Sem aval dos trabalhadores, governo do PT propõe tungar dinheiro do FGTS para a banca

Esta é uma proposta que se constitui, para falar no popular, numa ação de lobo vestido em pele de cordeiro.
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Foto: Rovena Rosa.

A “brilhante” ideia do governo petista de incentivar um pouco mais o endividamento dos trabalhadores mediante a oferta generalizada de empréstimo consignado para empregados da inciativa privada deve ter a curto prazo ganho de popularidade para Luiz Inácio Lula da Silva, mas não me parece nada boa para o Brasil a médio e longo prazos.

É mais inflação, não ajuda no enfrentamento da crise fiscal, e principalmente desconsidera o já perigoso endividamento das famílias brasileiras. Segundo dados do Serasa de outubro de 2024 , são quase 74 milhões de pessoas endividadas no país.

Como se constata pelo número, a política marqueteira batizada de Desenrola – já encerrada – ficou só nisso mesmo ou praticamente nada contribuiu para reduzir substancialmente o número de inadimplentes. Quem ganhou mesmo foram os bancos.

Agora, de novo eles estão na parada, di$posto$ a contribuir para mais endividamento, claro. E os trabalhadores sequer foram consultados sobre a intenção do governo de uso do seu dinheiro. As instituições financeiras terão a garantia de, na hipótese – altamente provável – de inadimplência do empregado de empresa privada, garfar o dinheiro do FGTS.

Esta é uma proposta que se constitui, para falar no popular, numa ação de lobo vestido em pele de cordeiro.

Estimular o endividamento do trabalhador, 90% deles no Brasil ganhando menos de R$ 3.500 por mês, parece a princípio uma boa coisa. O consumo das famílias é um dos indicadores para crescimento do PIB.

Entretanto, não é neste momento o melhor indicador que um governo minimamente sério deveria se concentrar para gerar elevação do PIB, em cenário de inflação alta dos alimentos, transportes e combustíveis. Atuar para que investimentos não fujam do país seria um caminho mais adequado. E muitos certamente ficarão ainda mais endividados.

Revelado pelo Estadão e tema de reunião com banqueiros e Lula no Palácio do Planalto na terça-feira, 29, o uso do FGTS, dinheiro do trabalhador, repito, é uma isca apetitosa para os banqueiros uma vez que são bilhões de reais acautelados pelo governo federal. Em 2023, o Fundo teve um lucro recorde de R$ 23,4 bilhões.

É marca dos governos de Lula esparramar crédito, fortalecendo o ideário do consumismo das famílias. É uma tunga da “esquerda,” aspas a vontade, que deveria, por seu conjunto de dogmas e princípios, formar cidadãos e não consumidores.

O Ministério da Fazenda fala que o E-Consignado poderá gerar R$ 80 bilhões em empréstimos, a serem concedidos sem a burocracia existente hoje.  São cerca de 40 milhões de trabalhadores que podem ser atraídos para esse tipo de crédito.

Os bancos irão acessar dados do trabalhador pela plataforma E-Social, do governo federal, e o ministro Fernando Haddad, talvez menos popular ainda que Lula, vê o uso do E-Social e direcionamento do FGTS para bancos como uma medida de “democratização do crédito barato.”

“Você está elevando o empregado privado de uma empresa à mesma categoria que o servidor público e o aposentado do INSS tem hoje. A categoria de trabalhadores privados tem acesso restrito a esse crédito porque depende de uma serie de formalidades das empresas com os bancos,” disse Haddad em coletiva de imprensa.

É claro que o governo que se diz dos trabalhadores, sem o ser, sabe que o brasileiro não cultiva educação financeira, e qualquer oferta que pareça vantajosa para que possa acessar um bem ou serviço ambicionado mesmo à custa de novo endividamento lhe parecerá uma dádiva dos deuses.

No caso, o deus Lula.

Quem quiser cair nessa esparrela tem todo direito, mas não diga depois que algumas pessoas não fizeram alertas.