As declarações escatológicas do presidente Jair Bolsonaro tem incomodado muitas pessoas. Até eleitores dele. Conheço um punhado de gente que por rejeitar voto nulo ou abstenção e cerrar fileiras no antipetismo, resolveu apostar no capitão. Se arrependem a cada santo dia.
É certo que muitos conheciam o perfil do parlamentar que ao longo de 28 anos na Câmara dos Deputados se alguma expressão teve foi justamente por falar demais. Mais o que não deve do que o que deve. Muitas verdades foram ditas, muitas mentiras também, e agora na Presidência da República, instituição maior do país, o que se consagra é o mitômano desrespeitoso e provocador de conflitos e antipatias praticamente diários.
Um ditado diz que o peixe morre pela boca. Jair Bolsonaro, que não é nenhum tubarão, acabará morrendo também. Em oito meses de governo, a imprensa coleciona pacote de manifestações distorcidas que fazem o presidente da República ser hoje o maior produtor e propagador de fake news.
Outras, adicionadas a estas, viraram motivo de piada internacional, como a receita de fazer cocô dia sim e dia não para ajudar o meio ambiente.
Propagar mentiras e destratar adversários imaginários ou reais tem sido a tônica de Bolsonaro, que não teve pudor de chamar de mentirosa a jornalista Miriam Leitão, acusando-a de pegar em armas e nunca ter sido torturada. O ex-gestor do Inpe, Ricardo Galvão, foi acusado de estar a serviço de Organização Não Governamental (Ong), tudo porque Bolsonaro não admitiu os números do desmatamento apresentados pela instituição. Por aí vai.
A acusação da vez recai sobre as Ongs que operam em parceria com o poder público projetos na Amazônia. Disse Jair Bolsonaro – que em mais de uma ocasião tratou com desprestígio e preconceito essas entidades – que em função do seu governo ter cortado recursos para Organizações Não Governamentais elas podem estar por trás das ações criminosas que fazem a Amazônia arder em chamas.
A suspeita generalizada lançada pelo Presidente veio a público depois de noticiado que o número de foco de queimadas neste ano já é o mais alto no Brasil nos últimos sete anos. Em Rondônia, as queimadas aumentaram 190% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Jair Bolsonaro não apenas é mitômano como tem capacidade criativa fora do comum para abrir frente de batalha contra distintos setores, seguidamente, algo desaconselhável em política. Os bolsonaristas roxos acham que isso não é problema algum, muito pelo contrário. Ignoram que na democracia, mesmo distorcida e desigual como é a do Brasil, ninguém governa sozinho.
Bolsonaro já se indispôs com estudantes, profissionais da educação, especialmente do ensino superior, com ambientalistas, jornalistas, parlamentares, empresários, produtores culturais, cineastas, governadores, países europeus, delegados da Polícia Federal e auditores da Receita Federal.
Acabará isolado. A contumaz escatologia tem importância mas não é determinante. É ingrediente destemperado da personalidade do capitão, na qual habita alguma insegurança – não foi outro o sinal ao enfatizar “quem manda sou eu” e “não sou presidente banana,” quando quis fazer trocas na Polícia Federal e deu com os burros n’água.
É patente que o figurino de líder da maior instituição do país decididamente não lhe cabe, pois para isso se exige pronunciamento solene, embasado e apaziguador. Morrer pela boca parece ser questão de tempo para Jair Bolsonaro.