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Governo Bolsonaro não acabou, mas os dias de março o colocam à prova

O governo Bolsonaro não acabou, como disse o haitiano, mas os dias de março desafiadores para a saúde pública,indicam perda de apoio.
Coletiva de governo . Foto: Divulgação/Presidencia.

Não tem sido uma semana fácil para o presidente Jair Bolsonaro, que levou boas bordoadas desde que decidiu no domingo (15) cumprimentar a galera que no gramado da Esplanada dos Ministérios pedia a cabeça dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado e fazia louvações ao mito, mantendo esperança em um governo teleguiado pelas redes sociais, que não nos deixa sem emoção nem um dia sequer em razão da peculiar, vamos dizer assim, personalidade do comandante da nau Brasil.

Tudo começou naquele dia, quando já havia a recomendação para que ficasse isolado. Ele viajara para os Estados Unidos e colaboradores como a advogada Karina Kufa e o secretário de Comunicação Fábio Wajngarten contraíram o coronavírus. Surpreendeu a nação com mais um comportamento inadequado para o cargo, e com o gesto avalizou o enxovalhe aos chefes do legislativo.

No dia seguinte, 16, o jurista Miguel Reale Junior, e a deputada Janaína Paschoal, autores do pedido de  impeachment da presidente Dilma Rousseff, chegaram ao limite da paciência com o presidente. Reale Junior disse que o Ministério Público deveria provocar um pedido de exame de sanidade mental de Bolsonaro, e Janaína disse que ele deveria ser afastado, deixando Hamilton Mourão, o vice-presidente general, dirigir a embarcação.

Ciro Gomes no Roda Viva, na TV Cultura, disse que Bolsonaro não tinha condições de governar, o deputado Alexandre Frota anunciou pedido de impeachment do ex-aliado e a noite da segunda-feira, 16, é coroada com a gravação de um vídeo de um haitiano no portão do Palácio da Alvorada dizendo na cara do presidente: Bolsonaro, seu Governo acabou!

Teve ainda uma reunião dos chefes dos poderes, Dias Toffoli (STF) e David Alcolumbre (Congresso Nacional), à exceção de Bolsonaro (Executivo). Quem lá estava era o aclamado ministro Luiz Mandetta. Para tratar de ação comum contra o coronavírus. Será que o presidente se ausentou porque decidiu se isolar ou quis evitar o baita constrangimento de encarar os chefes dos poderes que a todo tempo são jogados à fogueira pela irracionalidade bolsonarista?

Alexandre Frota não cumpriu o prometido para a terça-feira, 17, mas o deputado distrital Leandro Grass, da Rede, sim. Oficializou pedido de impeachment por crime de responsabilidade, noticiado pelos jornalões como o “primeiro pedido” de impeachment feito. Arre! Outros virão? O que intenciona Frota?

Por agora, Rodrigo Maia vai esquecer na gaveta esse pedido. E quem sabe veremos ainda entusiastas do Fora Maia agradecerem o presidente da Câmara dos Deputados.

Veio então o panelaço, com direito a reprise nesta quarta-feira, 18, com a contabilidade de ocorrência em 20 capitais, tirando um pouco o brilho da aparente normalidade governamental resultante do encontro com a imprensa para anunciar diversas medidas no campo da economia e da saúde destinadas a reduzir danos com a proliferação do coronavírus no Brasil.

A má vontade com o presidente e seu governo é de tal magnitude, em certas ocasiões, que os analistas televisivos da Globo News se empenharam, com dois especialistas em saúde, em gastar o precioso tempo do telespectador com a “útil” perquirição sobre ser adequado ou não o uso das máscaras pelo presidente e ministros durante a exposição de medidas.

Omitiram a informação de que Bolsonaro havia justificado seu uso porque ele e membros da equipe tiveram contato com o ministro de Minas e Energia e general Augusto Heleno, testados para coronavírus. Achei hilário o blábláblá das máscaras, mas sobretudo patética a repetição do inútil a um e outro entrevistado!

Nem um mísero segundo dedicaram-se a comentar sobre a concessão do voucher, decreto de calamidade pública, redução da jornada de trabalho e salário etc. Não à toa perdem credibilidade, mas culpá-los pelo coronavírus e histeria na sociedade serve para agitar a plateia virtual, não para governar. Eis a questão.

Fora Bolsonaro ecoavam as panelas e Bolsonaro desiste, seu governo acabou, disse o haitiano são resultado de um pote grande cheio de desacertos por parte da liderança presidencial, avessa à liturgia do cargo, que doravante, talvez, cumpra o que encorajou em palavras derradeiras na conclusão da coletiva: “Nossa união é que dará o norte e o ritmo que o Brasil precisa.”

O Governo Bolsonaro não acabou, mas os indicativos desses dias de março desafiadores para a saúde pública e o ápice das panelas são de perda de apoio de eleitores – é meu palpite –  que a ele recorreram não por representar a nova política, para esses um disfarce narrativo, mas por rejeitarem visceralmente o petismo.