Recursos biológicos devem ser olhados como fontes de riqueza

O pirarucu e o tambaqui poderão ser conhecidos e consumidos no mundo todo.
Lovejoy: peixes da região podem ser consumidos no mundo como o bacalhau e salmão. Foto: Divulgação.

No Amazonia 21+, biólogo Thomas Lovejoy defende engajamento da população na preservação da região.

Desde 1965 na Amazônia, para onde veio fazer doutorado e nunca mais saiu, o pesquisador Thomas Lovejoy, especializado em biologia tropical, disse durante a exposição “A Amazônia no contexto internacional”, painel que integra o Fórum Amazônia 21+, que a população amazônica deve se engajar na preservação e conservação do meio ambiente e observar “os recursos biológicos da Amazônia como fontes de riqueza.”

“Como por exemplo produzir em escala o pirarucu e tambaqui, que poderão ser conhecidos e consumidos mundialmente como o salmão e o bacalhau”, disse o biólogo. Há um potencial gigante para exploração da biodiversidade da região, e toda a biodiversidade “representa uma biblioteca viva para as ciências.”

“Temos este desafio e podemos revolucionar as ciências médicas,” disse Lovejoy, opinando ter certeza de que as nações soberanas irão se engajar com o Brasil para um futuro sustentável na Amazônia.

Além de Lovejoy, participaram do painel desta quinta-feira (5) a tarde o embaixador Rubens Barbosa, que exerceu as funções nas embaixadas de Londres e Washington e Carlos Lazary da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).  O painel foi  mediado por Carlos Abijaoadi, da Confederação Nacional da Indústria.

A Amazônia é um foco de debate no Brasil e no exterior, e tem papel geopolítico e estratégico para o estado brasileiro. Pesquisa recente da CNI mostra que 77% dos brasileiros se preocupam com a floresta e 95% acreditam que é possível proteger o meio ambiente e desenvolver ao mesmo tempo a região amazônica.

Lazari explicou que a OTCA é responsável pelos tratados e o desenvolvimento harmônico baseado no conceito de desenvolvimento sustentável, que consagra o respeito absoluto da soberania. O bioma amazônico é um só. E dele se exige uma só linguagem, de convergência e harmonização diante de uma agenda positiva, no sentido de fortalecer as instituições internacionais nos seus quadros para que as políticas se transformem em atividades permanentes.

Alguns projetos desenvolvidos pela entidade na área de biodiversidade foram apresentados por ele. Outro trata da formação da rede hidrológica da Amazônia, para criar uma rede de estações de medições de monitoramento da água. O terceiro projeto tem por objetivo montar sistemas nacionais de informação e controle de animais silvestres, que permitirá um trabalho de combate ao comércio ilegal de espécies animais ameaçadas em extinção.

Provocados, estamos reagindo 

O embaixador Rubens Barbosa disse que o debate realizado pelo Fórum Amazônia 21+ coloca a região, pela primeira vez na história, no centro das preocupações políticas, sociais e econômicas de nossa vida. “Eu não lembro em nenhum outro momento preocupação assim”, avaliou.

“ Acho que é algo positivo. Agora, porque estamos sendo provocados, estamos reagindo, e positivamente. Mais cedo ou mais tarde vamos mudar de posição porque isso interessa a todos, sobretudo a 23 milhões de pessoas que moram na Amazônia, ” disse o embaixador.

Rubens Barbosa respondeu ao questionamento de como conciliar as preocupações do meio ambiente, atração de investimento e inovação. “O fato de que a política ambiental é global, tem a ver a percepção externa do Brasil frente ao restante do mundo. A reconstrução da Europa tem a ver com a agenda ambiental, assim como nos Estados Unidos, caso se confirme a eleição de Joe Biden”, ressaltou.

O Brasil volta a ser foco de preocupações no exterior porque alterações no clima passaram a ser uma preocupação global. O Brasil teve uma participação importante nas questões de preservação desde a Rio 92, mas diante das novas políticas e ideias ambientais o país perdeu credibilidade junto às demais nações.

“É necessário mudar a política brasileira nas questões de preservação para atrair novos investimentos. Na década de 80, a sanção era apenas política. Agora existe o apelo do consumidor, e também na mudança dos acordos comerciais, com ideias mais sustentáveis”, explicou o embaixador.

O professor Lovejoy apresentou uma experiência científica de como a Amazônia funciona e como ela está ligada ao clima mundial. A umidade que vem da Amazônia se recicla em 5 ou 6 vezes e cria o sistema de rios da região. “O desmatamento pode causar um ciclo degradado, que resulta na diminuição de chuvas para a região”, disse.

Os debates sobre os desafios e as soluções para a Amazônia acontecem a partir de quatro eixos temáticos: negócios sustentáveis, cultura, financiamento dos programas e ciência, tecnologia e inovação. O último dia do evento é nesta sexta-feira (6), e conta com tradução simultânea em inglês e espanhol. Todas as palestras ficam gravadas no canal do Youtube da CNI.