O Real derrotou inflação acumulada de 13,3 trilhões por cento em 15 anos

O lançamento do Plano Real foi em 7 de dezembro de 1993, governo Itamar Franco.
Itamar Franco: político mineiro era vice de Collor de Mello. Foto: Blog Os Guedes/

No prefácio do livro da jornalista Miriam Leitão, “Saga Brasileira: A luta de um povo por sua moeda, “o cientista político José Murilo de Carvalho diz que foi de 13,3 trilhões por cento a inflação acumulada nos 15 anos que antecederam o Plano Real.

Não foi trivial, portanto, a engenhosidade e o êxito do Plano anunciado pelo presidente Itamar Franco em 7 de dezembro de 1993, que tomou corpo no ano seguinte, com o objetivo central de estabilizar a moeda. Domar esse monstruoso bicho da inflação.

Para se ter uma ideia, em 1989, último ano do governo José Sarney, marcado pelo fracasso de três planos (Cruzados I e II e Verão), ela chegou a 1.972,91 por cento! O presidente Fernando Collor, primeiro eleito pelo voto após o fim da ditadura militar, tinha também ambição de estabilizar a moeda e abrir a economia brasileira para o mundo.

Ele de fato abriu a economia e a guinada para o Brasil sair do imobilismo, de baixo investimento e dívida externa elevada, era centrada no pensamento neoliberal. Lançou o Plano Brasil Novo (Plano Collor); Plano Collor II e o Projeto de Reconstrução Nacional.

Nenhum conseguiu estabilizar a moeda.  O que ocorreu foi o confisco de cerca de 70% dos depósitos bancários em conta corrente e poupança, outras medidas arrojadas como redução abrupta das tarifas de importação para a forçar as empresas nacionais à concorrência internacional e a indústria, como resultado das medidas de abrupta abertura, despencou 12%.

O Plano Real constou de três fases: na preparação, o ajuste fiscal, com meta de combate ao déficit público, buscando aproximar receita e despesa. O governo Itamar agia em duas direções, ao contrário do populismo imerso de novo na agenda política nacional com Lula3.

Atuava na contenção dos gastos e aumento da arrecadação. Por não contar com a aprovação de reformas, o governo reduziu repasses para estados e municípios, criando o Fundo Social de Emergência, de caráter temporário, até 1995, já no governo Fernando Henrique Cardoso, e depois o Fundo de Estabilização Fiscal, que vigorou até 2001.

A segunda fase do Plano foi a implantação da Unidade Real de Valor (URV), instrumento que serviu de indexador único da economia por 4 meses (1° de março a 30 de junho de 1994). E, por fim, o lançamento da moeda nova, o Real, em 1° de julho de 1994.

São 30 anos. A moeda trouxe a expectativa e o compromisso de uma estabilidade econômica duradoura, o que depende da ação dos governos e do comportamento da sociedade.

Se na ocasião houve enorme esforço para superarmos a mentalidade inflacionária, precisamos urgentemente, passa da hora, superar a mentalidade da gastança.

A mentalidade do “governo grátis” incrustrado na governança populista atual, a quem importa gastar e gastar com qualquer coisa sem controlar e acompanhar despesas, ser rigoroso com a qualidade do gasto, com definição de prioridades, é nociva aos interesses socioeconômicos do Brasil.

E a verdade é que o PT nunca aceitou o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), com os quais não se obriga plena concordância, mas é inequívoco nas iniciativas o caráter modernizante, de reorganização do Estado brasileiro, de superação de práticas clientelísticas e de proteção ao capitalismo primitivo.

Em Diários da Presidência, FHC conta de convite feito a Ciro Gomes.

É preciso ser dito, infelizmente a mídia com pouca exceção noticia, que o marco de 30 anos do Plano Real e da moeda em vigor não existiriam se não fosse o presidente Itamar Franco, que assumiu o cargo após o impeachment de Collor e priorizou a tarefa de domar a crônica inflação, que prejudicava a todos, especialmente a população mais pobre.

Foi no seu governo que foi montado time capacitado, de economistas experientes, sob coordenação do ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso, deslocado das Relações Exteriores para a chefiar a economia do país. Nomes foram indicados e escolhidos por Tasso Jereissati e Ciro Gomes entre outros do PSDB.

Itamar Franco, repete o diplomata aposentado Rubens Ricupero, ministro da Fazenda após FHC, sofria muita pressão política e partidária para abrir o cofre, temia do mesmo modo que os economistas que o plano não desse certo, mas resistiu. Ele mesmo queria oferecer um reajuste no salário mínimo, mas obedecia à Fazenda – não era hora.

Ricupero disse que “foram cinco meses intensos” para consolidação do Plano. Ficou pouco tempo por causa de uma parabólica que no intervalo de uma entrevista a uma TV captou a fala do então ministro da Fazenda – “o que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde.”

Imediatamente foi substituído em setembro de 1994 pelo então governador do Ceará Ciro Gomes, que relatou em aceitar a missão por causa do governo estadual. Ficou também pouco tempo no cargo, corrigiu rotas, taxou lucros e dividendos e nunca teve, costuma declarar, um dia de conta no vermelho. Receitas e Despesas sempre equilibradas.

A equipe do Plano Real montada no governo de Itamar Franco, era a seguinte: ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso; presidente do Banco Central, Pedro Malan; presidente do BNDES, Pérsio Arida; secretário-executivo da Fazenda; secretário de Política Econômica, Winston Fritsch; secretário-adjunto de Política Econômica, Gustavo Franco, posteriormente diretor de Assuntos Internacionais do BC; negociador chefe da Dívida Externa, André Lara Resende e assessor especial do Ministério da Fazenda, Edmar Bacha.

E foi no sucesso da estabilização dos preços que Fernando Henrique se elegeu presidente, no primeiro turno da eleição. Contou com colaboradores da gestão Itamar, quis levar Ciro Gomes para a equipe conforme relata no primeiro volume de “Diarios da Presidência (1995-1996),” mas o jovem político resolveu estudar em Havard.