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Carluxo: O que está por vir pode derrubar o capitão eleito

Teorias conspiratórias circulam em Brasilia, e aliados de Bolsonaro se preocupam com os rumos do governo.
Presidente Jair Bolsonaro. Foto: Fábio Pozzebom/ABr.

O título é pinçado  de postagem feita na quarta-feira, 15,  por Carlos Bolsonaro, o filho caçula dedicado às estripulias nas redes sociais. Se inspirou em vídeo do youtuber Daniel Lopez, um blogueiro de direita que disse estar “tudo engatilhado” para derrubar Jair Bolsonaro da Presidência da República. Quiçá derrubar o Brasil, digo eu.

Neste mesmo dia milhares de pessoas foram às ruas protestar, para Jair Bolsonaro sendo a maioria “idiota útil” a serviço de partidos da oposição para desestabilizar seu governo.

O que está por vir não se sabe, como é um enigma também o tsunami previsto pelo Presidente na sexta feira passada, em evento da Caixa Econômica Federal (CEF). Desconheço se algum jornalista fez o que todo jornalista não pode deixar de fazer: perguntar. Do que o Sr. está falando Presidente? É o mínimo, não?

Mais uma semana passa, e está tudo muito estranho. Flávio Bolsonaro é acuado pelo Ministério Público, que trouxe à luz a informação de que o senador teria adquirido 19 imóveis em 7 anos, em supostas operações de lavagem de dinheiro. Alto lá, antes que me acusem: não digo que seja inocente nem culpado, mas é bom lembrar que o MP é uma das corporações que serão atingidas na reforma da Previdência, e tem lá suas estrategias também.

A eminência parda do Presidente, o tal  de Olavo de Carvalho, intragável até mesmo para bolsonaristas, diz que não comentará mais sobre política doravante, e a Câmara dos Deputados, liderada pelo centrão, lustra a irresponsabilidade ao máximo decidindo não votar a MP 870, que promove a redução de ministérios, dá nova configuração à Esplanada em Brasília.

A MP tem prazo de validade, até 3 de junho, e além da votação na Câmara precisa da votação no Senado Federal. Noticia-se que estão cada vez piores as relações do Planalto com o Congresso Nacional.

Maio evapora em meio a teorias conspiratórias ou construção real de um processo de defenestração do presidente-capitão? Ingredientes para esta hipótese estão à mesa, e o Congresso Nacional é o ator principal.

Texto apavorante e interesses de corporações

E veio à tona nesta sexta-feira outro tempero que se soma às estranhezas da semana. O Congresso Nacional é um dos sujeitos ocultos na carta-desabafo divulgada em grupos de whatsapp pelo presidente  Jair Bolsonaro, que a qualifica de “texto apavorante”.  É possível que a carta seja da lavra do próprio grupo bolsonarista, estratégia lastreada nas redes sociais, política de comunicação fartamente usada pelo Presidente.

Disso tudo, concluo que Jair Bolsonaro não apenas é refém do centrão. O considero ainda muito mais da decidida política de desconjuntado confronto que adota desde o  primeiro dia de governo.

De autor anônimo, o documento, contendo verdades inquestionáveis,  foi publicado pelo jornal “O Estado de São Paulo”. Como sou assinante, vou compartilhar aqui com vocês para que façam sua avaliação.

Texto apavorante

Temos muito para agradecer a Bolsonaro.

Bastaram 5 meses de um governo atípico, “sem jeito” com o congresso e de comunicação amadora para nos mostrar que o Brasil nunca foi, e talvez nunca será, governado de acordo com o interesse dos eleitores. Sejam eles de esquerda ou de direita.

Desde a tal compra de votos para a reeleição, os conchavos para a privatização, o mensalão, o petrolão e o tal “presidencialismo de coalizão”, o Brasil é governado exclusivamente para atender aos interesses de corporações com acesso privilegiado ao orçamento público.

Não só políticos, mas servidores-sindicalistas, sindicalistas de toga e grupos empresariais bem posicionados nas teias de poder. Os verdadeiros donos do orçamento. As lagostas do STF e os espumantes com quatro prêmios internacionais são só a face gourmet do nosso absolutismo orçamentário.

Todos nós sabíamos disso, mas queríamos acreditar que era só um efeito de determinado governo corrupto ou cooptado. Na próxima eleição, tudo poderia mudar. Infelizmente não era isso, não era pontual. Bolsonaro provou que o Brasil, fora desses conchavos, é ingovernável.

Descobrimos que não existe nenhum compromisso de campanha que pode ser cumprido sem que as corporações deem suas bênçãos. Sempre a contragosto.

Nem uma simples redução do número de ministérios pode ser feita. Corremos o risco de uma MP caducar e o Brasil ser OBRIGADO a ter 29 ministérios e voltar para a estrutura do Temer.

Isso é do interesse de quem? Qual é o propósito de o congresso ter que aprovar a estrutura do executivo, que é exclusivamente do interesse operacional deste último, além de ser promessa de campanha?

Querem, na verdade, é manter nichos de controle sobre o orçamento para indicar os ministros que vão permitir sangrar estes recursos para objetivos não republicanos. Historinha com mais de 500 anos por aqui.

Que poder, de fato, tem o presidente do Brasil? Até o momento, como todas as suas ações foram ou serão questionadas no congresso e na justiça, apostaria que o presidente não serve para NADA, exceto para organizar o governo no interesse das corporações. Fora isso, não governa.

Se não negocia com o congresso, é amador e não sabe fazer política. Se negocia, sucumbiu à velha política. O que resta, se 100% dos caminhos estão errados na visão dos “ana(lfabe)listas políticos”?

A continuar tudo como está, as corporações vão comandar o governo Bolsonaro na marra e aprovar o mínimo para que o Brasil não quebre, apenas para continuarem mantendo seus privilégios.

O moribundo-Brasil será mantido vivo por aparelhos para que os privilegiados continuem mamando. É fato inegável. Está assim há 519 anos, morto, mas procriando. Foi assim, provavelmente continuará assim.

Antes de Bolsonaro vivíamos em um cativeiro, sequestrados pelas corporações, mas tínhamos a falsa impressão de que nossos representantes eleitos tinham efetivo poder de apresentar suas agendas.

Era falso, FHC foi reeleito prometendo segurar o dólar e soltou-o 2 meses depois, Lula foi eleito criticando a política de FHC e nomeou um presidente do Bank Boston, fez reforma da previdência e aumentou os juros, Dilma foi eleita criticando o neoliberalismo e indicou Joaquim Levy. Tudo para manter o cadáver procriando por múltiplos de 4 anos.

Agora, como a agenda de Bolsonaro não é do interesse de praticamente NENHUMA corporação (pelo jeito nem dos militares), o sequestro fica mais evidente e o cárcere começa a se mostrar sufocante.

Na hipótese mais provável, o governo será desidratado até morrer de inanição, com vitória para as corporações. Que sempre venceram. Daremos adeus Moro, Mansueto e Guedes. Estão atrapalhando as corporações, não terão lugar por muito tempo.

Na pior hipótese ficamos ingovernáveis e os agentes econômicos, internos e externos, desistem do Brasil. Teremos um orçamento destruído, aumentando o desemprego, a inflação e com calotes generalizados. Perfeitamente plausível. Claramente possível.

A hipótese nuclear é uma ruptura institucional irreversível, com desfecho imprevisível. É o Brasil sendo zerado, sem direito para ninguém e sem dinheiro para nada. Não se sabe como será reconstruído. Não é impossível, basta olhar para a Argentina e para a Venezuela. A economia destes países não é funcional. Podemos chegar lá, está longe de ser impossível.

Agradeçamos a Bolsonaro, pois em menos de 5 meses provou de forma inequívoca que o Brasil só é governável se atender o interesse das corporações. Nunca será governável para atender ao interesse dos eleitores. Quaisquer eleitores. Tenho certeza que esquerdistas não votaram em Dilma para Joaquim Levy ser indicado ministro. Foi o que aconteceu, pois precisavam manter o cadáver Brasil procriando. Sem controle do orçamento, as corporações morrem.

O Brasil está disfuncional. Como nunca antes. Bolsonaro não é culpado pela disfuncionalidade, pois não destruiu nada, aliás, até agora não fez nada de fato, não aprovou nada, só tentou e fracassou. Ele é só um óculos com grau certo, para vermos que o rei sempre esteve nu, e é horroroso.

Infelizmente o diagnóstico racional é claro: “Sell”.

Autor desconhecido