Depois de conversa com Lira, Lula manda abrir o cofre

Lula autoriza ministros a destravarem R$ 10 bi em emendas; com Lira, a cada votação uma agonia. Mas o PT e Lula sabiam.
Arthur Lira adiou a votação do PL 2360. Foto: Bruno Spada.

Cada vez mais nas mãos de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, o presidente Lula da Silva teve encontro com o deputado nesta terça-feira, 2, chamou o ministro Fernando Haddad e pediu “agilidade” para assegurar votos para a votação de projetos de interesse do governo. Soltar dindin, para ficar explicito. Quem nos informa é a jornalista Vera Rosa, colunista de O Estadão.

Foi justo no dia da previsão de votação do PL 2630, que institui a Lei Brasileira da Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet, conhecido por PL das Fake News, o que acabou não acontecendo. O relator pediu o adiamento, para incluir sugestões, mas tudo é teatro com Lira. O fato é que o governo seria derrotado, e a grana das emendas parlamentares não chegou ainda.

A colunista diz que Lira reclamou que os acordos feitos com o governo não têm cumprido “o tempo da política para sair do papel,” e sem rodeios cobrou reciprocidade para garantir a famigerada governabilidade. A entrega a que o líder do Centrão teria se referido é dinheiro proveniente de emendas parlamentares. Além de falar com Haddad, Lula teria dito aos ministros para liberarem R$ 10 bilhões para deputados e senadores, além dos restos a pagar deixados por Jair Bolsonaro.

O controle da liberação e consequente cumprimento de acordos com o Centrão de Lira é feito agora por Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais, de quem Lira se queixou no domingo, em entrevista lida por mim e publicada no jornal O Globo. Referiu-se ao petista Padilha como “um sujeito fino e educado, mas que tem tido dificuldades.”

A jornalista cita um nome que teria sido negociado com Padilha para ocupar um posto no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, vetado pelo ministro Flávio Dino (Justiça), com queixa de Lira pela não defesa do articulador político do governo do acordado.

Com Arthur Lira, a cada votação é preciso negociar com o Palacio do Planalto. O jogo jogado de leitura da CPI do MST é parte do processo de pressão que ele impõe ao chefe do executivo. O chumbo trocado com as big techs foi bom também para o chefe da Câmara. A conversa com Lula freou o ímpeto de se colocar o PL 2360 em votação, Lira é profissional, pois o clima existente no Plenário era de derrota do governo.

É claro que Lula da Silva e o PT sabem como o político alagoano, de larga experiência política, funciona e age. Ainda assim, na transição optaram logo de cara por reconduzir Arthur Lira ao cargo, sem ao menos tentar um nome da confiança do governo que chegava com enfrentamentos de toda ordem para fazer.  E isso não é apenas em razão do pragmatismo desenfreado de Lula.

Ocorre que o PT, que aprovou em peso a remodelação do orçamento secreto, não tem mais princípios a defender. “Nele não resta mais nenhum espírito transformador, nenhuma autenticidade, nenhum impulso vital,” bem disse o editor Celso Benjamin, que abandonou as fileiras do partido ao ver a degradação atingida pela legenda.  Daí, digo eu, associar-se com Lira e seu balcão de negócios 3.0 – referência ao terceiro mandato lulista – é lucrativo à busca ince$$ante pelo poder, transformado no único ideal do outrora combativo Partido dos Trabalhadores.

O artigo de Cesar Benjamin: 0.O triunfo da razao cinica