Entrevista Evandro Padovani
Secretário de Estado da Agricultura mais longevo no cargo, Evandro Padovani tem a responsabilidade de, no momento da crise sanitária do novo coronavírus, quando por força do isolamento as pessoas diminuíram o consumo, estimular o setor produtivo e se cercar de cuidados para que a safra de grãos 2019-2020 em Rondônia corresponda ao que prevê o 8º levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – 2,3 milhões de grãos, uma variação 5,4 % superior à safra anterior.
A maior preocupação, entretanto, não é o “inimigo visível”, pois na área rural, devido à distância, não há problemas de infecção pelo novo coronavírus como nas cidades. “Estamos preocupados com o cenário econômico, com o dólar nas alturas, cerca de 6 dólares o real, o que afeta a produção”, diz Padovani.
Produtor rural, técnico agrícola, sempre ligado à agricultura, Padovani há 7 anos está no comando da agricultura estadual. Diz ter paixão pelo que faz, e acredita que o governo federal protegerá a economia brasileira e atua para reverter o câmbio. Veja a íntegra da entrevista ao Blog:
Blog da Mara – Secretário, a crise sanitária do novo coronavírus afeta a atividade agropecuária em Rondônia?
Evandro Padovani – Estamos preocupados com o cenário econômico, claro, o dólar nas alturas, saiu de 3 e agora cerca de 6 dólares o real, isso afeta compromissos feitos pelo produtor, eleva custos lá para cima. É muito preocupante. Mas eu acredito que o governo federal atua para proteger a produção brasileira, estamos em plena safra, batendo recorde de produção, graças a Deus. São 250 milhões de toneladas no país. E o mundo todo precisa de alimentos, e para o Brasil é oportunidade grande. Vamos sair dessa. Temos um inimigo invisível, atingindo fortemente o país, mas graças a Deus que na área rural, devido à distância, não há problemas maiores, expedimos quatro notificações de orientações, especialmente para a cultura do café e não tivemos paralisação até o momento no setor agropecuário.
Blog da Mara – Como o governo federal está agindo para proteger a produção, reverter o câmbio?
Evandro Padovani – O governo federal estava indo muito bem, recuperando a economia, não havendo corrupção, o ministro da Infraestrutura tocando importantes obras, infelizmente veio a pandemia e o governo teve que refazer seus cálculos, dirigindo recursos maciços para a saúde, e isso vai dificultar um pouco a retomada do crescimento. Porém, temos tudo para voltar de novo ao processo de acertos na economia. O que é preciso é dar mais apoio ao governo, deixar a politicagem de lado, não querer tirar proveito para ideologia partidária.
Blog da Mara – A safra do país é recorde, a safra de soja em Rondônia pode superar 1 milhão de toneladas, e a produção de grãos como um todo?
Evandro Padovani – Em Rondônia só não colhe quem não planta. Em relação à soja há uma expectativa de crescer 17% em relação a safra anterior, houve 20% de aumento em área plantada, é destaque nacional, e precisamos ver os dados da produção ainda para fornecimento de farelo de soja, a exportação para multinacionais, e lá para setembro ou outubro teremos informações do quanto foi processado e exportado. Há uma previsão de pelo menos 1 milhão de toneladas, e mais de 400 mil hectares plantados. Estamos no 14º lugar no ranking, e em 5 a 7 anos podemos chegar a produzir em 1 milhão de hectares. Com o detalhe, é bom lembrar, de que não esgamos abrindo novas áreas.Está se utilizando parte dos 8 milhões de hectares de áreas degradadas Estamos concorrendo com Tocantins na produção de algodão, temos 11 mil hectares, e a safrinha de milho é sucesso.
Na safra 2018-2019 tivemos aumento de 13,3% na produção do arroz; de 8,5% no café; cacau foi de 23,86%; soja teve aumento de 18,72%; cupuaçu foi de 198% e milho foi de 29,78%. Podemos superar estes números tranquilamente. O feijão teve um percentual de apenas 0,39%, mas é uma cultura de altos e baixos, exige mão-de-obra mais diferenciada, constante, a mecanização está mais na soja, áreas de médio e grande tamanho. Tivemos uma diminuição de 23% na produção da banana, mas se injetar mais capacitação, boas práticas, é uma cultura promissora, a região é favorável. Vamos superar mais de 2 milhões de toneladas de grãos.
Blog da Mara – O café é uma cultura sempre realçada no Estado. Houve ampliação da área plantada?
Evandro Padovani – Diminuiu a área plantada nos últimos 8 anos, passando de 82 mil hectares para 72 mil hectares. De outro lado aumentou a produção, saindo de 900 mil sacas para 2,3 milhões de sacas hoje, e a responsável foram a tecnologia e as práticas boas na cultura. A colheita da soja já aconteceu, a do café começou no dia 10 de abril, é uma atividade que se utiliza de muita mão de obra. A nossa notificação para o produtor, a orientação, é manter distanciamento, não ter aglomeração de pessoas, utilizar máscaras, fazer uso de água e sabão e os clones de café médio e longo geralmente são por linhas, o que possibilita o distanciamento maior dentro da lavoura. Orientação para restringir entrada de pessoas na propriedade, orientação quanto ao transporte, se possível marcar agenda de entrega para não fazer fila ou aglomeração na comercialização e para que se cuidem por meio de higienização correta.
Blog da Mara – Há uma orientação para o setor pecuário?
Evandro Padovani – Temos também um protocolo para dentro dos frigoríficos, para que não pare o processamento de carne, tem orientação do Mapa (Ministério da Agricultura e Pecuária) também, área de transporte também, para o transporte de trabalhadores. Nós também elaboramos orientações para a volta das feirinhas livres, para uso de máscaras e rigoroso higiene do local de venda e manuseio dos produtos, no espaçamento individual, mínimo de 2 metros de uma gôndola para outra. A instalação de uma pia com água é sabão é recomendável.
Blog da Mara – Os produtores de leite estão reclamando novamente do preço, e ameaçaram paralisar a entrega de leite aos laticínios. O que a Secretaria da Agricultura pode fazer?
Evandro Padovani – A pecuária de leite precisa se reinventar, se modernizar. Há grandes áreas de pastagem para gado leiteiro, mas a tecnologia possibilita qualidade para o leite em áreas diminutas. A qualidade é mais importante e não a quantidade de área. É preciso investir em assistência técnica, genética, em qualquer atividade no campo tem de ter apoio técnico constante, senão vai ficar e sair da atividade. De uma forma ou de outra, todos os governos apoiaram o produtor de leite, com nitrogénio, inseminação, mas esqueceram o principal, que é capacitar o produtor. Ele precisa recuperar o pasto degradado da propriedade, para oferecer alimento de boa qualidade ao animal, e oferecer sombreamento. Tem de possibilitar o gado andar o mínimo possível para beber água; não pode deixar o gado andar mil metros para fazer isso.
Blog da Mara – O programa Balde Cheio, da Embrapa em São Paulo, com experiências em Rondônia, não é um bom programa?
Evandro Padovani – Sim, usa tecnologia em pouca área para o gado leiteiro. O produtor tem de seguir uma rotina diariamente, ordenhar, fornecer alimentação, cuidados com a doença, utilização de ordenha mecânica. Por não ter o teor de gordura necessário, pois a alimentação do gado não tem sido de qualidade, 66% da produção de leite são transformados em muçarela. E devido á pandemia, houve redução de 50% no consumo do produto.
Existem alguns fatores na produção que colaboram para ter preço diferenciado. Infelizmente, ainda não temos a classificação do leite, como tem para a cultura do milho. Estamos conversando com órgãos públicos ligados à produção e pesquisa , como a Embrapa, a Emater, produtores de leite, incentivando a formar cooperativas e atuando para levar tecnologia de ponta.
O governo deve lançar estes dias o Agroleite e temos investimentos de 28 milhões de reais do Fundo Pró Leite para ações especificas na pecuária leiteira, entre elas a capacitação de 70 técnicos, fizemos a recuperação de duas usinas de produção de nitrogênio, fundamentais para o desenvolvimento do projeto de melhoramento genético através de inseminação artificial ou reprodução in vitro. O governador vai editar um decreto para elevar a pauta, para podermos enfrentar a concorrência de outros estados que entram com o leite UHD (caixinha).
Os laticínios dizem não ter como pagar pelo preço que os produtores querem pelo litro. Hoje (segunda,18) eu farei videoconferência com eles para saber a posição concreta da indústria. Temos 30 mil produtores de leite, é uma cadeia importante, que ajuda muito a economia dos municípios.