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Não dá para dizer “você tem minha confiança, Lula”

A gestão é subalterna ao eterno nós x eles. A percepção de uma boa gestão é sentida no dia-a-dia, mas o que predomina é a polarização.
Luiz Inácio deu bronca, mas não faz autocrítica. Foto: Ricardo Stuckert/PR.

Luiz Inácio Lula da Silva deu uma bronca na ministra Nísia Trindade, da Saúde. Errado ele não está. A percepção que tenho do setor é de um caminhar tímido, pouco incisivo e atuante para quem está em guerra contra a dengue, nesses poucos meses de 2024 com o maior registro anual da doença no século.

Desatenta à Covid, às voltas com a gula do Centrão e enrascada com a balbúrdia corrupta que são os hospitais federais do Rio de Janeiro entre outras prementes questões, a ministra, oriunda dos quadros da Fundação Oswaldo Cruz é “imexível,” já disse o presidente da República mais de uma vez.

E ao fim e ao cabo da bronca, à Nísia, emotiva na reunião ministerial, disse: “Você tem minha confiança.”

Ótimo. Confiança, contudo, precisa ser atributo vinculado não apenas à honradez pessoal e qualificação ostentada na formação profissional, mas na capacidade de gestão.

Algo que, vamos combinar, o Ministério da Saúde e o governo V do PT como um todo, com exceções, falham miseravelmente.

O ano passado, por exemplo, o Ministério da Educação não executou um centavo sequer dos mais de R$ 800 milhões para alfabetização.

E a razão é muito simples: o maestro da orquestra apenas adorna um slogan, União e Reconstrução, mas prega o contrário: investe na polarização desde que assumiu, como ferramenta para se manter no poder, objetivo principal do Partido dos Trabalhadores. Divide, não agrega.

Vejam como é nociva a reeleição: em meados do ano passado, resolução do partido definiu que todos deveriam atuar em 2024 para reeleger Lula em 2026. E a gestão?

A gestão é subalterna ao eterno nós x eles. A percepção de uma boa gestão é sentida no dia-a-dia, depende da condução do maestro, mas o que predomina é a polarização, em reunião ministerial indevidamente incrementada pelo “covardão” ao se referir a Bolsonaro.

A percepção da gestão que se tem é a da gastança, tomar mais dinheiro do contribuinte e seguir com o modo de governar do partido – destruir qualquer sistema de governança de moralidade do Estado, tornando o velho patrimonialismo instrumento de sucesso para a cooptação de almas para a engrenagem da corrupção.

Algo que as pesquisas apontam ser, ao lado da segurança pública, a maior preocupação do brasileiro. Quem diria. A corrupção, valor negativo não levado em conta pela população nas aflições delineadas em pesquisas, agora é, e vai continuar até o final do V governo PT.

Fácil adivinhar a razão: os sinais de um retorno sujo ao passado estão em vários espaços de poder, as redes sociais desnudam tudo.

E, erro fatal da esquerda carcomida, nas últimas resoluções o partido diz que nada fez de errado no passado que o condena, tudo foi perseguição. A reconstrução – contém ironia – anda a pleno vapor.

O líder do governo finge reger a orquestra com decência, enquanto fatia a lei de estatais, transfere montanha de dinheiro para o Centrão e aparelha com sinecuras para ministros e esposas postos generoso$ nos conselhos das empresas. Há mais, e nada mais fica oculto.

Luiz Inácio Lula da Silva passou 2023 andando pelo mundo, sem que na reunião ministerial fosse feito um balanço do resultado das viagens irrigadas em mais de 60 milhões de reais.

Sem travas na língua, diz “besteiras” que todos estamos cansados de saber, com o intuito de cimentar a polarização.

Aliada à carestia dos alimentos, contribuíram para a queda de sua popularidade. Mas ele culpa a Comunicação.

Insiste na reedição de políticas do passado, algumas de valor sem dúvida, todas para uma bolha do eleitorado previsível e acomodado em mais um ciclo de governo inerte à urgente necessidade de reforma estrutural em diversas áreas do país, como a da educação, que de verdade teria de estar no topo das urgências e prioridades.

Adicione-se nesse liquidificador de previsibilidade o identitarismo acomodado em algumas pastas da Esplanada, que mais gastam dinheiro em viagens e diárias sem resultado concreto para a sociedade.

Só contribuem para elevar o gasto público, e para tristemente dividir a sociedade brasileira.

O maestro da orquestra é capaz de dar bronca, mas não faz mea culpa das atitudes responsáveis pela queda de sua popularidade e de seu governo.

Assumiu sem projeto e rumo. Não amplia eleitorado, reconstrói a mesmice, tenta reeditar a história e concilia com setores que impedem o Brasil crescer e se desenvolver como precisa. Não dá para dizer “você tem minha confiança, Lula.”