A imprensa ignora a CPI das ONGs há dois meses

"Eles não querem nosso bem, mas nossos bens." Frase de sermão do Padre Antonio Vieira, em 1640.
Senador Plínio Valério(c) na Instalação da CPI das ONGs em 14 de junho. Foto: Marcos Oliveira.

A CPI das ONGs completa dois meses de trabalho nesta segunda-feira, 14 de agosto.  Toda terça-feira, 11 horas, no Senado Federal, o colegiado lá está, cumprindo seu papel: investigar as organizações não-governamentais que a pretexto de salvaguardar da destruição a Amazonia desviam a finalidade para as quais foram criadas e, mediante a captação de vultosos recursos internacionais, de governos ou entidades de países ricos, manipulam as comunidades tradicionais.

Impedem seu desenvolvimento e a mais básica assistência aos povos indígenas com o argumento de que conflitam com a sua cultura, mantendo intactos assim os interesses econômicos daqueles que bancam sua ampla atuação.

Irrigadas com muito dinheiro, e em conluio com o governo federal, influenciaram na criação de vastas reservas, expulsando moradores, reservas essas continuamente invadidas e saqueadas pelo crime organizado. E os amazônidas mais pobres e desassistidos do que nunca. Como bem explicitou o autor de Máfia Verde, o jornalista Lorenzo Carrasco, isso é parte de uma clara política para expulsar os locais de suas terras, da nossa Amazonia.

Ressalvadas, que fique bem claro, as organizações que não desviam função para atender a atividade meio, ou seja, pagar integrantes e boa vida a eles, nem deixam de prestam contas aos governos que celebram contratos com elas. A CPI está muito focada com desvios, naquelas entidades que do exterior recebem regras e orientação para ditar ao Brasil o que deve ou não se fazer na Amazonia.

No período, a imprensa graúda, e muito especialmente as redes de televisão, jamais deram atenção à CPI das ONGs. Peritas em investigar, cheias de dinheiro, se quisessem muitas perguntas teriam a fazer em reportagens promissoras, verdadeiras e transparentes para o povo brasileiro, focadas no interesse nacional, e na soberania sobre a região mais rica do planeta.

Com exceção da TV Bandeirantes, lavam a mão igual Pilatos, hostilizam os que defendem a soberania nacional, ignoram os que trazem a luz questões como a prostituição entre o Estado e um punhado de ONGs que assessoram e fazem políticas públicas contrárias ao interesse brasileiro.

Algumas notáveis matérias poderiam ser feitas para esclarecer o distinto público e até mesmo colaborar com a CPI, pressionada a não ser instalada há mais de três anos. Afinal, pretende abrir a caixa preta do Fundo Amazônia, mantido com “doações” de países como a Noruega. O fundo é operado no escuro, ninguém sabe para onde os bilhões que nele entraram estão sendo exatamente destinados.

São indagações trazidas à luz do sol pelo colegiado:

  • O que os indígenas de Roraima, da TI Ianomami, estão ganhando exatamente com a coleta de cogumelos proteicos vendidos no site do Instituto Socioambiental e Magazine Luiza? A ONG e a loja comercializam esses produtos de que forma, como pagam os indígenas, quais são seus lucros, destinam algo para ajudar os indígenas? Denúncia de exploração do trabalho indígena e irrisória remuneração são lacunas a explorar, papel da imprensa o de perguntar;

 

  • Por que o Instituto Socioambiental não permite uma estrada de apenas 16 quilômetros para que os Kuropako, no Amazonas, evitem o perigo de morte em 9 corredeiras perigosas até São Gabriel da Cachoeira para receber benefício social e saúde no posto? Denúncia feita também por liderança indígena, mas nenhuma TV de abrangência nacional foi lá verificar;

 

  • O ex-ministro Aldo Rebelo disse em claro e bom tom que na Amazonia existem dois estados paralelos: o das ONGs e do narcotráfico. O ex-ministro, que escreve um livro sobre a região e foi impedido por ONG de entrar em uma reserva, não ganhou manchete; nenhuma equipe foi verificar, mapear e caracterizar essas duas estruturas por Aldo identificadas;

 

  • A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) disse que a ONG Iepé, fundada por uma antropóloga belga, proíbe o ensino de língua portuguesa aos indígenas, algo gravíssimo. Disse também que ela recebe dinheiro de 22 instituições internacionais, inclusive embaixadas de países como a Alemanha. Alguma emissora de TV quis saber disso, algum grande jornal?

 

  • A CPI já anunciou que irá ouvir antropólogos que fizeram laudos para ONGs, especialmente o ISA, que atua fortemente para a criação de terras indígenas. Existe informação de profissionais que foram afastados porque questionaram a atuação da ONG. Nenhum jornalista também quis saber sobre isso.

É uma pequena lista de temas que urgem apuração. Há muito mais a checar nos dois meses de atuação. O que me apavora é o descaso em relação a Amazonia. A imensa maioria de brasileiros e mesmo de amazônidas ainda ignora essa vasta região, responsável por 60% do território nacional.

O não conhecer, a ignorância, a indiferença, o não querer conhecer são aliados da pilhagem reinante diz bem João Meirelles Filho em seu Livro de Ouro Sobre a Amazonia.

A imprensa cobra repressão dura para dar respostas aos de fora, a quem os jornalões sempre ofereceram bajulação canina, mas pouco cobra das autoridades do Brasil respostas à melhoria da qualidade de vida de mais de 30 milhões de brasileiros que vivem na região.

E também a utilização adequada e planejada dos bens a que o padre Vieira, no Brasil Colônia, aludia em sermão de 1640: “Eles não querem nosso bem, mas nossos bens.”  É vital que a imprensa reveja sua atuação.

A CPI é presidida pelo senador Plínio Valério (PSDB-AM); vice-presidente Jaime Bagattoli (PL-RO) e relator é o senador Márcio Bittar (União-AC). As sessões ocorrem todas as terças-feiras, às 11 horas, no Senado Federal, com transmissão da TV da Casa.