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Baleia e Lira: na corrida pela Câmara, indiferença às urgências do Brasil

Lira e Baleia Rossi, apesar de apelos feitos por parlamentares e especialistas em justiça não se comprometeram com o fim do foro privilegiado.
Os deputados Baleia Rossi (e) e Arthur Lira disputam a presidência da Câmara. Foto: Agência Camara.

Com o lançamento na quarta, 6, da candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à presidência da Câmara dos Deputados, está demarcado o terreno da principal disputa política do ano no país. Rossi enfim sai candidato com o apoio de Rodrigo Maia (DEM) e de 11 partidos, do centro e esquerda, que somam 278 parlamentares, e seu adversário Arthur Lira (Progressistas-AL) tem o apoio do presidente Jair Bolsonaro e 10 partidos, que reúnem 203 deputados. Para ganhar a eleição, o candidato precisa ter votos de 257 dos 513 deputados.

À primeira impressão, e tomara que não seja esta que permaneça, é a de que os candidatos seguem famintos para tão somente ocupar o lugar de Maia, privilegiado posto de arranjos políticos que detém poder superlativo – na presidência, decide-se quase imperialmente o que vai entrar ou não na pauta, favorecendo ou não os interesses do Brasil. O colégio de líderes é chamado a decidir sobre a ordem do dia, mas isso também por vezes não quer dizer muita coisa.

As urgências do Brasil estão no limbo da indiferença. Candidato há quase um mês já – lançou seu nome no dia 9 de dezembro -, Arthur Lira, terceiro mandato de deputado, em nenhum momento apresentou agenda da sua campanha que precisa ser colocada na ordem do dia, limitando-se a dizer “que as pautas serão socializadas com os deputados,” haverá democracia para tomada de decisões. Quem acredita nessa tolice? Ali não funciona assim, sabe ele muito bem, e não tenho dúvida: será coagido pela família Bolsonaro a fazer o que o chefe mandar.

Prometeu que as reuniões dos colégios de líderes serão as quinta-feiras para que os deputados não saibam da pauta na última hora – sempre foi assim, tomara de fato que mude! -, mas não se comprometeu, até o momento, com nenhum reforma prometida na campanha eleitoral por Jair Bolsonaro. E talvez nem seja por má vontade dele, é porque essa agenda já foi para as calendas, hoje não se sabe o que esse (des) governo realmente defende, e como o poder e dinheiro são o que interessa, dane-se as urgências do Brasil.

Lira e Baleia Rossi, apesar de apelos feitos em agosto e outubro deste ano por senadores, deputados e especialistas em justiça e leis, não se comprometeram com o fim do foro privilegiado. Como relatado pelo blog, há quase 800 dias o projeto está engavetado por Rodrigo Maia. 55 mil autoridades do pais seguem beneficiadas por tratamento jurídico especial no caso de crimes comuns.

Não se comprometeram, também, com a prisão em segunda instância. Sua indiferença só renova a descrença em parcela expressiva da sociedade brasileira na democracia representativa, incapaz de promover mudança nos costumes e moralização na política.

Veja-se o absurdo da deputada Flordelis. Indiciada pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, por ser mandante do assassinato do marido, pastor Anderson, continua solta, não pode ser presa preventivamente. E por aí vai.

Baleia Rossi ganhou apoio dos partidos de esquerda, e desde o final do ano passado se especula a volta do imposto sindical com seu apoio. No lançamento da campanha, disse que suas bandeiras são a defesa da vacina e a busca de alternativas para bancar o auxílio emergencial; convenhamos, é muito pouco. É perfumaria com o fim de entrar no debate que reluz, não são bandeiras de ordem estrutural, algo inadiável no país.

Ele precisa, tanto quanto Lira, se comprometer com a reforma tributária e reforma administrativa, urgências que o (des) governo tem sido incapaz de imprimir e demonstrar importância para a sociedade, por incapacidade de seu apagado ministro da Economia, Paulo Guedes, e presidente da República. Sem reformas, a desigualdade só aumentará, e ela dará o tom da tônica social, agenda que dominará a campanha presidencial de 2022.

Bolsonaro precisa muito que Arthur Lira ganhe e, para isso, será capaz de promover troca-troca nos ministérios a partir de agora e liberação de verbas. Para isso o Brasil não está quebrado. Baleia Rossi, por sua vez, acena com oferta de cargos na Mesa Diretora e abertura de CPIs engavetadas por Maia solicitada por partidos aliados. É bem capaz que um dos mais 40 pedidos de impeachment contra Bolsonaro saiam da gaveta.  Alguém acredita?

A eleição para a presidência da Câmara será no início de fevereiro. Nas conversas e disputa pelos votos por parte dos candidatos até agora, o Brasil é o filho enjeitado, serve para fazer foto e dizer para todo mundo que doravante será respeitado, bem tratado, transformado, valorizado, cuidado com dignidade e esperança. #SQN.