Entrevista: Josemar Monteiro de Araújo
Presidente da Associação de Moradores do 22 de Dezembro, Rio Madeira e Paraíso
Uma associação de moradores tem de ter união e foco, com dirigentes que pensam no bem comum. É algo que nem sempre é possível, mas o representante comercial Josemar Monteiro de Araújo, que desde 1989 mora no conjunto 22 de Dezembro, em Porto Velho, garante que a entidade que passou a presidir desde novembro do ano passado “só tem pessoas boas e unidas”, moradores que de uma maneira ou outra sempre somaram para levar benefícios a cerca de 380 famílias.
Com ele, compõem a nova diretoria da Associação dos Moradores do 22 de Dezembro, Rio Madeira e Paraíso (Asdemap) Francisco Assunção de Oliveira Junior (Vice-presidente); Luis Gomes da Silva Filho (diretor Financeiro); Welser Rony Alencar Almeida (diretor Administrativo); Florencio Leonel Aidar Pereira (diretor de Obras) e José Carlos Mendes Pereira (diretor de Relações Comunitárias e Meio Ambiente).
Constituída desde 1993, a Asdemap formalmente passou a existir em setembro de 2008, em plena efervescência econômica, por sugestão do superintendente do Grupo Ancar, que construía o shopping da capital, Ricardo Castro. “Ele nos incentivou, mostrando que para ter força política era preciso legalizar a associação”, conta Josemar.
Naquele momento, a entidade reverteu o projeto de compensação que existia entre o grupo Ancar e a prefeitura, ao propor a criação do Parque da Cidade, ideia que virou realidade. Passados 13 anos, “o grande sonho” agora é retomar o projeto de canalização da água de nascentes do igarapé Trincheira para o lago do parque. Josemar falou sobre o trabalho da Asdemap ao Blog:
Blog da Mara- Há quanto tempo existe a Associação dos Moradores do 22 de Dezembro, Rio Madeira e Paraíso?
Josemar Monteiro –Existe desde 1993. Importante dizer que depois do Conjunto Santo Antônio, o 22 de Dezembro foi o segundo bairro a ter asfalto comunitário; tem mais de 20 anos. Formalmente a associação foi criada em setembro de 2008. De 93 até este ano ela não era legalizada. Veio a ser porque Ricardo Castro, superintendente do Grupo Ancar, construtor do shopping de Porto Velho, incentivou. Disse que isso nos fortaleceria. Até então, o vereador Mário Jorge, que morava no 22 de Dezembro, era essa força. Mas ocorreu também que ele não se elegeu de novo, e eu viajava muito a trabalho. E por lealdade e companheirismo, Mário não fez parte da composição daquela primeira diretoria com a entidade legalizada. E eu também não.
Blog da Mara – Quem assumiu então a presidência?
Josemar Monteiro – O primeiro presidente foi Cláudio Faria Vilela Carvalho, da Magrão Motos. Ele também morava no 22 de Dezembro. O Paraíso era o menor bairro de Porto Velho, e ainda tem o Rio Madeira, tudo dentro da associação. Ele presidiu até 2017, e em nova diretoria passei a ser responsável pela Diretoria de Obras.
Blog da Mara – Desse período todo de existência, qual gestor você considera ter dado respostas às demandas da associação?
Josemar Monteiro – Houve atenção especial na gestão do Roberto Sobrinho, justamente em razão da criação do parque da cidade. A compensação que existia entre o Grupo Ancar e o município era urbanizar a rua que passa entre o parque e o shopping, a rua Bela. E a gente entrou no circuito dando uma ideia para o Grupo Ancar do que seria mais interessante ser construído, que foi o Parque da Cidade, e daí se criou essa ligação muito forte com o Grupo Ancar. A gestão do Mauro Nazif plantou mudas no parque, e entre o conjunto Rio Madeira e a Pinheiro Machado fez parte de ruas, e na rua da Igrejinha moradores compraram manilhas e ela foi concluída e ponta a ponta. Na gestão do Hildon Chaves, temos reivindicações que serão atendidas ainda neste ano, e a região que abrange o que se chama hoje bairro Flodoaldo Pontes Pinto, o que inclui os locais atendidos pela associação, está 100% asfaltada em sua gestão.
Blog da Mara – Explique melhor como era a compensação que se discutia com o shopping.
Josemar Monteiro – A rua Bela era a compensação quando o shopping foi criado. Esse projeto foi abortado quando aprovaram a criação do parque, e quando foi em 2015 mais ou menos houve a expansão do shopping. Com isso, teve uma segunda compensação da construção. A rua Bela, como já estava no forno, acabou sendo a ligação da Calama com a Pinheiro Machado, feita de paralelepípedo. E um dos projetos da associação é que a rua Bela venha a fazer parte do Parque da Cidade, seja anexada. Hoje só passa motos. Com a anexação, ficará para pedestres.
Blog da Mara – Quais são as reivindicações à gestão Hildon Chaves?
Josemar Monteiro – Desde a criação do parque sempre buscamos melhorias, e a pavimentação da pista de caminhada e estacionamento, e a praça em frente ao IFRO são algumas delas.São obras que estão acertadas, é nessa gestão mais recente que temos tido bom apoio, e a deputada Mariana Carvalho é grande parceira. A pista tem 800 metros, a previsão é de entregar este ano, e a praça também. Na gestão do Hildon o campo de futebol foi todo gramado, e serão incluídos refletores mais potentes; é quase um campo profissional. Detalhe que havia o campo do Paraíso, onde havia o tradicional jogo de casados e solteiros, e a associação pediu ao Grupo Ancar para manter; ele foi deslocado para trás, era próximo à Calama. É uma conquista dos moradores. O parque é mantido pela Emdur, e Tiago Tezzari, até recentemente seu dirigente, reunia com a gente todo mês para tratar das reivindicações.
Blog da Mara – Existia um projeto de canalização da água de um igarapé para o lago do parque. Há pretensão de ser retomado?
Josemar Monteiro – Sim, levamos o Ricardo Castro nas nascentes cristalinas do igarapé que chega à Vieira Cahula com o propósito de canalizar a água para o lago do parque, mas na época, muito embora ele tenha gostado do que viu, consideraram o custo alto. São 12 nascentes, na realidade. Por enquanto, o lago é artificial, e lá tem pirarucu, tartaruga, patinhos e outros peixes, e se a gente conseguir canalizar vai ter água perene. Vamos manter sempre verde, irrigado, hoje é abastecido com carro pipa, e os animais terão mais qualidade de vida. Haverá mais vida no local, porque chega o verão e tudo seca. Este é um sonho nosso. O projeto não está cem por cento pronto, chegou a ser levado à dra. Aidee, na promotoria do Meio Ambiente, e agora contamos com apoio do ambientalista e geógrafo Emanuel Fulton Casara, que esteve no igarapé Trincheira e está fazendo toda uma vistoria para levarmos adiante. Ele considera viável o projeto. São 1.200 metros de canalização, e temos patrocinadores para os tubos. A água na nascente é pura, quando eu era menino tomava banho lá, tem peixes, mas infelizmente no trajeto que faz está contaminado por esgoto. Queremos aproveitar essa água que está sendo desperdiçada. Esse projeto conta com apoio de muita gente do bairro, o coronel Garret é um deles.
Blog da Mara – Quais são outras pautas para a atual diretoria da associação?
Josemar Monteiro – Ativar a escolinha de surdos e mudos é um deles. É um espaço que foi solicitado pelo ex-vereador márcio Miranda. Cedemos o espaço ao lado da igreja, e queremos levar para frente a proposta.
Blog da Mara – Qual é a importância da associação para a vida dos moradores de um bairro?
Josemar Monteiro – Teve um apelo muito grande, de muitas pessoas para que eu assumisse a direção na eleição realizada em novembro passado. Mário Jorge e Garret foram alguns deles. Tem muita coisa para acontecer, eu estava preocupado porque meu sonho é canalizar a água para o parque. Contar com pessoas boas, que sempre somaram, facilita. A associação tem união, é coesa, temos moradores que pensam no bem comum. Somos irmãos, divididos apenas por muros aqui no bairro. A associação tem que ter unidade e foco, não pode um puxar para um lado ou outro, assim não vai a lugar algum.
Blog da Mara – A parceria política é necessária? Vereadores e gestores?
Josemar Monteiro – É necessária. Temos de procurar vereadores, gestores, agentes públicos que somem de verdade. Isso contribui e soma muito. Ao longo da nossa história, tivemos apoio de vereadores como Sid Orleans, Marcio Miranda, Joelna Holder, Mário Jorge e Júnior Cavalcanti. E muitos moradores contribuíram para melhorar as condições de vida do Paraíso, 22 de Dezembro e Rio Madeira. O coronel Ferro e o ex-vereador Loura Neto são alguns deles, além de outras pessoas que já citei.
Blog da Mara – Tem algum fato que seja marcante para você que mora há tantos anos no 22 de Dezembro?
Josemar Monteiro – Há sim, tem um aspecto bem pessoal. No trecho entre a avenida Rio Madeira e Pinheiro Machado morava dona Maria Raimunda, lavadeira; ela lavava roupa para a minha família e muitas pessoas do bairro. Ela nunca deixou a gente dar uma máquina de lavar para ela. Eu dizia para ela que um dia o asfalto ia chegar na porta de sua casa. Ela respondia que gostava de mim, e confiava nisso. Ela perdeu a visão, audição e estava em cadeira de roda. Quando as máquinas entraram, em 2019, a primeira rua a ser pavimentada foi a dela. Eu estava lá e vi sua imensa alegria. São coisas que marcam a gente.