“Restrição de Trump à China vai tensionar mercados, e um deles é o Brasil,” diz Ciro Gomes

O excedente de produção do Oriente vai tensionar grandes mercados, trazendo preocupação e oportunidade para o Brasil, declarou Ciro em evento realizado em São Paulo.
Ciro Gomes cita déficit fiscal e comercial americano por trás das decisões de Trump.

No painel do qual participou na segunda-feira,7, “Um Brasil Otimista: Construindo uma Agenda,” do Fórum O Otimista Brasil 2025, Ciro Gomes, além de registrar como sempre faz em palestras sobre o que levou o país a paralisar seu crescimento e desenvolvimento, disse que o tarifaço de Donald Trump imposto à China irá tensionar os maiores mercados, “e o Brasil é um dos maiores  do mundo.”

“Essa restrição vai tensionar os maiores mercados. Precisa abrir o olho para isso. Fica o presidente dizendo que vai retaliar os americanos que fizeram uma tarifa de 10%, e não vejo ninguém estudando o que está acontecendo, só blague para a TV, a fim de reverter a impopularidade,” disse Ciro.

Ciro Gomes disse que Donald Trump ataca com o tarifaço o país asiático de forma “truculenta, despreparo e ignorância, para forçar a indústria a vir de volta para o território americano, o que não é trivial, pois é um tiro na estratégia de desenvolvimento da China, que expandiu sua indústria olhando para o mercado americano.”

“Se esse mercado é fechado, o que vai acontecer com o Brasil,?” indaga o ex-governador do Ceará.

“O excedente de produção do oriente, restrito o acesso franco ao mercado americano, vai tensionar os maiores mercados e o Brasil é um dos maiores mercados,” ele mesmo responde, para dizer que essa é uma preocupação e ao mesmo tempo “se apresenta uma oportunidade de ouro ao país.”

Evento em São Paulo no Painel “Um Brasil Otimista: Construindo uma Agenda.”

“O Brasil segue sendo a maior diversidade de matéria prima do planeta, tem petróleo, que para os próximos 30 anos  ainda é um material estratégico e sensível a despeito da sabotagem que Marina Silva (ministra do Meio Ambiente) e seu bando de malucos produzem em torno da margem equatorial; temos minerais sensíveis que são vendidos subfaturados no estrangeiro porque o país não toma conta disso; terras raras como tem na Ucrânia, tudo tem no Brasil com fartura, e a maior fronteira agrícola para explorar no planeta,” destacou Ciro Gomes.

O Brasil, registrou Ciro Gomes, é um dos dois países – o outro são os Estados Unidos – que na “mesma data podem produzir culturas temperadas e culturas tropicais.” “A diferença é que lá tem gestão e compreensão, aqui se faz a apologia da ignorância.”

Déficit e papel verde

O ex-ministro disse ainda sobre o tarifaço de Trump que ele busca inverter uma lógica. “E sobre isso eu não vi explicação até hoje na imprensa brasileira, tamanha é a intoxicação ideológica,” pontua Ciro Gomes.

Ele fez referência à insustentabilidade de dois déficits nos Estados Unidos, “que há muitos anos são relatados, um comercial, trilionário, e o fiscal, outra pancada trilionária, e eles financiam esse desequilíbrio estrutural emitindo papel pintado de verde, ao qual o mundo inteiro dá crédito como valor de troca e referência de troca, e isso vai acabar mais cedo ou mais tarde.”

O evento organizado pelo Fórum O Otimista Brasil, edição 2025, foi realizado em São Paulo, e no painel de Ciro estiveram Adriano Nogueira, mediador e presidente do Grupo Otimista de Comunicação; deputado federal Mauro Benevides Filho (PDT-CE) e José Carlos Pontes, presidente do Grupo Marquise.

Varridos do mapa

A preocupação de Ciro com maior amplitude de entrada de produtos chineses no Brasil segue na linha de análise do professor Matias Spektor, fundador da escola de relações internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV) e associado ao Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri).

Em entrevista ao Estadão, no dia 2 de abril, Spektor disse que alguns setores industriais poderão ser varridos do mapa com “uma enxurrada de produtos chineses” que serão redirecionados para outros mercados, ao ser afetados pelas tarifas americanas.

“O grande dilema do governo brasileiro ficará entre proteger setores com maior capacidade de lobby em Brasília e evitar retaliações do país asiático. A China é o grande parceiro do Brasil, mas um ameaçador parceiro, porque somos muito dependentes deles”, afirmou ele.

Ele citou que poderão ser afetados: em particular, os de aço e alumínio, de suco de laranja, serviços de engenharia, produtos de madeira e de cimento.