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Bolsonaro é quem cultiva terra arrasada, acolhendo o ‘gabinete do ódio’

O presidente não ignora que as crianças são vetores do vírus, pouco conhecido ainda.
Videoconferência com Governadores do Sul. Foto Marcos Correa

Presidente refuta o entendimento, preferindo o conflito e a confusão, valores igualmente superestimados pelo filho Carlos.

Impossível não comentar sobre os desdobramentos da fala do presidente Jair que nunca foi  Messias, nem mais é Bolsonaro, o mito, alvejado pela pandemia do coronavírus.

O jornal O Estado de São Paulo traz uma informação de bastidor, preciosa: o pronunciamento do presidente em cadeia de televisão tem o cérebro e tudo mais do filho Carlos Bolsonaro, e do ‘gabinete do ódio’, no qual estão vinculados auxiliares que alimentam as redes sociais do presidente e, de quebra, espalham violência verbal contra a reputação de adversários, jornalistas, desafetos e inimigos imaginários.

Tudo sob o comando de Carlos, vereador no Rio de Janeiro, cujo mandato, aliás, deveria ser  escrutinado pela imprensa. Afinal, quem dele cuida já que o filho presidencial se ocupa de interferir na República dia e noite?

Carlos, já disseram aliados de primeira hora que compartilharam com ele o dia-a-dia da campanha, tem mania de perseguição e paranoia contra tudo e todos. Um deles, o falecido Gustavo Bebiano, inclusive deixou carta ao presidente na qual pede para Bolsonaro se livrar do ódio no coração e cuidar para que o filho se submeta a algum tratamento psiquiátrico.

Só mesmo gente tão perturbada – o que inclui o chefe da nação – para levar adiante um pronunciamento como o da noite desta terça-feira, 24.

Bolsonaro deixou claro que o coronavírus é doença de idoso, de fumantes, hipertensos, salvando-se espécies com “histórico de atleta”, gabou-se ele.

O presidente disse certezas que nem mesmo os especialistas têm, e não ignora que as crianças são vetores do vírus, pouco conhecido ainda. Daí a importância de fechar as escolas por um tempo.

Um estudo com dados da China, publicado na revista Science, aponta que 86% das infecções não são diagnosticadas, e 79% das transmissões tiveram origem em pessoas assintomáticas.

Foi um pronunciamento intempestivo, desproposital, emocionalmente ressentido até. Há  zombaria e deboche, falta de respeito para com os gestores das unidades federativas e mentira. Além de tudo, desautoriza seu ministro da Saúde, logo no dia em que a meta de se realizar 22 milhões de testes para o Covid-19 foi anunciada.

Em busca do tempo perdido, o pronunciamento deveria enumerar as providências de governo até agora tomadas, como o pacote de R$ 88 bi para os gestores estaduais, dizer que conversou via videoconferência com prefeitos, e nesta terça-feira com governadores. Mostrar sim preocupação com a economia e sublinhar que as conversas enfim feitas com lideranças políticas eleitas pelo voto tanto quanto ele – Bolsonaro parece se esquecer disso! –  precisam fluir para que ajustes nas medidas tomadas de Norte a Sul para confinamento das pessoas, fechamento do comércio  etc. sejam feitos de forma coordenada, unidos, observando as orientações do Ministério da Saúde, da ciência. E levando em conta o bom senso. Sempre!

O terreno de “terra arrasada”, expressão citada no pronunciamento, quem cultiva é Bolsonaro, que refuta entendimento, preferindo desde sua posse o conflito e a confusão, valores igualmente superestimados pelo filho Carlos.