Entrevista: Senador Confúcio Moura (MDB-RO)
A disputa pela sucessão do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) na presidência da Câmara dos Deputados agita e altera posições políticas, e uma delas será a mudança no comando nacional do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), caso o deputado Baleia Rossi (SP), atual presidente, vença a eleição que disputa com o deputado Arthur Lira (PP-AL).
Vice-presidente da legenda, o senador Confúcio Moura (RO) terá de assumir a presidência do partido em ano pré-eleitoral, ainda em ambiente de pandemia do coronavírus e com debilidade na economia. O Blog quis saber se o senador, com extensa e bem sucedida trajetória política, irá enfrentar a missão, cumprida em outro momento, aliás, por um político também de Rondônia, o então senador Valdir Raupp. O senador concedeu entrevista ao Blog, por telefone, na manhã desta quarta-feira, 20:
Blog da Mara – Senador, a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados ocorrerá em 1º de fevereiro, e um dos candidatos, o deputado Baleia Rossi, deve deixar a presidência do MDB caso seja vitorioso. O senhor, como vice-presidente do partido, assume a missão, está preparado?
Confúcio Moura – Se ele for eleito, terei que assumir a presidência do partido, e numa missão muito desafiadora, com eleição geral no próximo ano e sem coligação partidária. Teremos de buscar gente, filiar pessoas, para ter quantitativo relevante e voltar a reassumir o protagonismo do MDB na Câmara dos Deputados. Não darei conta de assumir tudo sozinho, na tarefa de organizar o processo e buscar novos nomes. Passou a onda de negação da política, estamos vendo que pessoas que negam a política não dão conta do recado. A política bem feita, com quem tem experiência, é boa. Então vamos em busca de bons quadros, buscar o que o MDB sempre teve, maior número de prefeitos, vereadores, deputados estaduais. A vida do MDB e a história do MDB mostram que há muitas experiências, em prefeituras, governos estaduais, grandes colaboradores como Michel Temer e outros.
Blog da Mara – o senhor gostaria de ver o partido disputar a presidência da República?
Confúcio Moura – Eu gostaria muito de ter um candidato em condição de disputa, para poder puxar o partido. Nunca colocamos candidato a presidência da República, preferimos sempre no passado a ter uma confederação de partidos, prefeitos, e não ligar para presidente da República. Se não tiver nomes, vamos buscar novos nomes. É difícil administrar o Brasil, mas um caminho necessário é centrar fogo na educação, diminuir o déficit fiscal, aumentar o orçamento para investimentos e reduzir despesas. É preciso investir, fazer obras, hoje não sobra nada praticamente para isso.
Blog da Mara – Estamos na metade do governo Bolsonaro. Como o senhor avalia até o momento?
Confúcio Moura – O ambiente de negócios ficou muito prejudicado durante a pandemia com o fechamento de áreas, e só isso em si causou um clima de depressão econômica que obrigou o governo e a emitir créditos extraordinários, que obrigou a mudar o orçamento para fazer pagamentos, para enfrentar este momento. Com mais de 300 bilhões de reais em auxilio emergencial o país começou a reagir, o pais saiu da recessão em dezembro e o déficit fiscal deu uma aliviada. A vacina era uma expectativa esperada, o crescimento positivo de 2,5 a 3 por cento gera uma confiança no mercado. Há um déficit fiscal de 800 bilhões de reais, mas tudo pode ser possível numa crise, e mesmo sem poder, numa crise, havendo o cenário que não inspire queda na incidência da covid-19, e sem dinheiro para investimentos, o governo se vê obrigado a estender o decreto de calamidade pública e providenciar a emissão de crédito extraordinário mesmo com o risco fiscal, no cenário de falta de recursos.
Blog da Mara – Preocupa a falta de vacina para a imunização de milhões de brasileiros?
Confúcio Moura – Preocupa muito. E a polarização política em torno da vacina prejudicou muito. Um trabalhava para promover a Coronavac, e o outro a vacina da Fiocruz, a Astrazeneca, e agora chegou a tese que o governo teve de abraçar a vacina do Butantan, esqueceu de comprar agulhas e fazer a antecipação que outros países fizeram. Eles estão com estoque garantido para fazer a vacinação da população, e aqui a Fiocruz diz que só poderá fornecer alguma coisa a partir de março ou abril. Eu pergunto: como vamos chegar a vacinar 160 milhões de pessoas sem ter garantia de fornecimento robusto da vacina? Essa polarização prejudicou demais. Infelizmente nada é suficiente ainda para evitar o uso da máscara e o isolamento social. Isso vai continuar.
Blog da Mara – O MDB lançou a poucos dias a senadora Simone Tebet (MS) candidata a presidência do Senado. Ela é uma candidatura competitiva?
Confúcio Moura – A senadora Simone Tebet está na disputa polarizada com Rodrigo Pacheco (DEM), que saiu candidato cedo, é o nome do senador Davi Alcolumbre, atual presidente, e de Jair Bolsonaro. A Simone saiu em desvantagem, muitos partidos já estavam com o Rodrigo, mas na reta final de campanha muita coisa pode acontecer, e a eleição se resolve nas últimas 48 horas. Muita coisa pode acontecer, como o desgaste maior do presidente junto a opinião pública. Estamos apostando nos erros, no desgaste do Davi também, que transparece por vezes estar usando essa disputa para promover sua indicação para um ministério e senadores que fizeram compromisso podem recuar. A Simone é uma senadora competitiva sim, é um nome preparado, comprovado, de discurso forte, corajosa, determinada. E o fato de ser uma mulher na disputa da presidência do Senado é simpático, eu aposto nela e voto nela. Sou Simone e não abro mão.