As imperfeições na democracia representativa são muitas e uma delas emerge com muita evidência agora, na montagem do governo Lula 3. Pelo menos dois casos chamam a atenção, por seu protagonismo na política, porém há mais.
São a nomeação do senador eleito Flávio Dino, ex-governador do Maranhão, que assumiu o posto de ministro da Justiça antes mesmo de ser empossado. Diante da anomia vislumbrada neste final de governo Bolsonaro, não há outra saída.
E o caso da deputada federal eleita, ex-ministra do Meio Ambiente, ex-senadora, ex e de novo amiga do lulopetismo Marina Silva. Ela parece obcecada por voltar ao mesmo cargo que ocupou há muito tempo. Pelo que dizem, Lula não quer. Há motivos para isso.
Eu pergunto: é certo qualquer um desses eleitos que vão às ruas, entram em competição complexa, pedem votos e prometem plataformas de atuação no Congresso Nacional, saem vitoriosos e depois, de forma persistente, entram na disputa por ministério?
Nem ao menos explicam ao eleitor que neles confiaram o voto qual a razão de fazer a mudança. Marina, especialmente, na Câmara dos Deputados poderia ser a muralha de contenção mais importante para deter os que apoiam o estouro da boiada patrocinado por Ricardo Sales, que vai estar lá, eleito também.
Há muita, mas muita gente boa, bem preparada tecnicamente e intelectualmente, dentro e fora de organizações não governamentais, em instituições como o Inpa que, tenho absoluta convicção, seriam mais eficientes e competentes para gerir a questão ambiental.
Marina Silva virou um ícone, um desses mitos que a imprensa chapa-branca é incapaz de demonstrar inconsistências ou falhas na atuação política. Endeusam um personagem que sem dúvida cumpriu e cumpre importante papel, mas não apontam ressalvas e contradições, e os tempos difíceis que atravessamos.
Na Amazônia, 60% do território nacional e onde as redes criminosas contra o meio ambiente agem sem controle, Marina é amplamente rejeitada e não é tão somente por causa da política de repressão e combate ao desmatamento. Não!
É porque a visão que empreendeu com sua equipe no ministério de outrora, com ongs dando as cartas em políticas públicas unicamente de competência do Estado, ignorou necessidades e demandas urgentes de pequenos produtores, ribeirinhos e extrativistas, que precisam muito mais do que leis, criação de novas unidades de conservação ou políticas de repressão com helicópteros e homens armados sobrevoando suas propriedades.
Em Rondônia mesmo ela fez promessas para recomposição de áreas de reserva legal para os pequenos produtores, nunca cumpridas. Com isso, fortaleceu lideranças políticas que apregoavam a terra arrasada.
O eleitor foi às urnas para eleger um senador que possa ajudar seu Estado e uma deputada federal para fazer o bom combate no enfrentamento das discussões de leis que possam causar retrocesso ainda maior no meio ambiente.
O que fazem é estelionato eleitoral. E nem ao menos explicam a seus eleitores por que se recusam a assumir o cargo disputado nas edições.