Um orçamento de R$ 183,8 bilhões não é o mesmo do Ministério da Saúde, pasta ambicionada por Arthur Lira (PP-AL) e sua turma, mas é um naco poderoso da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), recriada pelo Centrão durante a apreciação e negociação da Medida Provisória que estruturou os 37 ministérios do governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
O Globo, na edição desta terça-feira, 27, conta que o presidente da República, encurralado pelo capeta que abraçou ainda na transição, planeja entregar o órgão recriado e suas superintendências ao grupo fisiológico de partidos comandado por Lira para não entregar o Ministério da Saúde. Já vi esse filme antes, com a Funasa loteada e presente no noticiário policial muitas vezes. Oh República sem imaginação e entregue na bacia das almas dos pusilânimes.
Se acontecer o que diz o Globo, a Funasa voltará a ser, como na era Bolsonaro, feudo total do centrão, com superintendentes desqualificados nas superintendências. Em setembro de 2022, o Estadão apontou, por exemplo, que no comando dessas unidades estaduais tinham uma coach, um especialista em “análise sensorial de cachaça” e um dono de restaurante self-service.
A Funasa sempre teve ingerências indevidas e corrupção nas obras de saneamento que promove. A Controladoria Geral da União, CGU, já no começo do atual governo, mostrou que a ineficiência é recorrente, com obras que finalizavam inacabadas, estavam abandonadas ou paralisadas. Os recursos financeiros, apontou também a CGU, não eram destinados por critérios técnicos, mas sim por meio emendas parlamentares.
Com aval do governo, o líder do Governo na Câmara José Guimarães e o deputado Danilo Forte (União-CE), relator da MP que reestruturou ministérios, suprimiram um trecho do texto que extinguia a Funasa.
Segundo o Globo, como a Funasa deixou de fato de existir, já que a medida provisória de 1º de janeiro tinha efeito imediato após a sua publicação, o Congresso vai precisar aprovar um projeto de decreto legislativo (PDL) para definir os termos da recriação da fundação.
O assunto teria sido discutido na semana passada pelo deputado Danilo Forte, que já presidiu a Funasa no segundo governo Lula, Danilo Forte, com o presidente da Câmara, Arthur Lira. Decidiram que o texto que tramitará no Congresso será o do senador Hiran Gonçalves (PP-RR), também é aliado de Lira.
Este é mais um capítulo em que estamos vendo a novela do toma-la-da-cá se repetir, mais uma prática em que nada difere do governo anterior, mas o que se assiste é uma realidade paralela contada como se a governança política do Brasil tivesse se alterado. Não alterou. É tudo corrupção, favorecimentos, sem inovação, coragem, só covardia, em todos os poderes.