No domingo, a vitória de Javier Milei, com 30,04% dos votos nas Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO) da Argentina, uma votação espécie de termômetro da corrida presidencial no país, surpreendeu o continente sul americano. Reportagem desta segunda-feira, 14, de Eduardo Gayer, de O Estadão, revela que o governo Luiz Inácio Lula da Silva se preocupou com a força política demonstrada pelo candidato que aparecia em terceiro lugar nas sondagens das pesquisas.
O “Bolsonaro dos hermanos,” como teria manifestado a fonte política de Gayer que habita o Palacio do Planalto, causou surpresa, e agora integrantes do Ministério das Relações Exteriores e do Planalto avaliam o impacto político com a possível eleição de Milei, que se declara um anarcocapitalista, sendo favorável à extinção do Mercosul.
Milei virou protagonista após apuração de 97,42% dos votos nas primárias argentinas. Ficou à frente da coalizão de centro-direita Juntos por el Cambio (28,27%) e da coalizão da esquerda que governa o país Unión por la Pátria (27,27%).
Gayer conta que um primeiro risco dos aliados de Lula é a contaminação do restante da América do Sul a eventual vitória da direita por parte de um tradicional país aliado do Brasil, a Argentina. Há um histórico no continente de governos do mesmo campo ideológico.
A falta de apoio ao projeto de integração regional via Mercosul é o segundo risco para Lula, e o terceiro seria a possibilidade de caso Milei ganhe a eleição levar o governo atual argentino de Alberto Fernandez, atordoado com uma crise econômica monumental, a uma espécie de vale tudo: exigir do Brasil algum tipo de ajuda para evitar uma derrota da esquerda.
Desde que assumiu o governo, Lula da Silva tem tentado ajudar a Argentina mais do que a qualquer outro aliado da América do Sul. Um financiamento para o gasoduto de Vaca Muerta, naquele país, foi duramente criticado, mas o BNDES atua para garantir linhas de financiamento no exterior. É uma obra cara e altamente poluente.
Lula orientou Fernando Haddad a interceder junto à secretária do Tesouro americano, Janet Yellen, por um alívio do Fundo Monetário Internacional (FMI) às dívidas argentinas. A conversa se deu às margens da cúpula do G7 financeiro, em Niigata, no Japão.
Lula e o Palácio do Planalto sabem, enfim, que eventual vitória da direita extremista pode transbordar para a América do Sul resultado semelhante em outros países, atingindo inclusive eleições do Brasil em 2024 e no futuro breve, quando Lula indicará seu sucessor.