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A ralé, amante do culto ao ódio e à violência, pede intervenção militar

De várias classes sociais, odeia a política, cultua a violência e o ódio, motores de sua atuação, segundo Hanna Arendt.
Faixa no gramado de Brasília. Foto George Maraques/Facebook.

Depois de ver as imagens das manifestações deste domingo, 15, menores e mais radicais, não tem outra palavra para definir porção importante do grupo de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro: ralé.

Escrevo com p minúsculo porque ele apequenou a Presidência da República, descumpre diariamente a liturgia do cargo.

Em quase todos os lugares lá estavam faixas, cartazes, pedindo intervenção militar e Fora Maia (presidente da Câmara dos Deputados) e Alcolumbre (presidente do Senado Federal).

Em frente ao Congresso Nacional. Foto George Marques/Facebook.

Essas pessoas que pedem o militarismo no poder, em toda sua extensão – até para o AI 5 há saudosistas de plantão -, sem se importar com a valiosa utilidade e relevância dos contrapesos institucionais estabelecidos na Constituição, são nada mais nada menos do que a ralé, empregado no conceito da pensadora alemã Hanna Arendt, judia que fugiu das atrocidades do nazismo e encontrou abrigo na democracia americana.

Arendt, uma das teóricas da política mais importantes do século XX, definiu ralé como uma fatia, resíduo que reúne todas as classes sociais, que odeia a política, cultua a violência e o ódio.

Tem no Brasil? Certamente. E veio à tona  com toda virulência, na eleição do capitão, trabalhando incansavelmente nas redes sociais, destruindo reputações, esparramando mentiras, e até mesmo no palácio presidencial, onde o gabinete do ódio comprovadamente estava instalado.

Faixa no gramado de Brasília. Foto George Marques/Facebook.

Essa ralé tem interesses muito distintos do povo, que pede transformação e representatividade, defende a relação Estado e sociedade baseada no diálogo, no equilíbrio e na justiça. Almeja a paz, quer o ganha pão e serviços públicos com dignidade.

A ralé estufa e bate o peito dizendo que odeia a política, como lembra o dramaturgo alemão Bertold Brecht no sempre atual texto Analfabeto Político.

A arminha empregada nas campanhas encantou a ralé, grande parte dela de gente graúda, endinheirada, empresários reacionários e elite interessada não no combate a corrupção, como inocentes bolsonaristas acreditam, mas na manutenção no poder por um líder forte, centralizador, que diariamente se insurge contra a política, impaciente para o diálogo, intolerante.

E que embora negue a contradição como algo inerente à vida social, outra característica da ralé, a demonstra de forma contumaz, quando, por exemplo, recua em ações e declarações, o que vejo como um método para propagar ódio, missão da ralé, que não dá a mínima para a condição humana fragilizada.

Não acredito que a ralé consiga fechar o Congresso Nacional, pesquisas não a favorecem, mas nunca se sabe. Vigilância redobrada nestes tempos de coronavírus é o que se recomenda aos democratas, atuação firme dos poderes e, por Nossa Senhora Aparecida, que lideranças políticas sensatas, cientes da realidade nacional, equilibradas e responsáveis, se apresentem para as eleições de 2022.

Em tempo: Hanna Arendt escreveu, entre outras obras, As Origens do Totalitarismo, A Condição Humana e Da Revolução.