Testemunhas, Ciro Nogueira e Tarcísio negam saber de tentativa de golpe

Presidente do PP e governador de SP disseram desconhecer envolvimento de Bolsonaro; depoimento de testemunhas a Moraes segue até 2 de junho.
Ciro Nogueira disse que na Casa Civil recebeu ordem para preparar a transição da melhor maneira possível. Foto: Pedro França.

Na condição de testemunhas, os ex-ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), hoje senador, e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), atual governador de São Paulo, disseram ao Supremo Tribunal Federal (STF) em depoimentos prestados nesta sexta-feira, 30, desconhecer envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro com alguma tentativa de ruptura institucional ou golpe de Estado.

Eles foram ouvidos por videoconferência como testemunhas indicadas pela defesa de Jair Bolsonaro na ação penal sobre eventual trama golpista para tentar tentado manter o ex-presidente no poder após 2022.

O governador Tarcísio de Freitas disse que jamais tratou ou ouviu de Bolsonaro qualquer assunto relativo a golpe, seja antes ou depois de eleição. Da mesma forma isso nunca teria acontecido enquanto ele foi ministro, acrescentou ao ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal.

Ciro Nogueira, presidente do PP, disse que à época a determinação que recebeu de Bolsonaro foi a de que fizesse a transição para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva da “melhor forma possível.” Disse também que nunca ouviu falar do suposto golpe.

O ex-ministro-chefe da Casa Civil disse que Jair Bolsonaro chegou a ficar depressivo após a eleição, sem ânimo e desinteressado “pela situação do país”, mas que a transição ocorreu “dentro da normalidade.” “O presidente em momento nenhum quis obstaculizar qualquer situação,” afirmou.

O STF continua ouvindo testemunhas sobre o caso. Porém, algumas delas foram dispensadas pelos próprios envolvidos na suposta trama golpista.

O presidente do PL Valdemar Costa Neto foi dispensado pela defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres, réu na mesma ação penal, integrante do núcleo crucial da investigação. Ele iria depor também na manhã desta sexta-feira, 30.

Valdemar chegou a ser indiciado pela Polícia Federal (PF) por envolvimento na trama golpista, mas acabou sendo poupado na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Os ex-ministros Gilson Machado (Turismo) e Eduardo Pazuello (Saúde), que falariam a tarde como testemunhas de Bolsonaro, também foram dispensados, no caso pela defesa do ex-presidente.

Foi dispensado também o advogado Amaury Feres Saad, apontado no inquérito policial como um dos mentores intelectuais de uma minuta de decreto com teor golpista, mas que também não foi denunciado pela PGR.

Secretário do DF

O deputado distrital Hermeto (MDB) também foi ouvido nesta sexta-feira, 30,  como testemunha de defesa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Hermeto foi relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) aberta pela Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

O parlamentar foi questionado sobre o motivo de não ter indiciado Torres, à época secretário de Segurança Pública do DF, no relatório final da CPI.

“Eu não indiciei o secretário Anderson porque não vi nele a responsabilidade, porque o secretário de Segurança em exercício, o secretário-executivo [Fernando Souza de Oliveira], que estava no comando, e as forças de segurança respondiam a ele”. Torres, segundo divulgado, estava em férias.

A testemunha seguinte, a secretária de Desenvolvimento Social do DF, Ana Paula Soares Marra, confirmou ter participado de uma reunião no dia 6 de janeiro, junto com o general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, então chefe do Comando Militar do Planalto, e Torres.

Segundo ela, a pauta do encontro foi a desmobilização do acampamento em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, onde eleitores de Bolsonaro estavam há meses e defendiam intervenção militar no país.

“No dia cinco, uma quinta-feira, eu recebi uma mensagem às oito e meia da noite, ainda tenho essa mensagem. O chefe de gabinete do secretário de Segurança Pública praticamente me convocando, dizendo que era uma reunião urgente”, contou Ana Paula.

No encontro, foram mostradas fotos que demonstraram uma relativa desmobilização do acampamento e estabelecido um plano para a retirada das pessoas do local na semana seguinte, envolvendo servidores da área social, devido ao grande número de pessoas em situação de rua nos arredores, contou a secretária.

Até 2 de junho

A ação penal 2668 foi aberta depois que a Primeira Turma do Supremo aceitou, em março, a denúncia da PGR relativa ao chamadonúcleo “crucial” do golpe, composto por oito pessoas, incluindo Bolsonaro, que seriam os líderes do que a PGR chamou de “organização criminosa.”

Desde o dia 19 começaram a ser ouvidas as testemunhas, por videoconferência, e seguem até 2 de junho. Mais quatro depoimentos de testemunhas de Bolsonaro serão ouvidos na tarde desta sexta-feira, 30.

Com informações da Agência Brasil.