Há pouco mais de um mês, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) voou até o Peru para resgatar a ex-primeira dama do Peru, Nadine Heredia, condenada a 15 anos de prisão por lavagem de dinheiro em um caso envolvendo a construtora Odebrecht e o governo do ex-presidente da Venezuela Hugo Chaves.
A rápida ação do governo de Lula da Silva impediu que Nadine fosse parar atras das grades. Ela teve ajuda também da presidente do Peru, Dina Boluarte, que concedeu salvo conduto para permitir que Nadine deixasse a embaixada brasileira em Lima, onde havia se abrigado momentos antes de receber a sentença, no dia 16 de abril, e fugisse para o Brasil, com um filho adolescente. Seu marido, o ex-presidente peruano Ollanta Humala, está preso.
O amparo dado pelo governo brasileiro a alguém que tecnicamente não se enquadra em refugiada política para concessão do asilo diplomático, segundo especialistas, é objeto de audiência pública com o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, no próximo dia 20, solicitada pelo senador Sergio Moro (União-PR). A previsão é de que inicie às 9h30 na Comissão de Relações Exteriores (CRE).
Entrevistado pela GloboNews sobre o uso da aeronave da FAB para tirar Nadine do Peru, o ministro Mauro Vieira disse à época que “o avião da FAB existe para servir ao governo brasileiro em ações dos mais diferentes aspectos e das mais diferentes motivações. Nesse caso específico foi a única forma em que havia de retirá-la com segurança e rapidez do país, com a concordância do governo peruano.”
Mauro Vieira também disse que o asilo diplomático foi concedido a Nadine por “razões humanitárias.” A condenada ex-primeira dama não estaria bem de saúde.
A transação de refúgio a Nadine e seu filho gerou fortes criticas na imprensa peruana, levantando questionamentos sobre os fundamentos jurídicos e diplomáticos da concessão, além de uso de recursos públicos.
PT pediu doações
Investigações feitas no Peru e no Brasil apontaram que Nadine tinha papel decisivo dentro do seu partido para prover de recursos as campanhas do marido Humala. Ela se encontrava inclusive em um apartamento pouco mobiliado, utilizado para encontros suspeitos. Seu marido teria recebido US$ 3 milhões da Odebrecht e outros US$ 200 mil de Hugo Chávez para financiar suas campanhas presidenciais de 2006 e 2011. Ela também teria recebido recursos.
Humala foi eleito presidente em 2011 e permaneceu no cargo até 2016. O casal chegou a ser preso em 2017. Naquele ano, o ex-diretor da Odebrecht no Peru afirmou que a empresa fez doações a Humala a pedido do PT, o que é relatado em duas passagens do livro da jornalista Malu Gaspar, “A Organização.”
Opositores venezuelanos
O senador Sérgio Moro também quer ouvir o ministro sobre eventual atuação do Brasil na operação de retirada de quatro opositores venezuelanos ligados à líder María Corina Machado, que estavam asilados na embaixada da Argentina em Caracas.
O grupo foi resgatado pelo governo dos Estados Unidos sem aviso prévio ao Brasil, embora os asilados estivessem sob custódia brasileira durante parte do processo. A atuação do Itamaraty no episódio e seus impactos nas relações diplomáticas são os esclarecimentos que a Comissão pretende obter.
Com informações da CRE.