Blog da Mara
O ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) anunciou sua demissão do cargo, e acusou o presidente Jair Bolsonaro de interferência na Polícia Federal para ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência. Ele criticou a insistência do presidente Bolsonaro para a troca da direção geral da Polícia Federal sem apresentar motivos aceitáveis.
“Não tenho condições de persistir aqui, sem condições de trabalho,” disse, acrescentando que não são aceitáveis as indicações políticas para a Polícia Federal e que houve violação de uma promessa “que me foi feita inicialmente de que eu teria carta branca.”
Moro disse ter o dever de proteger a instituição da PF, por isso afirmou ter buscado uma solução alternativa para o comando da corporação, o que não conseguiu.
Ele enalteceu seu papel na busca pela autonomia da Polícia Federal e destacou essa característica da corporação nos governos dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, ambos do PT.
O ex-juiz da Lava Jato disse que nunca houve condição para ser ministro em troca de indicação para uma vaga de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal). A ideia, segundo Moro, era buscar um nível de formulação de políticas públicas, de aprofundar o combate à corrupção e levar maior efetividade em relação à criminalidade violenta e ao crime organizado, registra o jornal Folha de São Paulo.
Segundo a revista Veja, a gota d’ água para pedir demissão foi o pedido de Bolsonaro para que Moro interferisse no inquérito que envolve o filho Carlos Bolsonaro.
A repercussão da saída do ex-juiz da Lava Jato é grande. O líder religioso Silas Malafaia, em rede soci al, disse que “é aliado de Bolsonaro, não alienado” e que o presidente não teve habilidade politica, e por ter dado carta branca a Moro essa demissão “é inadmissível.”
“Ficaria honrado com sua presença em meu governo porque aqui vossa excelência, tem carta branca sempre”, disse no twiteer o governador do Rio de Janeiro Wilson Witzel, após lamentar a saída de Moro.
O cientista político e professor da FGV Marco Antonio Teixeira disse que Bolsonaro acaba de “construir seu maior adversário político” em análise feita para o jornal O Estado de São Paulo.
“Após quase 15 meses como ministro da Justiça, Sergio Moro deixou o governo de forma inteiramente compreensível se considerarmos que ele não teve a autonomia e muito menos condições de cumprir o papel que lhe foi prometido quando aceitou o cargo ainda em novembro de 2018,”diz Teixeira.
Sobre a demissão de Maurício Valeixo da direção geral da PF, Sergio Moro disse que não é verdade que Valeixo foi exonerado “a pedido.” “Não existiu nenhum pedido formal, fui surpreendido, achei ofensivo. Isso de fato não é verdadeiro”, disse.
Segundo Moro, Valeixo recebeu uma ligação à noite do governo, comunicando seu desligamento. “Fazer o quê, né?”, disse o diretor-geral da PF a Moro após o comunicado telefônico. Nesta manhã, Bolsonaro afirmou na porta do Palácio da Alvorada que a imprensa errou tudo sobre o caso da exoneração de Valeixo.