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Pronunciamento de Bolsonaro é para reduzir danos, mas o rei já está nu

Se o Brasil não está livre dele, o mal maior, é porque faltam personagens públicos com coragem para fazer o que deve ser feito.
Bolsonaro teria ficado de 12 a 14 de fevereiro na embaixada da Hungria. Foto: Alan Santos.

O país está no quarto ministro da Saúde, e só isso basta para ilustrar a inexistência de compromisso verdadeiro com a saúde pública e com vidas.

Jair Bolsonaro é mesmo um caso perdido. Distorce a realidade desde que assumiu a presidência da República. Compulsivamente. Nunca defendeu a vacina ou qualquer outra medida cientificamente comprovada para prevenir e evitar o contágio pelo novo coronavírus, e nesta terça-feira 23 resolveu potencializar em rede de televisão e rádio o falso compromisso que seu governo tem no enfrentamento à crise sanitária.

Em pronunciamento de pouco mais de 3 minutos no dia em que se atingiu pela primeira vez mais de 3 mil mortes, com a marca de 300 mil vidas perdidas chegando nesta quarta-feira, 24, ele disse no final da fala: “Somos incansáveis na luta contra o coronavírus. Essa é a missão e vamos cumpri-la”.

Inacreditável! Quem acredita nisso passados dois anos de governo? O país está no quarto ministro da Saúde, e só isso basta para ilustrar a inexistência de compromisso verdadeiro com a saúde pública e com vidas em momento terrivelmente difícil, e quando, acuado até pelo centrão, com o qual a pouco mais de um mês firmou aliança, ele precisa sobreviver.

Incansáveis são os profissionais de saúde que chegaram à exaustão, que nas UTIs vivem guerra diária para manter vidas; prefeitos e governadores que enfrentam o problema de frente, bem ou mal, sem contar com uma liderança nacional que os animem e os apoiem, muito pelo contrário: são sabotados dia e noite pelo chefe da nação e a corja de seguidores radicais que de tudo fazem para impedir o sucesso de medidas adotadas.

Incansáveis são os comerciantes e empresários que driblam a crise e tentam segurar seus negócios e emprego das pessoas; são todos os trabalhadores, os que vivem do trabalho informal e que enfrentam o dia a dia em ônibus lotados, arriscando-se para levar o pão para casa.

Incansáveis, com paciência e tolerância infinitas, são os brasileiros que assistem o chefe da nação jogar com a vida das pessoas, negar o perigo da pandemia, zombar do sofrimento alheio, fazendo lives mórbidas, agressivas, toscas e mentirosas semanalmente. A cada aparição, apequena a Presidência da República.

Incansáveis são as famílias que perderam um ente querido, não somente mas inclusive porque acreditaram no receituário da cloroquina e porque tudo não passa de uma “gripezinha.”

Jair Bolsonaro só foi ao rádio e TV porque tenta reverter danos políticos a sua imagem, causados por sua condução desastrosa da pandemia, para dizer o mínimo. A fala acontece na véspera do seu encontro com representantes dos outros poderes, que cobram organização e coordenação por parte do Ministério da Saúde, e outra compostura do mitômano.

Acontece no dia em que o ministro Marco Aurélio Mello rejeitou ação por ele proposta para impedir governadores de adotarem ‘toque de recolher.’

É uma estratégia perdida, o rei está nu.

Politizar a vacina foi o maior erro. Nunca disse uma palavra de apreço ao centenário Instituto Butantan e, mais do que isso, não o valorizou como um centro produtor da vacina desenvolvida em parceria com laboratório chinês.

O Brasil poderia até estar ganhando bom dinheiro vendendo vacinas para países vizinhos e outros se seu governo investisse na ciência competente dentro de casa, mas preferiu duelar com João Dória.

O governador paulista, dizer é de justiça, é o responsável por 9 em cada 10 vacinas utilizadas na vacinação hoje. Seria grandioso, se na TV o presidente dissesse esta verdade e, indo além, se outra a linha de tempo da pandemia fosse, expressasse os investimentos feitos no Butantan, e que a parceria com Dória, independente de diferentes visões de mundo, permitiu vacinar milhões desde dezembro.

Alvo de panelaços enquanto falava, Bolsonaro saiu em defesa da imunização em massa, e disse que desde o começo seu governo adotou providências para comprar vacinas, o que fez de fato somente depois que o oponente, imaginário ou não, estartou a campanha em São Paulo.

Não convence, e se o Brasil como um todo não está ainda vacinado contra ele, o mal maior, e livre, é porque faltam personagens públicos em todos os poderes com coragem para fazer o que deve ser feito pensando no futuro da nação.