Na verdade, a abstenção, silenciosamente, sem fazer campanha, venceu 15 oponentes na capital.
O desafio do segundo turno em Porto Velho para as duas candidaturas vitoriosas na primeira fase da campanha será conquistar os votos dos eleitores que apostaram em outros candidatos no primeiro turno, evidentemente, mas há uma tarefa a que Hildon Chaves e Cristiane Lopes devem se dedicar com algum afinco: convencê-los principalmente a sair de casa.
Hildon tem larga vantagem, mais do que dobrou os votos em relação à vereadora, mas o segundo turno é uma nova eleição, e não há garantia de que votos são transferidos por acordos feitos com lideranças partidárias derrotadas. Cada um tem os votos dados no primeiro turno, e mesmo eles em parte podem ser modificados.
A tendência tem sido, ao olhar os números das eleições municipais, a partir da ocorrida em 2012, de aumento da abstenção no segundo turno em Porto Velho. Ela poderá ser maior do que os 27,58% registrados no primeiro turno de 2020, representando 91.851 eleitores sossegados em casa, num domingo de feriado da Proclamação da República. Ou poderá não ser, a depender entre outros fatores da capacidade dos candidatos e novos apoiadores de interpretar o sentimento de órfãos e indecisos, uma tarefa dura, dado o exíguo tempo para a campanha, duas semanas.
Na verdade, a abstenção, silenciosamente, sem fazer campanha, venceu 15 oponentes, humilhando até mesmo o líder que já se sabia em primeiro desde o início, o prefeito Hildon Chaves, que obteve 74.728 (34,01%) votos.
Existem fartas razões para que a abstenção seja a resposta concreta para o mau humor e descrédito da população para com a política, e nas eleições localizadas, em que as ações do poder público afetam diretamente as cidades em que vivemos, esse deslocamento do compromisso democrático é maior.
Em 2016, a abstenção no primeiro turno disputado por Chaves com o deputado Léo Moraes, na época do PTB hoje no partido Podemos, ficou em 18,64% (50.623 eleitores ausentes), quase 9 pontos menos do que a de agora. No segundo turno daquele ano, ela passou para 23,36% (74.741 ausentes).
Na disputa de 2012, ganha pelo hoje deputado federal Mauro Nazif (PSB), os ausentes das urnas no primeiro turno somaram 29.149 eleitores, 10,47% do total apto a votar, e no segundo turno 38.607 (13,87%) eleitores não quiseram votar.
Como se vê, é ascendente a abstenção a cada eleição na capital, quadro em que a prudência aconselha uma avaliação com maior acuidade, mais estudo, a fim de entender os rumos de Porto Velho. É de bom tom que os candidatos, e todos os que fazem política em cidade tão complexa e desafiadora, não desprezem essa realidade.