Pesquisar
Close this search box.

O muda muda que mais parece fim de governo

Podem ainda deixar seus cargos os chefes das três Forças: Exército, Marinha e Aeronáutica.
Jair Bolsonaro sofre baixa popularidade. Foto: Alan Santos/PR.

O governo Jair Bolsonaro é um governo que parece ter chegado ao fim. É também um governo que produziu até aqui tanta desagregação e desconstrução que no solavanco da negação à pandemia e das decisões que dizem respeito à economia e ao relacionamento com o Congresso Nacional fico a imaginar se o Brasil vai aguentar.

É por demais extenso o desatino até aqui cometido, em todas as áreas. Vejam agora a decisão mais recente do Congresso Nacional, irresponsável na votação do orçamento: aprovou um relatório que tira dinheiro da saúde e da previdência, uma tesourada para permitir que o volume de emendas parlamentares subisse de cerca de R$ 22 bilhões para R$ 48,8 bilhões. Fazendo politicagem em parceria escancarada com Bolsonaro, em plena pandemia, via Ministério do Desenvolvimento Regional – onde há bom dinheiro para as obras paroquiais.

O que fez as lideranças do governo no parlamento para evitar o que se caracteriza um crime fiscal – já anunciou o TCU – caso Bolsonaro não vete o orçamento?  O governo pagou caro pelo apoio do centrão, e o ministro da Economia Paulo Guedes estava onde para evitar essa barbaridade?  Até quando vai aguentar as estulticies de Bolsonaro, que liquida com todas as iniciativas dele e ao centrão sequer o presidente fez uma advertência sobre a inviabilidade de execução do orçamento como aprovado?

Agora, neste dia 29 de março, pegando de surpresa os colunistas políticos de Brasília, seis trocas de ministros foram efetivadas, as mais simbólicas e relevantes as dos ministros da Defesa, Fernando de Azevedo e Silva, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Quando da escolha de Eduardo Pazuello, o general da ativa definitivamente assumiu o Ministério da Saúde, em plena pandemia, apenas no dia 16 de setembro. Era interino desde o dia 3 de junho, mais um evento da negligência de Bolsonaro para com a saúde da população. Inaceitável. Agora foi diferente. Tudo rápido. Já anunciaram quem sai e quem entra.

A saída de Ernesto Araújo era dada como certa. A pressão para que deixasse o Itamaraty vinha de todo lugar, inclusive dos pesos pesados da economia, banqueiros, senadores e na surdina até governo estrangeiros. Dispensa-se aqui os motivos, bastando dizer que Araújo emprestou ao cargo uma verniz ideológica que definitivamente não cabe ao exercício da diplomacia.

A aposta agora, do zumzumzum que está Brasília, é se o ministro da Defesa de fato deixou o cargo porque o copo transbordou, por não se alinhar plenamente com o presidente, que reivindica mais apoio militar para suas incursões antidemocráticas, um Exército para chamar de seu, ou se tudo é jogo de cena, com certos atores dos quartéis, inclusive o vice-presidente Hamilton Mourão, se animando para colocar na rua um bloco militarista na política em 2022.

Nessa hipótese, Bolsonaro teria sido um mal necessário, já teria para certos amigos militares cumprido um papel traçado, levando o país à bancarrota por não ter conseguido dominar juntamente com as outras instituições de Estado  a tempestade perfeita que nos aflige: economia em risco acentuado, com pobreza aumentando, falta de controle da pandemia, a política “velha” cada vez mais “velha” e um judiciário não exclusivamente técnico, gerando insegurança jurídica aqui e além mares.

O campo está aberto para novos salvadores da pátria, fardados ou não, bem ao gosto dos brasileiros.

Podem ainda deixar seus cargos os chefes das três Forças, Exército, Marinha e Aeronáutica, Às vésperas do aniversário do golpe militar será uma simples coincidência as reações altivas que contrariaram Bolsonaro, incluindo na conta José Levi, que não quis assinar a ação contra governadores com a caneta da Advogacia Geral da União?

Esse muda muda mais parece o fim do governo Bolsonaro. Como eu já disse, de tédio ninguém morre no Brasil.