se impondo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em nada parecido com o “animal político”, surrado clichê com o qual aliados e mesmo políticos da oposição o retratavam.
O amigão de poderosos diz que Lula não recebe deputados ou senadores, algo que antes mesmo dele colunistas de política aqui e acolá relatavam. E todo o caminhar de seu governo até agora evidencia a desatenção com essa tarefa, rotina que ele prometera adotar quando dos embates da sua turma com Lira, nunca cumprida.
Por vários aspectos o governo Lula 3 tem semelhanças com o Dilma 2, e aqui realço a negligência, o comportamento “esnobe” para usar termo queixoso dos políticos, que existia na Presidência de Dilma Rousseff. O filme se repete. Ela não suportava receber políticos. Nem mesmo os do PT.
Lembro bem do diferenciado senador petista Eduardo Suplicy, que permaneceu por 24 anos no Senado – perdendo a eleição em 2014 para José Serra – , implorar por uma audiência com a então presidente, a partir de 2013, para tratar da lei que institui a Renda Básica de Cidadania, ideia que o candidato @cirogomes
incorporou a seu projeto de governo na campanha de 2022. Suplicy, do qual nunca se soube da utilização do cargo para proveito próprio, para desviar emendas – que, aliás, ele abria mão, era um senador de opinião e propostas – não queria pedir emprego para filhos ou uma mutreta em estatal. Um senador do mesmo partido, nunca atendido durante o mandato!
Foram três anos de tentativas e mais de meia dúzia de cartas enviadas a Dilma Rousseff para que ela o recebesse. Agendava e cancelava. Agendava e cancelava. Renda mínima. Social, caro para um partido que se diz de esquerda, aspas a vontade.
Dilma Rousseff o recebeu somente no ano de 2016, pouco antes do Senado decidir a favor do impeachment e afastá-la por 180 dias do cargo até o processo de afastamento definitivo ser concluído. Fraca, sem apoio político e popular, de nada adiantou receber o senador Suplicy no Alvorada.
Logo estaria fora do cargo, o que, não se duvide, pode acontecer com Luiz Inácio Lula da Silva. Ele que se cuide. As circunstâncias são outras, o contexto é outro, mas tudo mudou para nada mudar (O Leopardo, de Giuseppe di Lampedusa).
Com esse pessoal que o cerca, de Rui Costa a Fernando Haddad, para citar os que detém cargos cuja natureza das funções se sobressaem na dinâmica política estabelecia com o Congresso, a correnteza de crises se manterá, o conjunto da obra sem foco do governo deixa a desejar.
Com o adicional esforço da primeira-dama Janja que agora precisa de novos eletrodomésticos e móveis acima de R$ 1 milhão, sem que ninguém mais mantenha segredo de sua enorme responsabilidade pelo isolamento do marido-presidente.
Não ficando para trás a loquaz capacidade presidencial de falar besteira e coisas sem sentido para fugir da realidade e da responsabilidade, por exemplo domar a inflação.
É bom Lula colocar as barbas de molho, e agir para evitar que sua popularidade despenque ainda mais. Impeachment é fundamentalmente político.