O Lula de sempre está de volta. Nunca saiu, a rigor, mas digo assim por um especial momento, no qual o presidente septuagenário anuncia após dois anos e meio de mandato que vai começar a rodar o Brasil no mês que vem para combater “fake news e canalhice.” Leia-se: fazer política eleitoral mediante velhos truques, sem descartar boas pitadas de mentira que só enxerga nos outros.
Estava sábado (24) lá pelas bandas do Brasil Profundo, em Mato Grosso, para pulverizar dinheiro em mais uma política com cara de que vai render poucos frutos, e ligou a máquina de produzir asneira conjugada com o que julga esperteza, para fazer campanha eleitoral.
Vejo que as táticas discursivas de Lula colam cada vez menos, mas tem eleitor que ainda cai na esparrela do filho da dona Lindu, coitada. Que deve revirar no túmulo cada vez que o filho ilustre a utiliza para semear no imaginário das pessoas que a originária condição social do presidente milionário é salvo conduto para as estripulias da corrupção, do desmantelo e inação com que governa o Brasil, preferindo arrumar agendas no exterior a se dedicar à regência vigilante das ações de governo.
Em fevereiro e março, a Fazenda entregou a Hugo Motta, o novo presidente da Câmara, um pacote com 25 projetos importantes para a economia do país. Seguramente é possível afirmar que nem um terço deles foi votado. Não há informação sobre eles, com exceção da reforma do Imposto de Renda, promessa de campanha, que começou a ser discutida somente na semana passada. E já estamos na metade do ano.
Destacam-se a regulamentação econômica das big techs; limitação dos supersalários; mudança na previdência dos militares; revisão da lei de falências; regulamentação do comitê gestor na reforma tributária de consumo etc.
Não há única palavra nem empenho do presidente sobre tais propostas, como não há disposição de verdade em conter a inflação, muito pelo contrário. Os juros altos falam por si só, e sua elevação sob pretexto de conter aumento dos preços é o maior crime que se pratica no Brasil.
Quem cala consente: anda a galope a privatização da educação brasileira.
A impressão é a de que Lula da Silva se aposentou antes do tempo. Do palanque, nunca.
Para não esticar muito o rol de exemplos à farta da ausência de regente, voltamos a Mato Grosso e dona Lindu. À plateia que falsamente aplaude bobagens ditas, e vaia também como na Marcha dos Prefeitos, Lula disse: “Nós fazemos parte daquele tipo de político que pelo menos não quer perder o direito de andar na rua de cabeça erguida. Fui criado por uma mãe analfabeta, e a coisa que ela mais exigia da gente é que a gente não mentisse e que a gente respeitasse os outros”.
Depois de mensalão, petrolão e agora aposentão, assim batizado pela ruidosa e raivosa oposição a fraude no INSS, de “cabeça erguida” parece força de expressão. Se não for ambiente controlado, então… a coisa fica bem difícil.
Lula usa velho truque. Criado por mãe analfabeta. Ele, preso por um tempo, apela vez por outra à condição da infância de pobreza porque acredita convencer o eleitor do povão de que a origem social de privação e sofrimento produz ser humano virtuoso, pessoas incapazes de mentir, manipular e roubar para tirar proveito pessoal e político. Ele próprio. É como se dissesse: não sou elite, sou um de vocês.
Contudo, não se pode enganar a todos por todo tempo, e essa ladainha da origem social se contradiz com a conduta pessoal e práticas de governo, afastando cada vez mais eleitores.
As pesquisas mostram Lula com aceitação de relevo apenas entre os que tem idade acima de 60 anos. Saudosistas e possivelmente desinformados, não perceberam ainda que o PT e seu líder envelheceram. Não há nada de novo a oferecer.
No campo do populismo, a que Lula pertence, nunca deixou de ser ofertada a mentira e a falta de respeito aos adversários políticos. Preparem-se para nova temporada de fake news presidencial, com ares eleitorais.
Ia listar pelo menos meia dúzia delas nos últimos dias, mas deixo o exercício para vocês, restritos leitores. É facinho achar, e se preocupa a inflação dos alimentos, aperto inimaginável para a Presidência brasileira, sustentada desde a cozinha até a roupa de cama pelo contribuinte, tem às pencas fake news de “combate” ao custo alto da comida para a população.