SUS precisa lidar com outras epidemias, por isso autoridades se preocupam

O Brasil teve 441,22 mil casos de dengue apenas até 21 de março, bem acima do total de 273,19 mil registrados em igual período do ano passado. Foto Marcello Casal.

Blog da Mara com informações de Mateus Vargas, de O Estado de São Paulo

Além do coronavírus, registros de dengue, gripe e sarampo preocupam profissionais da saúde, mas presidente do Conass diz que o SUS está acostumado com isso. 

O Brasil terá de enfrentar ao mesmo tempo “três epidemias” nos próximos meses. À espera de uma possível escalada do coronavírus, epidemiologistas e gestores do Sistema Único de Saúde (SUS) se preocupam com elevado registro de doenças já conhecidas, como dengue e influenza.

O Brasil teve 441,22 mil casos de dengue apenas até 21 de março, bem acima do total de 273,19 mil registrados em igual período do ano passado. Em 2018, foram 71,52 mil casos neste intervalo.

Há ainda 120 mortes confirmadas e 188 em análise para dengue neste ano. No ano de 2019, o Brasil registrou 1,54 milhão de casos de dengue. O número só é menor do que o de 2015 – 1,7 milhão.

De letalidade muito menor do que a covid-19, a doença tem alta incidência e exige esforços das autoridades e profissionais da saúde, hoje pressionadas pela pandemia. Eles estão preocupados com o  provável pico simultâneo de casos de influenza, como H1N1, e do novo coronavírus.

“Teremos coronavírus, uma novidade, teremos influenza, que é uma rotina, todo ano acontece, e teremos também o pico de dengue. Aproveitem que estão em casa e limpem o quintal, eliminem focos de dengue e vacinem-se”, disse na quinta-feira o secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira.

Já foi regularizada, segundo o Ministério da Saúde, a distribuição de insumos necessários, como inseticidas, para o controle do Aedes aegypti, mosquito transmissor de dengue, zika e chikungunya. Também foi feita a compra de kits de diagnóstico da dengue para todos os Estados.

Pesquisadora do Instituto Oswaldo Cruz, da Fiocruz, a bióloga Denise Valle diz que os casos de dengue no país flutuam. Os anos com altas podem ser explicados pela volta de um dos quatro subtipos da doença no Brasil.  Desde o fim de 2018 o subtipo 2 está sendo registrado. Ele não era observado desde 2008.

A bióloga aponta ainda alto número de casos de chikungunya no Brasil. “Faz muitos casos graves, penosos, que se estendem por muito tempo”, diz ela. Até 21 de março foram notificados 12.696 casos. Só o Estado do Espírito Santo concentra 22% dos pacientes; a Bahia, 21,4%; e o Rio, 19,5%. Neste intervalo foram confirmadas 3 mortes e outras 18 estão em investigação para a doença. De cada dez criadouros do mosquito, oito estão nas residências.

Gripe

O professor titular de Epidemiologia da Universidade Federal do Rio  Grande do Sul (UFRGS), Jair Ferreira, diz que deve haver queda no registro da dengue,  mas as altas da covid-19 e da influenza devem coincidir. “Por isso é extremamente importante a vacinação contra a gripe. Para evitar que haja mais casos graves. Ainda evita que se tenha duas infecções.”

Até 14 de março, fora do período de pico para síndromes gripais, o Ministério da Saúde relata 165 casos e 13 óbitos por influenza A (H1N1), 139 casos e 14 óbitos por influenza B e 16 casos e 2 óbitos por influenza H3N2. Juntas, elas somaram 320 casos e 29 óbitos. No ano passado inteiro, o País registrou 5,8 mil casos e 1.122 óbitos pelos três tipos de influenza, que podem ser evitados pela vacinação.

Sarampo: 4 mortes, após 20 anos sem óbito 

O SUS enfrenta ainda  doenças como o sarampo, que matou 4 pessoas neste ano, após 20 anos sem óbitos no Brasil. Até o começo de março foram notificados 4.971 suspeitas, sendo confirmados 909 casos. Há dez Estados com circulação ativa do vírus e São Paulo tem quase um terço dos pacientes. A vacinação é a única forma de evitar o contágio.

O presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), Alberto Beltrame, afirma que o SUS está acostumado a enfrentar mais de uma doença em alta. Os gestores, diz ele, estão sob alerta para que o apoio à covid-19 não deixe pacientes de outras enfermidades desassistidos. Segundo Beltrame, a ideia é aproveitar a sensibilidade da população para a vacina contra a gripe, em meio à pandemia, para também imunizar pessoas abaixo de 60 anos do sarampo.