Entrevista
Sérgio Gonçalves da Silva, superintendente de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura de Rondônia
No cargo desde o início do governo Marcos Rocha, o administrador Sérgio Gonçalves enfrenta o desafio de avançar o programa de microcrédito existente no Estado, que passa por reformulações para ampliar ainda mais o crédito a quem precisa de pequenas quantias para tocar algum negócio. Uma delas, já exitosa, é a redução dos juros do financiamento feito pelo Banco do Povo, que caiu para menos da metade dos 4% praticados anteriormente.
“Já melhorou muito a efetividade do programa”, disse ele, informando que na pandemia foram firmados 4 mil contratos de financiamentos. Para melhorar ainda mais os indicadores da economia rondoniense, a Sedi irá lançar um programa de apoio e capacitação a empresários com potencial de exportação e atua para atrair investimentos. O superintendente conversou com o Blog da Mara sobre os projetos da pasta:
Blog da Mara – Recentemente, a indústria brasileira e de Rondônia promoveram, com apoio do Estado, o Fórum Amazônia 21+. Os setores empresariais e gestores públicos tem convergido para a construção, na Amazônia Legal, de uma via de desenvolvimento que considere a floresta em pé, a economia verde. A Superintendência de Desenvolvimento Econômico e Infraestrutura de Rondônia (Sedi) trabalha nesta proposta?
Sergio Gonçalves – É uma pauta mais afeta a Sedam (Secretaria do Desenvolvimento Ambiental), e que só mais recentemente passou a ser discutida com envolvimento econômico, preservação da floresta e empregos, são milhões de brasileiros que moram aqui e estão fora dos grandes centros, e a gente sabe que a logística é importante, e a floresta em pé também. Só que a gente precisa buscar maneiras de fato para prosperar na alternativa da economia verde, e ao mesmo tempo gerar desenvolvimento, gerar conexões com outras regiões do país. É algo relativamente novo, estamos em discussão com a Sedam, fazendo estudos da economia verde, buscando criar mecanismos, um marco regulatório para realmente deixar a floresta em pé; é um mercado muito forte que está crescendo.
Estivemos no Amapá, onde se avançou bastante essa questão, para conhecer a experiência. São mais de 170 milhões de reais de ativos florestais, o inventário de florestas é transformado em títulos comercializáveis no mundo inteiro. É um programa que cria créditos de natureza jurídica vinculados às riquezas florestais do Estado. Estamos em estudo preliminar por aqui, com apoio técnico do Programa de Modernização e Governança das Fazendas Municipais de Rondônia e Desenvolvimento Econômico-Sustentável dos Municípios (Profaz), vinculado ao Tribunal de Contas. Não há hoje legislação de incentivo tributário que abrace a economia verde.
Blog da Mara – Estamos concluindo o segundo ano de gestão Marcos Rocha. Quais os projetos da Sedi para promover o desenvolvimento económico e Rondônia e melhorar os indicadores da economia, tais como o crescimento do PIB?
Sergio Gonçalves – No planeamento estratégico do governo constam, no que diz respeito a Sedi, eixos importantes para nosso desenvolvimento. O primeiro deles é o de atração de investimentos. Melhorar a exportação do Estado. Sinalizar para o mercado do Brasil o quanto de Rondônia pode ser interessante como destino do setor produtivo; nos esforçamos para divulgação de nossas potencialidades. Estruturamos na superintendência um canal de interlocução do empresariado com o governo. Queremos exportar mais e queremos atrair mais investimentos. No ano passado, recebemos mais de 900 empresas, consultas diversas, mais de 600 empresas somente no período da pandemia. Desde janeiro até agora temos projetos que totalizam 3 bilhões de reais. E a outra aponta é aumentar as exportações, capacitar empresas.
Blog da Mara – Por que essa preocupação com a capacitação?
Sergio Gonçalves – É preciso desmistificar questões que afetam nossos empresários. Eles reúnem características de produtos que se veem exportados mas não se veem exportando. Queremos trabalhar principalmente com os pequenos, os médios mas também os grandes. Em fevereiro provavelmente vamos lançar um programa que vai fortalecer o mercado de exportação para nossas empresas. Haverá capacitação para elas. Há um desconhecimento da legislação e da questão comercial mesmo. O empresário tem um produto e não conhece o desafio comercial, que é o primeiro problema que enfrenta, e o segundo é a legislação. Como adequar o produto dele à legislação do país, adequar a embalagem, formato do produto, e por último é o desafio do volume, da regularidade de produção, a importância da cadeia produtiva. Outro eixo é o programa de microcrédito do Estado.
Blog da Mara – Como está funcionando o programa de microcrédito?
Sergio Gonçalves – O empresário pequeno tem desafio grande de acesso ao crédito. Os bancos querem emprestar grande volume, com baixíssimo risco, então para o pequeno o crédito fica muito caro. Temos um programa há mais de dez anos, e temos feito a reformulação do microcrédito para chegar mais na ponta. A taxa de juros era de 4%, na pandemia ficou zero, no mercado normal volta a ficar competitiva, menos da metade disso. Para se ter ideia hoje temos 4 mil contratos firmados na pandemia e quase 10 milhões de reais financiados no Estado todo. Mais de 98% de nossos empresários são micros e pequenas empresas, são os grandes empregadores. Vamos ampliar o microcrédito até dezembro de 2022, chegar no máximo possível aos municípios e de forma desburocratizada. Já melhorou o programa, com a taxa de menos de dois por cento ao mês, e se pagar em dia tem desconto de 30%, cai muito.
Blog da Mara – O principal instrumento do microcrédito é o Banco do Povo?
Sérgio Gonçalves – Sim, isso mesmo. Queremos no pós-pandemia fazer mais ajustes para que o programa chegue a mais pessoas. O programa gera competitividade, renda e emprego. O Banco do Povo está em 32 cidades do Estado, agora temos metas com as reformulações feitas. Já melhorou muito a efetividade do programa. Temos o propósito de chegar a 49 municípios até dezembro de 2022, o que é quase a totalidade de nossas cidades.
Blog da Mara – Há um outro eixo, o da Inovação. Como se desenvolve?
Sérgio Gonçalves – O Estado, até 2019, era o último colocado em inovação do Brasil. Queríamos ter avançado muito mais, porém a pandemia atrasou um pouco e projetos ficaram parados. A inovação consiste em pegar os empreendedores jovens, que estão disponíveis no mercado, com condição de criar ambiente de inovação, transformar o produto e virar um grande negócio no campo de Incubadoras e Aceleradoras. Rondônia por algum motivo não avançou praticamente nestas áreas. Para criar esse ambiente de inovação é preciso definir uma mentoria, para desenvolver as ideias de forma guiada, como se fosse uma escola de empreendedorismo na era de inovação.
O Hub.RO está no shopping, estamos lá com 52 estações, é um espaço para ideias criativas virarem negócios; vamos ter um modelo de edital, os interessados irão se candidatar e ter um tempo para serem acompanhados no processo de mentoria. Pretendemos replicar esse modelo no interior. A meta é instalar outras 25 incubadoras no Estado, até dezembro de 2022, e atender mais de 10 mil empreendedores por ano. A incubadora de empresas é um grande vetor de desenvolvimento do estado, vamos ver grandes resultados no processo de inovação. Esse ano era para ser deslanchado, infelizmente a pandemia atrasou o processo.
Blog da Mara – A mentoria será executada pelo próprio governo?
Sérgio Gonçalves – Nosso trabalho é conceber o programa, mas a mentoria exige a contratação de uma empresa especializada nisso, com experiência na metodologia. Está em fase de licitação a empresa que vai proporcionar a metodologia. Todo programa nós é quem desenhamos. O que a mentoria vai entregar é sob direção e orientação da superintendência, que define a implantação. Queremos chegar a 26 ambientes de inovação até dezembro de 2022. Aumentar o registro de patentes, número de startups, queremos colocar Rondônia no top 10 do Brasil. Nós temos tudo para isso.