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98% do trabalho do CIEVS-RO está concentrado no monitoramento do coronavírus no Estado

Para Kerry Almeida, coordenador do CIEVS-RO o pior momento da pandemia do novo coronavírus é agora. Foto: Divulgação.

ENTREVISTA

Kerry Alesson Souza de Almeida, coordenador do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância de Saúde de Rondônia (CIEVS-RO)

“É um momento extremamente desafiador, temos equipe de plantão 24 horas.” 

Criado em 2005 pelo Ministério da Saúde, com o intuito de aprimorar a resposta às situações de emergência em saúde pública no Brasil, o Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) gradualmente passou a existir em todos os Estados. Ele é a maior rede de alerta e monitoramento do país, e no caso de Rondônia seu trabalho hoje está  98% voltado para o acompanhamento e coleta de informações sobre os casos de coronavírus e óbitos pela Covid-19 em todos os 52 municípios de Rondônia, além de prestar informações e orientações sobre a crise sanitária e outras doenças que as normas do Ministério da Saúde exigem atenção.

Coordena este importante setor vinculado à Agência Estadual de Vigilância Sanitária de Rondônia (Agevisa), o farmacêutico Kerry Alesson Souza de Almeida, 34 anos, servidor público da saúde há 11 anos. Ele acompanha todos os desdobramentos da pandemia do novo coronavírus desde o início, em março, e diz que o pior momento tem sido agora. “É um momento debilitado, com alta taxa de ocupação de leitos e alta incidência da doença também”, disse durante entrevista ao Blog no dia em que se iniciou a transferência de pacientes para outros estados.

Blog da Mara – Qual é o papel do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS-RO)?

Kerry Almeida – Realizamos o monitoramento e acompanhamento de eventos relacionados a saúde pública em Rondônia, atuando de forma coparticipativa com as demais áreas de vigilância em saúde, sendo elas ambiental, epidemiológica, sanitária e do trabalhador. O CIEVS está constantemente atuando em parceria com as áreas afins municipais, sendo uma relação harmoniosa onde compreendemos a autonomia municipal com a necessidade de suporte e apoio.

Blog da Mara – Há uma lista de doenças estabelecida para monitoramento do CIEVS?

Kerry Almeida Sim. Doenças como cólera, botulismo, ebola, febre amarela, febre do nilo. Para isso realizamos monitoramento diário das notificações relacionadas as doenças de importância nacional, além de também monitorar eventos em massa e catástrofes que possam impactar na saúde dos rondonienses. Tem também o sarampo, raiva, rubéola e outras.

Blog da Mara – O CIEVS/RO está capacitando sempre as pessoas que nele atuam?

Kerry Almeida – Essa capacitação está relacionada não apenas ao CIEVS mas também a todas as áreas de vigilância, de acordo com a necessidade. Os servidores são capacitados para aprender e também capacitar outros servidores e cidadãos em nosso estado, pois diversas vezes esses técnicos fazem capacitações de diversas formas pelo interior. Em 2019, antes da pandemia, estivemos envolvidos em algum tipo de capacitação.  Algo que sempre precisamos estar realizando é sobre a notificação de eventos de doenças, quais são os tipos de doença, sua evolução e necessidade de monitoramento, por exemplo sarampo, rubéola, foram algumas das doenças que estiveram se apresentando de novo no cenário do país, em razão de ter havido um grande movimento popular de não adesão à vacina. O país perdeu em 2019 a certificação de erradicação do sarampo. Atentos a este cenário, observamos a necessidade de capacitar a rede sobre este assunto.Nesse ano de 2021 há pretensão de haver capacitações, mas devido à pandemia tem ocorrido mudanças na forma de capacitar; deve ocorrer de maneira remota, como vídeos e fóruns virtuais.

Blog da Mara – Houve um retrocesso no combate ao sarampo porque a população não aderiu à vacinação?

Kerry Almeida – A população não aderiu como deveria aderir.  E a gente conseguiu observar que não foi falta de informação do ministério. Foi possível detectar que a população de maneira geral recebeu grande influencia de mensagens propagadas nas mídias sociais sobre a vacinação para algumas doenças, dizendo que se faziam desnecessárias, sendo uma delas o sarampo; contudo a vacina do sarampo, a vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) é efetiva para 3 doenças. Falavam mal da vacina.Começamos a ter casos de sarampo e das demais doenças novamente. O Brasil perdeu a certificação de país livre da doença devido a queda da cobertura vacinal em 20%, o que enfraqueceu a blindagem, tornando o Brasil suscetível nos casos de imigração, principalmente vindos da Venezuela e até mesmo por turismo da Europa. A baixa adesão à vacina ocorreu em todo o país, mas fora do Brasil também.O sarampo é grave, doença altamente contagiosa e de alta letalidade.

Blog da Mara –  A publicidade negativa sobre a vacina do sarampo está sendo combatida pela saúde pública no Brasil?

Kerry Almeida – Sabe, quando falamos em combate a essa situação, precisamos destacar várias frentes de combate. Primeiro quanto a postura do Ministérios da Saúde sobre esse assunto sempre foi a mesma, tanto no fomento para implantar as ações de prevenção quanto no combate e imunização. Essa mesma conduta pode ser observada nos demais entes federativos e municípios, além do mais essa postura permeia também a formação dos profissionais de saúde que mantém o coro com as práticas nacionais. O governo tem de maneira sistemática e periódica publicado a importância da vacinação, faz parte do calendário de informação dos funcionários da saúde.  O governo sempre estimulou a vacinação para que pudéssemos erradicar o maior número de doenças. Atuamos em rede, com harmonia entre todos.

Blog da Mara – O CIEVS monitora o que sai na mídia, por exemplo se é noticiada a existência de surto de uma determinada doença em uma região?

Kerry Almeida – Sim, vamos atrás para averiguar a veracidade da informação, acionamos a vigilância epidemiológica, vigilância municipal e outras se necessário para que possamos dirimir quaisquer tipos de dúvidas e propor o suporte para o que ocorrer, o que precisar ser feito.

Blog da Mara – Sobre a pandemia do coronavírus, você não acha que o governo central poderia ter feito uma campanha forte para uso da máscara, distanciamento social e outros cuidados de prevenção?

Kerry Almeida – Toda a população mundial foi atingida por essa doença. Falar sobre as ações de órgãos e entidades é um pouco complicado. O que podemos dizer é que temos um vírus, ele pode levar à óbito.  Sabemos que a maior concentração de pessoas que se contaminam com a Covid-19 está na faixa de 30 a 39 anos, e essa faixa etária não é a que mais foi a óbito em nosso Estado. A que mais foi a óbito em nosso Estado está entre 70 a 79 anos. As pessoas que mais se contaminam são as que mais apresentam taxa de cura. Isso tem a ver com a patologia do vírus, a maneira como o sistema imunológico vai se organizar, o que a gente sabe e pode afirmar é que tem medidas que podem diminuir o contato e contaminação, são eficazes, como o uso de máscara, limpeza das mãos, higiene, assepsia da superfície e limpeza adequada dos ambientes onde a gente está. Mas tem pessoas que realmente veem a infecção como se fosse uma infecção gripal qualquer. Só que essa infecção gripal pode apresentar falta de ar, e isso é assustador, é muito assustador. Nós como instituição e que fazemos parte da rede estamos numa posição muito coesa de combater esse tipo de conduta e apresentar a maneira certa de fazer.

Blog da Mara – Quantas pessoas atuam no CIEVS-RO?

Somos em poucos para atender o estado, e nós recebemos todas as notificações do estado relativas a Covid-19 e outras patologias também. Esse controle é feito por nós, mas em parceria com as demais vigilâncias municipais, e não trabalhamos sozinhos Precisaríamos de mais pessoas, com certeza, há muito tempo estávamos precisando de recursos humanos e agora toda essa necessidade ficou mais patente. É um momento extremamente desafiador, temos as parcerias, mas precisamos pensar em ter melhor suporte e estrutura Temos equipe de plantão todos os dias, 24 horas. Para rodar o plantão são 8.

Blog da Mara – Em que momento são baixados os dados do município sobre os registros de casos e óbitos da Covid-19?

Kerry Almeida – Nós baixamos pela manhã os dados dos municípios para gerar relatório diário, documento que deve ser concluído até o meio-dia. Mas as atividades de orientação da vigilância, as atividades de suporte e investigação são feias a qualquer momento, e no período posterior à baixa do arquivo. É muito extenso esse arquivo, são várias informações, análises de todos os municípios. Vocês observam que tem uma nota da Secom, nos boletins à imprensa, dizendo que foi retirado um caso de certo município, isso é feito em parceria com a vigilância epidemiológica do município que vai checar e pode resultar em alteração no banco de dados. Todos os dias analisamos, verificamos a informação prestada pela vigilância epidemiológica dos municípios, e podemos corrigir uma inconsistência antes de produzir o relatório ou depois dele produzido. Fornecemos informações para o Relatório de Ações da Sala de Situação Integrada, e para o Painel do Covid é feito em parceria com a Sesau. Todos os dias.

Blog da Mara – Quanto de tempo o CIEVS-RO está se dedicando à pandemia?

Kerry Almeida – 98% do tempo. O restante é possível monitorar alguns eventos. Temos dez pessoas o tempo todo, para que se consiga dar conta dessa demanda, é difícil. De noite, de madrugada, tem gente trabalhando. Atendemos os municípios que entram em contato para saber como se organiza determinada situação, prestamos orientações sobre a Covid, demandas de profissionais da saúde que estão lidando com a pandemia na ponta.

Blog da Mara – Em que momento você considera a pandemia mais preocupante para Rondônia?

Kerry Almeida – Acho que estamos no momento mais preocupante da epidemia no estado.  Nós vínhamos mantendo uma boa relação entre doença e assistência médica, mas chegamos num momento muito debilitado, com alta taxa de ocupação dos leitos e alta taxa de incidência também.  Se o estado não tivesse se preparado como se preparou abrindo leitos, abrindo UTIs, e veja que poucos estados tiveram a atitude de comprar hospital. Manaus comprou temporário, nós vamos ficar com o hospital para a gente. Tivemos a parceria com municípios que se desdobraram para fazer leitos de UTI em tempo recorde. É um momento muito difícil, muitas pessoas não se atentam a diminuir a contaminação, não se preocupam, aí o governo entra com medidas para restringir contatos, a gente precisa muito da parceria da população.