Sindicato diz “basta da gestão Pochmann” e anuncia assembléia para debater crise no IBGE

A demissão de dois diretores no inicio de janeiro ampliou a tensão que toma conta da instituição, gerada por insatisfação geral com a direção do órgão.
Reprodução/Redes Sociais.

Uma rebelião interna toma conta do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A labareda foi acesa no ano passado, quando o presidente da instituição, o economista Marcio Pochmann criou a Fundação IBGE+, de caráter público privado, que passou a ser chamada pelos servidores de IBGE paralelo.

Nesta quarta-feira, 22, um novo capítulo na escalada de insatisfação com Pochmann veio do sindicato que representa os trabalhadores da Unidade Chile (localizada na avenida de mesmo nome), no Rio de Janeiro. A entidade divulgou convocação de assembleia a ser realizada na quinta-feira, 23, anunciando um “basta à gestão de Pochmann.”

A reunião será online, e tem por objetivo debater estratégias em resposta às decisões do presidente do IBGE, as quais são consideradas “autoritárias” e “com viés político.” A sessão local do sindicato pretende analisar a criação da fundação do IBGE+, entidade que teria a função de apoiar as atividades do IBGE.

É responsável pelo Núcleo de Inovação Tecnológica do órgão e por apoiar pesquisas. Está vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e não ao Ministério do Planejamento e Orçamento, como o próprio IBGE.

A preocupação com a Fundação IBGE + foi revelada também em carta aberta subscrita por mais de 130  servidores, na qual criticam Marcio Pochmann. Antecipada pelo colunista Lauro Jardim, de O Globo, a carta tem assinatura de gerentes e coordenadores, considera autoritária a atual gestão, e conta com apoio de servidores de três grandes diretorias do IBGE — Diretoria de Pesquisas Econômicas; de Geociências; e de Tecnologia da Informação.

O documento revela que a insatisfação vai além de uma percepção do sindicato dos trabalhadores do IBGE, afinal não foi organizado por eles. Para os subscritores da carta, a criação da Fundação IBGE+, de caráter público privada, o maior alvo de críticas, pode colocar em risco a credibilidade dos dados apresentados pelo instituto.

“Nossa preocupação é justamente manter a qualidade e, sobretudo, a confiabilidade dos dados. Por esse motivo, a criação de uma fundação público privada que usa o próprio nome do IBGE, sem que houvesse ampla discussão sobre os possíveis riscos à nossa autonomia e à confiabilidade dos dados, tem mobilizado intensamente e com razão nosso corpo técnico”, disseram os servidores na carta, segundo o jornal O Globo.

 Demissão

Outro episódio que escalou a insatisfação, no começo do novo ano, foi a demissão de dois diretores de pesquisa. Divulgada por meio de nota oficial, a presidência do IBGE não revelação o motivo das demissões de Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto. Para o sindicato, elas ocorreram pelo fato dos diretores “não concordarem com as práticas da gestão” de Pochmann, acusado de midiático e autoritário, colocando em risco a missão institucional do quase centenário IBGE.

A carta cita momentos em que Pochmann tem feito acusações aos servidores. Uma delas a de que eles estariam contrariados pelo fim do regime remoto integral, devido a interesses particulares.

“Contudo, o desejo dos servidores é que o modelo de trabalho fosse devidamente discutido, levando em consideração a qualidade e o ganho de produtividade da instituição. Pedimos que nossa experiência na gestão das áreas técnicas fosse escutada e isso não foi atendido,” diz o documento.

Em outro trecho, os servidores dizem na carta que o clima organizacional está deteriorado e as lideranças encontram sérias dificuldades para desempenhar suas funções. “Por isso, não vemos outro caminho senão solicitar o apoio da sociedade e a atenção das autoridades competentes para sanar a crise instaurada.”

Carta Aberta dos Servidores do IBGE