Sem competitividade, causada pela deformação tecnológica, custo do capital e tributos, a produção brasileira de máquinas e equipamentos não consegue concorrer com os bens estrangeiros, sobretudo da China, que vende como nunca para o Brasil.
Isso não é exatamente novidade. Há tempos as empresas que fabricam maquinário no Brasil, e ela são 9 mil, dos quais mais de 70% são micro e pequenas, vem perdendo espaço para as concorrentes estrangeiras.
O governo Lula 3 lançou no ano passado o programa Nova Indústria Brasil (NIB), com foco em agroindústria, complexo industrial de saúde, transformação digital, bioeconomia e transição energética e tecnologia de defesa, mas a sorte do setor de máquinas e equipamentos, como de resto boa parte do que o programa propõe, foi lançada à sobrevivência de UTI.
O mais duro é que são empresas de pequeno porte. As que absorvem mais empregos. Não há quem resista a um modelo econômico que insiste em manter o custo de capital alto, como resultado de elevação constante dos juros, por causa de um governo deficitário, que tem dívida crescente. Como colocar em prática uma política industrial com essas condições?
Reportagem da Folha de São Paulo publicada no sábado, dia 3, mostra que os equipamentos importados respondiam há uma década por 30% do mercado, e hoje são 48,3%, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).
No momento, houve um incremento no investimento de parte das empresas nacionais para compra de máquinas e equipamentos. No acumulado em 12 meses até o final do primeiro trimestre, o consumo de maquinário novo pelas indústrias teve alta de 13,2%.
É bom mas é ruim: enquanto a compra de importados saltou 30%, o consumo de bens nacionais foi de apenas 4,9%, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea).
Tanto a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) quanto a Abimaq acham difícil reverter o processo de crescimento das importações, inclusive dos bens industriais finais, como eletrodomésticos, veículos, produtos da linha branca etc.
A Fiesp observa que os efeitos da última revisão para cima dos juros serão sentidos com mais força a partir de agora. E após crescimento de 3,6% da manufatura em 2024, a expectativa é de apenas 1,1% positivo neste ano.
Igor Rocha, da Fiesp, diz que o Brasil perde espaço nos segmentos de bens industriais de média e alta tecnologia há anos, assim como no de máquinas e equipamentos, e ampliou e sofisticou a produção de produtos primários, como commodities agrícolas, minerais e petróleo.
“O agronegócio tem vantagens de financiamento que a indústria não tem, além de vivermos sob um sistema tributário paleolítico e um custo de capital elevadíssimo. Não há atualização de maquinário, daí a perda de competitividade”, diz à Folha de São Paulo. É um diagnóstico surrado, mas não há mudança.
Em abril, a CNI divulgou o Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI). Entre março e abril ele caiu 1,2 ponto. É o mais baixo indicador desde o ano da pandemia, 2020. O cenário preocupa.
Para a entidade empresarial, se não houver descompressão da política monetária a capacidade de investir será cada vez mais reduzida. Os juros altos afetam o financiamento obtido em nosso país, super favoráveis no Japão e na China a quem produz, gera renda e emprego.
Com a guerra de tarifas entre Estados Unidos e China, há o temor de invasão de produtos chineses no grande mercado brasileiro. No início de abril, o professor Matias Spektor, fundador da escola de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi o primeiro a enunciar essa preocupação tão logo Donald Trump estipulou tarifa de 10% para o Brasil.
“Alguns setores industriais poderão ser varridos do mapa com uma enxurrada de produtos chineses que serão redirecionados para outros mercados, ao ser afetados pelas tarifas americanas. O grande dilema do governo brasileiro ficará entre proteger setores com maior capacidade de lobby em Brasília e evitar retaliações do país asiático,” disse ele.
A China é grande parceiro do Brasil, mas ameaçador parceiro, vaticina o professor. “Porque somos muito dependentes deles,” concluiu.
Se nada for feito, não irá demorar para que o Brasil seja ainda mais invadido por quinquilharias chinesas, produtos de toda variedade e sofisticação, para atender o consumo brasileiro e o setor produtivo continuará, diante de uma política monetária criminosa, deixando de investir por falta de competitividade e na direção da falência.
É assunto tão irrelevante nos atos, falas e gestos da maior autoridade pública do Brasil que parece mesmo que o país não quer ver sua indústria suprir os bens que consome.
O Brasil então irá se consolidar como o paraíso de importados, algo que Trump tenta reverter nos EUA.