Uma certa vez, e já se vão pelo menos três décadas, li um estudo da nossa excelente e admirável Embrapa sobre o aproveitamento do babaçu, espécie de palmeira comum na região amazônica. Encantada fiquei com a riqueza que representa. Não tenho mais os exatos números da sua utilidade.
O que importa é que mais de uma centena de produtos, seguramente muito mais, podem ser industrializados, no campo dos fármacos, cosméticos, lubrificantes e alimentação. O estudo apontava que a faixa de terra da região da BR-364 em direção a Guajará-Mirim, estendendo-se mesmo até o Acre, é propícia para o cultivo da palmeira.
Quando por lá andamos, as vemos em áreas de pastagem, e muitos fazendeiros não hesitam em eliminá-las! Raras experiências que demandaram esforço árduo ousaram explorar o babaçu, para dar renda a pequenos e poucos agricultores de Rondônia.
O babaçu é uma riqueza de valor econômico incalculável, uma fonte de bioenergia que já deveria estar sendo utilizada em área tão apropriada, e que colocaria o país sob holofotes da vanguarda da energia sustentável, inovadora. De tudo se aproveita no babaçu. Então, por que não há linhas de financiamento, pesquisa e ciência para o cultivo e beneficiamento da palmeira do babaçu como há para a pecuária?
Por que há desprezo pela potência econômica da palmeira e de muitas outras fontes naturais de energia e por toda a riqueza florestal da Amazônia? Por que não há políticas públicas para desenvolver a Amazônia de maneira ecologicamente correta, economicamente viável e socialmente justa?
Se a Amazônia representa 60% do território nacional, por que nunca foi nem é disciplina obrigatória nas escolas por um tempo em cada modalidade de ensino, para que brasileiros a reconheçam e a valorizem de verdade conforme propôs o ex-fazendeiro João Meireles Filho em seu “Livro de Ouro da Amazônia ?.”
O mundo, não é de hoje, enfrenta escassez de energia, busca alternativas e o gigante dos trópicos tem tudo mas falta o de sempre, desde o início de sua descoberta: uma elite comprometida de fato com o país e com o multifacetado povo brasileiro.
Enquanto a elite não proteger a floresta em pé, cuja riqueza é infinitamente superior às cabeças de boi, que reclama mais água e espaço para crescer, continuaremos o Brasil que existe não para si mesmo mas para atender reclamos alheios, permanecendo historicamente um proletariado externo do mercado internacional, como denunciava um dos criadores do Proálcool, o professor José Bautista Vidal, em seu livro “Soberania e Dignidade.”
Refleti de novo sobre isso ao assistir o debate sobre o Fundo Amazônia promovido pela ministra do STF Rosa Weber, relatora de uma ação que acusa de omissão o governo Bolsonaro. De que serve o riquíssimo Brasil de abençoado ativo solar, mineral, ambiental e hidrográfico se não existe para si mesmo, com um projeto de nação que persiga a prosperidade, soberania e dignidade aos brasileiros?
Continuaremos, desafortunadamente, a ser um moinho de gastar trabalhadores, a banalizar a violência, a deixar ao Deus dará crianças e jovens pobres da periferia, desassistidos de tudo, violentados ou vitimados pelas balas, especialistas em eliminar esperanças, em se especializar na tecnologia da corrupção, na qual se processam engrenagens velhas e novas para o incessante saque ao tesouro público.
Não é pessimismo, é constatação: se existíssemos para nós mesmos, não toleraríamos mais o estoque de pilhagens às riquezas naturais feitas por séculos, sob a cumplicidade da elite dirigente e empresarial. Ao morticínio perpetrado contra os pobres, negros e índios, a desatenção assustadora e impactante dispensada às crianças, jovens e mulheres.
Não toleraríamos a ausência do caminho da prosperidade para todos.
Entendam os que se negam a entender. Não é culpa da Noruega e Alemanha, patrocinadores do Fundo Amazônia.