Bolsonaro casado com o Centrão até que a traição os separem

Já são 26 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro; aliança com centrão busca apoio parlamentar.
Bolsonaro e Arthur Lira falam sobre aliança. Foto: Reprodução/Rede social.

Ressuscitando a velha prática do toma-lá-dá-cá, o presidente Jair Bolsonaro, informa o jornal O Estado de São Paulo, começou na quarta-feira, 6, a distribuir cargos aos partidos do Centrão, em troca de votos no Congresso. A prática foi duramente condenada por Bolsonaro na campanha, taxando de coisas da “velha política.”

Desesperado, acossado por 26 pedidos de impeachment (contagem feita na semana passada), inquéritos no STF que atingem filhos e ele próprio, noticias-crime contra a saúde pública etc. , Bolsonaro corre atrás do prejuízo para garantir apoio na Câmara dos Deputados.

Começaram a ser preenchidos a pedido do Centrão cargos de segundo escalão em vários ministérios, e o presidente já anunciou a ministros que quem não concordar com ele será demitido.

Quem sabe será por suas qualidades e não defeitos que o ministro Abraham Weintraub (Educação) deixará o posto. Ele discordou da escolha de Marcelo da Ponte para comandar o orçamento de R$ 58 bilhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) me informa o amigo jornalista Carlos Henrique Ãngelo.

O moço é indicação do “ilibado” senador Ciro Nogueira (PI). Se ele assumir, aliás, será a terceira vez que este governo muda o titular de tão importante órgão. O tal de Marcelo foi chefe de gabinete de Nogueira.

O Diário Oficial da União desta quinta-feira, 7, traz a nomeação do advogado pernambucano Tiago Pontes Queiroz para a Secretaria Nacional de Mobilidade do Ministério do Desenvolvimento Regional, pasta ocupada por Rogério Marinho.

É também gente do senador Ciro Nogueira e deputado Arthur Lira (AL), caciques do Progressistas (PP). Queiroz já ocupou outros cargos públicos.

Durante o governo Temer, esteve no ministério da Saúde, sendo denunciado em 2019 pelo Ministério Público por irregularidades em contratos da pasta, no mesmo processo em que o ex-ministro da pasta Ricardo Barros (PP-PR) é investigado. 

Este é o segundo cargo que Bolsonaro entrega aos Progressistas. O partido emplacou um indicado no comando do Departamento Nacional de Obras contra as Secas, Dnocs, autarquia com orçamento de R$ 1 bilhão neste ano.  Seu nome é Fernando Marcondes de Araújo Leão.

Nesses novos tempos do centrão, conhecido pela alta dosagem de traição, o deputado Arthur Lira, réu em processo por corrupção passiva, terceirizou a escolha, passando o apadrinhamento para o deputado Sebastião Oliveira (PL-PE), desagradando companheiros do PP.

Acontece que a estratégia é parte do plano de Lira de construir uma base na Câmara dos Deputados para disputar a presidência da casa em fevereiro de 2021.  Pandemia, crise econômica e crise política?  Nada! O foco de Lira, que conta com o apoio de Bolsonaro, é derrubar Rodrigo Maia e assumir a Câmara.

Lira também está trabalhando para reunir partidos menores, como PSC, Patriotas e Avante, para fortalecer sua candidatura e dar apoio às votações do governo.

O Centrão é uma massa calculada em cerca de 200 dos 513 deputados. Se movem pela conveniência da hora, e são conhecidos pela fidelidade de ocasião, pulando do barco quando o governante de plantão cai em desgraça. A ex-presidente Dilma Rousseff que o diga.

Seu núcleo duro é formado pelo PSD, PL, PP, PR, SD, PTB e DEM, e com exceção do último, que ainda guarda alguma identidade programática, estes partidos não tem ideologia, tem pragmatismo, e parte boa de seus membros tem acerto de contas a fazer na justiça.

Já disse aqui que um de seus piores erros foi sair do PSL, uma base de mais de 50 deputados, mas Bolsonaro é uma alma confusa, e no caso do PSL fez confusão por causa do autoritarismo, querendo a todo custo que a família tivesse o controle do partido.

Tenho cá o palpite que essa aliança com o Central fará água cedo. Como bem disse o filosofo e professor Marcos Nobre, quando entra Roberto Jefferson na parada pode contar que é “o beijo da morte” para qualquer presidente.