José Bonifácio Lafayette de Andrada, mineiro, político da antiga União Democrática Nacional (UDN), oito mandatos de deputado federal, dizia que o também mineiro Tancredo Neves era um político capaz de tirar as meias sem tirar os sapatos.
Era manso, apaziguador, matreiro, cheio de tiradas sobre o mundo da política, dizia que na política quem guarda ressentimento morre envenenado, e se o político não foi dotado com a graça da humildade deveria pedir a Deus a da dissimulação e fingir que é modesto.
Advogado, empresário, foi fisgado pela política, vocação iniciada com o mandato de vereador, e que o levou a cumprir tarefas cada vez mais importantes, como a de ser primeiro-ministro do presidente João Goulart e governador de Minas Gerais, no início dos anos 80, quando o Brasil iniciava o processo de redemocratização e crescia o movimento pelas Diretas Já.
No Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas Gerais, Tancredo iniciava conversas para montar sua equipe de governo. Um político que havia perdido o cargo parlamentar queria muito ser secretário de Estado. Como muitos com acesso à imprensa, articulava notinhas nos jornais especulando sobre sua possível nomeação para o secretariado de Tancredo Neves.
“Plantar” notas como chamamos no jargão jornalístico é até hoje um estratagema que certos políticos gostam de usar, contando com a boa vontade – paga ou não – da pena de algum colunista. Pois bem.
Se aproximava o dia em que Tancredo Neves iria anunciar seu secretariado, e o político, ansioso, quis ter audiência com o governador eleito. Conseguiu. Chegando ao encontro, disse:
_Dr. Tancredo, a apreensão é grande, é natural, estão todos os amigos e a família me perguntando, querendo saber afinal qual o cargo que irei assumir. O que o senhor me diz?
_ Meu filho, diga a todos eles que eu lhe convidei e você não aceitou! Fica melhor assim, você sai por cima!