A lista de queixas e denúncias recebidas pelos senadores que em diligência estiveram em Pari Cachoeira, distrito de São Gabriel da Cachoeira (AM), o município mais indígena do Brasil, é diversa. Relatos na diligência ocorrida no dia 31 e cartas entregues aos parlamentares da CPI das ONGs denunciaram manipulação e interferências das entidades que atuam na região, acusando por exemplo o ISA (Instituto Socioambiental) de captar recursos que nunca são aplicados nas comunidades, mas servem para o enriquecimento ilícito à custa da pobreza indígena.
“É importante destacar que fomos solicitados pelos indígenas. Eles denunciaram e afirmaram que a CPI precisava vir aqui para comprovar que não estão mentindo. É claro que o Instituto Socioambiental precisa ser investigado, porque o que eles fizeram no verão passado não foi coisa boa. Os relatos e depoimentos dos povos indígenas do Alto Rio Negro confirmam isso”, declara o senador Plínio Valério, presidente da CPI.
A diligência externa com mais de cem pessoas entre lideranças e comunidades indígenas em geral ocorreu no Centro Comunitário Distrital Kumadá e Yerpará Panilu. O relator da CPI, senador Márcio Bittar(União Brasil-AC) e Chico Rodrigues(PSB-RR) participaram do encontro.
A Federação das Organizações Indigenas do Alto Rio Negro (Foirn) é outro alvo dos indígenas. A carta do povo Baniwa diz que a entidade “está tornando os povos indígena do Alto Rio Negro como principal objeto e massa de manobra para usufruir de recursos de países estrangeiros usando nome de 23 grupos étnicos, 50 mil indígenas e 700 aldeias”.
A carta entregue ao presidente da CPI das Ongs, senador Plínio Valério, pede investigação da entrada de recursos estrangeiros em nome dos povos pelas duas entidades, e no conjunto de manifestações ocorridas durante a reunião eles pediram a expulsão das entidades do local, havendo que defendesse apenas a mudança da diretoria da Foirn.
Os Baniwa expressam preocupação com relação à saúde e pediram investigação sobre a compra de computadores, motores e equipamentos de internet que nunca foram entregues às comunidades indígenas. Afirmaram, ainda, que a Foirn abandonou a educação indígena e deixou de lutar pela melhoria da qualidade de vida das comunidades.
Outra carta recebida pela CPI afirma que projetos da Foirn nunca foram executados. “Só faziam reuniões e assembleias para justificar projetos inexistentes e prestação de contas manipulada com resultados totalmente duvidosos”, dizem.
A carta também denuncia o projeto Pesca Esportiva no Rio Marié “que camufla a retirada de minérios a noite” e diz que a coordenação da Fundação Nacional do Índio (Funai) é totalmente aparelhada por ONGs. “A cada grito de liberdade há ameaças e perseguições,” diz trecho da carta.
“Não queremos mais essas ONGs atrapalhando projetos de nossas vidas; eles se enriquecem na pobreza do indígena do Alto Rio Negro e outros estados onde elas estão. Enriquecem ilicitamente na miséria do indígena. Fazendo biopirataria, levando conhecimento tradicional em troca de nada para o povo detentor desse conhecimento”, diz um trecho do documento, que encerra pedindo a retirada do ISA da região e de todos que atrapalhem suas perspectivas de um mundo melhor.