A população brasileira não endossa a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023. É o que apontam as pesquisas sobre o assunto. Daí que a liderança de Bolsonaro e aliados no Congresso para que a pauta avence no parlamento por enquanto nas ruas só conta com apoio de parte de sua claque eleitoral.

Neste domingo, 6 de abril, o ex-presidente programa com governadores aliados ato pela anistia na Avenida Paulista e, talvez, por causa de Débora Rodrigues, que virou com seu batom “símbolo espinhoso” para o STF e para a esquerda, como realçou a pena excelente de Elio Gaspari, o evento consiga reunir mais gente do que em Copacabana.
Por causa também, óbvio, de Tarcísio de Freitas, que tem, como qualquer outro que esteja no poder, como movimentar claques e militantes partidários, e segue com estreita ligação a seu padrinho político. É um dos que confirmaram presença.
A anistia não pode prosperar. Não fui entrevistada pelo Datafolha, que em março cravou rejeição a anistia por parte de 63% dos 2.002 brasileiros pesquisados, mas também não defendo o perdão. Essa pesquisa foi feita entre 19 e 20 de março, antes do voto de Alexandre de Moraes por 14 anos de prisão da cabeleireira que pichou uma estátua.
Outra, do PoderData, feita com 2500 entrevistados entre 15 e 17 de março, apontou que 51% são contra a anistia.
Acho justa e defendo a revisão de penas. Porque está evidente que o relator dos casos, ministro Moraes, age com o fígado e por vindita, no sentido de perversidade jurídica. Explico: Débora eternizou na estátua em frente ao STF a frase dita por seu Presidente em 2022 a um educado bolsonarista que o cercava nas ruas de Nova Iorque.
Fecharam com Moraes para aplicar castigo a tamanha ousadia de carimbar historicamente a política na Corte, ele mesmo e Barroso cabos eleitorais sem pudor de Lula no ano da eleição e da voltinha nos states. Não podem culpar Barroso, culpam exemplarmente a cabeleireira.
Dizem juízes semideuses do Supremo que as condutas não poderiam ser individualizadas. Poderiam. Há farta filmagem feita pelos próprios vândalos dos três poderes, há câmeras espalhadas por toda a região e nos locais das instalações vandalizadas.
Há também a filmagem que o então ministro Flavio Dino sonegou, mas o relator Moraes, até onde sei, não cobrou.
O Direito brasileiro privilegia, me confirmaram advogados da área criminal, a individualização das penas. Não poderia ser diferente para casos configurados no âmbito dos crimes contra a democracia, listados, olha a ironia, em alteração feita no Código Penal pela gestão de Bolsonaro, ao revogar a Lei de Segurança Nacional.
Ao contrário do que se diz, o povo, graças as redes sociais, adquire memória e conecta o caso à fraude democrática apelativa a que se dedica a Justiça, em especial os ministros do Supremo que se consideram salvadores da pátria ameaçada pela horda golpista.
E logo lembra que Sergio Cabral foi mandado para casa com tornozeleira eletrônica, condenado a mais de 400 anos de cana, sem que seus processos tivessem transitado em julgado, sendo a ele permitido que andasse a bel-prazer pelo belo Rio de Janeiro.
Não é o caso de Débora. Está proibida de circular, receber visitas, a não ser do advogado, ao passo que o eterno aliado do lulopetismo desfruta de vida de bon-vivant postando nas redes sociais corpo sarado, paisagens à beira-mar e namoradina da vez.
Na cabeça de muitos cidadãos, não apenas bolsonaristas, isso faz sentido e parece justo? Evidente que não.
Contudo, argumentos como esse e outros não validam solução para casos injustiçados com o remédio da política vindita, presente também entre parlamentares que na Câmara dos Deputados defendem o projeto da anistia, sempre rememorando que no passado recente até ministérios foram incendiados por gente da esquerda, sem punição rigorosa como as de agora. Verdade.
Porém, a lei e a justiça precisam ser asseguradas, do contrário a cada grupo político da vez conflito da grandeza do 8 de janeiro tem possibilidade de se repetir, enfraquecendo mais ainda a frágil democracia brasileira.