Na Ciro Games,deputado David Miranda conta sobre ataques do PT

Miranda diz que os ataques decorrem porque existe tentativa de hegemonia em torno da candidatura de Lula.
Glenn, Ciro e Miranda: filiação ao PDT. Foto: Reprodução.

Deputado disse que Psol não é mais puxadinho do PT; é bonde mesmo

Avaliado nos últimos três anos como um dos 10 melhores parlamentares do Congresso Nacional, o deputado federal David Miranda (PDT) disse na Ciro Games desta terça-feira (29) que desde sua filiação ao partido do presidenciável Ciro Gomes e divulgação da foto juntos sofre “ataques homofóbicos incessáveis” por parte da militância mais radical do PT.

David Miranda na live Ciro Games de terça,28.

“Desde que a gente tirou a foto tem tido muitos ataques. Dizem que sou burro, que sou manipulado pelo meu marido – o deputado é casado com o jornalista Glenn Greenwald há 17 anos – e agora nas últimas semanas o ataque vem de forma homofóbica pesada contra a gente”, contou o deputado na live semanal de Ciro.

David Miranda continuou: “Mas você sabe, Ciro, a razão disso. Existe uma tentativa de hegemonia em torno da candidatura Lula. Tanto que estão querendo passar uma agenda para tirar o nosso voto democrático e de opinião no primeiro turno.”

Os ataques ao casal por parte da militância petista nas redes sociais foi inclusive relatado em artigo de Glenn publicado no jornal “Folha de São Paulo” do dia 22 de junho. No texto, o jornalista norte-americano, radicalizado no Brasil desde 2005, criador do site Intercept Brasil, que trouxe à tona o vazamento de mensagens da Lava Jato, disse entender agora o sentimento da ex-ministra Marina Silva, que atribuiu ao gabinete do ódio o PT a campanha difamatória sofrida nas eleições de 2014, a partir do momento que cresceu nas pesquisas e ameaçou Dilma Rousseff.

“Nos últimos meses, vi esse mesmo setor do PT, a sua ala mais fanática e odienta, usar essas mesmas táticas de destruição pessoal para espalhar mentiras e tropos bem preconceituosos sobre meu marido, o deputado federal David Miranda (PDT-RJ), sobre nosso casamento e nossa família”, publicou Glenn.

Segundo ele, é uma ala minoritária, mas muito barulhenta, financiada e articulada, com muitos blogs a seu serviço. O jornalista lembrou que até bem pouco tempo, por causa da revelação das mensagens atribuídas a Sergio Moro e Deltan Dallagnol, o PT era só elogios a Miranda e Glenn.

Psol: não é mais puxadinho é bonde mesmo

David Miranda disse que após sofrer tortura por parte do governo norte-americano (por causa de seu trabalho jornalístico com Edward Snowden), ameaças a ele e sua família por causa das matérias da vaza jato – “diziam que iam esquartejar meus filhos e atirar na cabeça da minha mãe” – vocês acham que vão me intimidar com estes postzinhos da internet?

Ele falou de sua infância pobre na favela do Jacarezinho, sem ter conhecido o pai e perdido a mãe aos cinco anos – foi acolhido por uma empregada doméstica que já tinha cinco filhos -, e relatou porque deixou o PSOL, partido criado em 2004 por dissidentes petistas. Ele se filiou ao PDT em março deste ano.

Miranda disse que “a realidade é a que a aproximação do PSOL cada vez mais com o projeto Lula estava causando um descontentamento muito grande” e que desde 2020, quando foi um dos primeiros parlamentares a pedir o impeachment de Bolsonaro no Congresso Nacional, em março,  já vinha um desgaste com a legenda.

“Discutimos isso na bancada, com a deputada Fernanda Melchionna, em março, mas o partido só apresentou o pedido em 21 de maio. O primeiro partido a pedir foi o PDT, em abril, e isso foi uma referência para mim,” disse.

David Miranda disse que se sentia discriminado. “Para utilizar a pauta LGBT, do negro e da favela legal, vamos colocar o David para isso. Para espaços de debates e liderança eu não estava tendo,” lembrou.

Miranda disse que não viu a oportunidade de ter um debate real sobre o Brasil porque o “petismo começou a cooptar e absorver a militância.”

“Como pode um partido que sai, se transforma para ser oposição a tudo aquilo que a esquerda do governo Lula e da Dilma representavam, e começa uma junção, que antes chamavam de puxadinho do PT, mas não é mais, é bonde mesmo,” disse, ressaltando ter o “maior respeito pelos companheiros como Luciana Genro, Fernanda Melchionna e outros que estão na luta.“

Coragem e cálculo eleitoral

O deputado disse também que na Câmara dos Deputados conhece muitos parlamentares que “estariam te apoiando Ciro, mas não te apoiam porque não tem coragem, porque estão pensando no cálculo eleitoral.”

“Eu mudei para o lado da coragem, que tem projeto nacional de desenvolvimento. Fiz o que muitos não tem coragem para fazer. Política para mim não é cálculo eleitoral. Política para mim é representar os que me elegeram. Exatamente por isso faço a mudança. Te apoio. Reeleição para mim é só um processo. Se o povo me quiser, estarei lá novamente. Se não quiser, vou continuar militando nas trincheiras necessárias,” declarou.

Miranda disse que “essa galera,” referindo-se aos colegas deputados, “não pisa na favela, não sabe o que é a realidade de um assassinato na favela, pegar uma mãe e ter de conversar; conversar com uma mãe que está com medo de voltar para casa.”

“Essa galera só quer ser reeleita. É uma vergonha. Covardes. Isso não é fazer política. Política se faz com coragem, enfrentando aqueles que estão no poder, e não estão fazendo política real para a população brasileira. Vergonha! Nosso lado tem esperança e tem coragem,” disse, desculpando-se pela exaltação.