No meio do caminho, pedras pesadas colocadas por Lula exigem mudança

Até aqui, o problema é mais de foco do governo, que não tem projeto e metas claras, agindo aos solavancos, sem liderança e capacidade de articulação.
Lula nunca cumpriu promessa de se reunir com parlamentares. Foto: Valter Campanato./ABr.

A aprovação de apenas 24% no meio de mandato do petista Luiz Inacio Lula da Silva acendeu todos os alertas no Palácio do Planalto. No meio do caminho, há muitas pedras pesadas corroendo a gestão Lula, cuja rejeição (41%), a cada pesquisa mais acentuada, inviabilizará eventual nova postulação à Presidência da República.

A pesquisa sai com o início dos trabalhos de uma nova gestão na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, respectivamente presididos por Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União-AP), líderes do Centrão, que tem 346 deputados distribuídos em nove partidos. Apenas União e Republicanos, dos novos chefes do parlamento brasileiro, somam 103 na Câmara.

Por iniciativa do Centrão, havendo a junção de dois a três partidos com número de parlamentares semelhante em cada, cai por terra qualquer votação do governo que precise do quórum de maioria absoluta, 257 votos, o que é o caso de um projeto de lei ordinária por exemplo.

Até aqui, o problema é mais de foco do governo, que não tem projeto e metas claras, agindo aos solavancos, sem liderança e capacidade de articulação, do que propriamente os apetites de certas figuras do grupo, como Arthur Lira, para que as derrotas tenham ocorrido ou as vitórias obtidas a peso de muita emenda.

Subterfúgio tão criticado na gestão presidencial anterior pelo lulopetismo, que dobrou a aposta e cedeu muito mais dinheiro público do orçamento seja secretamente ou não.

O governo entregou uma agenda de prioridades à Câmara que abrange 45 propostas em tramitação ou que serão enviadas, das quais 25 são de economia, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, consolidar o arcabouço fiscal, permitir o crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada e alterar estrutura de supersalários entre outras.

Um tema caro para líderes conservadores, bancada da bala e Centrão, tudo junto e misturado, é a PEC da Segurança Pública. O governo não deve vencer essa batalha. Govenadores se preparam para pressionar sua inviabilidade, que mexe com a autonomia dos Estados no setor, junto às respectivas bancadas.

É uma pedra difícil e pesada, e a depender do grau de paciência e eficiência do governo em lidar com os deputados, a corrosão na frágil base do governo será ainda mais estrondosa, com menos dinheiro, presume-se, para jorrar por lá.

Em ano pré-eleitoral, quanto está em jogo a sobrevivência política futura dos parlamentares, o governo não terá vida fácil, e o Centrão já condiciona a colaboração a uma reforma ministerial mais abrangente. O núcleo político do governo – Casa Civil e Relações Institucionais – é alvo do grupo.

Haverá extinção de parte da monumental montanha de ministérios (39)? Os petistas não costumam abrir mão da ascendência que tem em pastas estratégicas politicamente e de orçamento gigantesco, como as áreas social, educação e saúde. Que dirá cortar as pastas identitárias.

Com a popularidade de Lula em queda livre, líderes do Centrão que se queixam – com toda razão – do distanciamento do presidente, que não os recebe no gabinete como fazia em mandatos anteriores, começam a seguir em duas direções.

Nem fazem questão agora de ficar ao lado do presidente, pois uma foto pode chamuscar a imagem na sua base eleitoral, ou exigem mudanças ministeriais urgentes para acomodar políticos que inclusive estão na fila há tempos, sem que o governo tenha cumprido a promessa de alojá-los até agora. Lembrando que o prazo para se desincompatibilizar do cargo é abril de 2026.

No meio do caminho, a pedra da desatenção e da falta de contato com os que foram eleitos do mesmo modo que Lula poderia ter sido evitada. Lula prometeu se reunir com líderes do Senado e da Câmara e nunca cumpriu.

Preferiu no primeiro ano fazer turismo para o exterior. Viagens a que o distinto povo brasileiro não sabe que utilidade tiveram por que, como sabemos, a transparência do governo é praticamente nula. Até mesmo para os filhos do presidente e para tudo que cerca a primeira-dama Rosangela, como as constantes e caras viagens internacionais, o sigilo é eterno.

A primeira-dama ressignificada é outra pedra no caminho de Lula, Janjapalooza criada por ele mesmo. Ela tem a inacreditável rejeição de 58% dos brasileiros. O PT sabe tanto da sua desagradável presença que decidiu escondê-la nas campanhas municipais, invertendo o plano original.

Depois, Lula brigou de faz de conta com o então presidente do Banco Central Roberto Campos Neto, apoiou mais a sanha arrecadatória de Haddad, defendeu ditaduras e cooptou ministros do STF e alguns políticos em jantares exclusivos. Alias, Hugo Motta, depois de eleito, já deu recados: um deles é de que haverá resistência entre parlamentares de qualquer medida prevendo aumento de impostos.

Ao invés de demover pedras que colocou em seu caminho, fez a defesa de terroristas e se portou como antissemita 2.0. E agora aderiu de vez ao dilmês lá no Amapá, ao discursar sobre seu gosto por comer ovos de tudo que é bicho.

Porém, a pior das pedras que carrega em parceria com seu ministro da Fazenda Fernando Haddad, que desde o começo do governo optou por atuar para aumento de receita, seguirá ao que tudo indica intacta: a convicção de que somente a gastança pública é capaz de promover alguma melhora para o povo brasileiro, e derrotar a inflação.

Com a explosão da dívida e gastos ineficientes e sem qualidade, como à farta demonstram setores da imprensa, afundará o orçamento nacional e todos nós em pouco tempo.