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A DR nada republicana entre Lira e Lula vai longe

A coisa não tomou o rumo que Lula queria. Talvez se tivesse o pé na realidade, e a realidade exige cortar gastos, quem sabe seria diferente.
Lula fechado com o Arthur Lira desde a transição. Foto: Fábio Pozzebom/ABr.

Reféns do populismo, nosso futuro é um enorme passado pela frente.

A discussão da relação entre Lula e Lira vai longe. O presidente eleito foi para o play se julgando o espertalhão de sempre, o que resolve tudo negociando na “mesa de bar” e que investir na recondução do alagoano fisiológico do PP para presidir a Câmara é uma boa.

Logo, apresentar uma PEC dando licença para gastar e cumprir promessa de campanha seria fácil e ter a aprovação mais ainda; seria como roubar pirulito de criança. Talvez Lula tenha acreditado ser mesmo o encantador de serpentes, como disse Ciro Gomes.

Alguns poucos disseram para Lula fazer outra coisa, crédito extraordinário, uma MP, menos problematico, pois a PEC exige tramitação dupla em cada casa, quórum qualificado, colocando o jogo na prorrogação, maior pressão de Lira, mas ele e sua equipe de transição fizeram ouvidos moucos. E os economistas da transição sequer deram a cara nesse debate, que não poderia ser apenas político em razão do elevado custo das contas públicas.

Mais recente, numa decisão dominicial (18/12) inesperada, Gilmar Mendes deu parecer numa ação da Rede permitindo uso de credito extraordinário para pagar o Auxilio Brasil, usando inclusive recursos de precatórios não pagos. Revés para Lira, mas nenhum alívio para Lula, que deseja um cheque gordo para gastar muito mais, e a decisão do ministro só cobre o programa de transferencia de renda. A PEC vai além.

Lewandowski, o juiz que não fala apenas pelos autos, esteve na sexta-feira de manhã no meio de uma decisão não concluída por completo – o julgamento do orçamento secreto no STF – no Congresso, tirou foto e deu entrevista ao lado do presidente do Senado Rodrigo Pacheco, anunciando que o projeto de resolução do Congresso tornando o orçamento menos secreto era bom, parecia suficiente para o Supremo aceitar manter a modalidade orçamentária que já tinha o voto de 5 ministros da Corte contra, e 4 a favor.

É uma anormalidade do Brasil cínico que não ve nada demais nisso. Ele fez política. E Lira e Pacheco acreditaram que o STF, com o esperado voto de Lewandowski e Gilmar, manteriam o mensalão institucionalizado, mas Lewandowski decidiu ficar ao lado de Lula, dizendo agora que a resolução aprovada se verificou incompleta, não era de todo transparente.

Foi sim outro revés para Lira, mas ele segura os deputados dele e continua emparedando Lula. Claro. Quer cargos. Quer mais. Não quer só garantir mais dinheiro no orçamento para manipular eventuais votos contrários a ele, se cacifar eleitoramente, e os votos do PT e legendas aliadas do presidente eleito para sua recondução à presidência da Câmara.

A coisa não tomou o rumo que Lula queria. Talvez se tivesse o pé na realidade, e a realidade exige cortar gastos, quem sabe seria diferente. Estamos na bica do Natal, Lira certamente não esperava o voto desfavorável de Lewandowski, gerando certa má vontade e traição do Centrão e enrolação e arrogância do lulopetismo pelo bastidor. A PEC foi votada parcialmente só ontem a noite, mas a DR se estende hoje, porque não foi votado tudo.

Como não há oposição democrática, só há populismos, não há candidato para enfrentar Lira, ele vai conseguindo o que quer, e em fevereiro se aboleta de novo na cadeira cujo ocupante tem ganho mais poder desde Rodrigo Maia, que procurou dar mais autonomia ao parlamento.

E a DR com Lula presidente vai continuar em bases não republicanas, especialmente nas crises que surgirem, e as barganhas tensionam o presidencialismo constituído de uma aliança elástica demais, impossível de conter os diveresos interesses nela representados.

Sempre foi assim, mas Lula, com experiência de dois mandatos, com gente boa na transição, não aprendeu nada. Ser macunaíma o personifica. Nada propõe para inovar. Dá super trela para o PT, cujo hegemonismo descarta para bom lugar um quadro político como Simone Tebet (MDB) e destrói a reputação de qualquer liderança de fato democrática.

Fez narrativa eleitoral contra o orçamento secreto e outras criminosas heranças da era Bolsonaro. Eleito, apagão geral. Manda o PT votar a favor do mensalão institucionalizado e tudo bem.

Pragmatismo e esperteza sem limites, coragem e inovação na governança política zero. Como estamos reféns do populismo, nosso futuro é um enorme passado pela frente.