A perspectiva sombria da Dra. Ludhmila: até 600 mil mortes

A médica disse que faltam protocolos para a regulação do Sistema Único de Saúde.
Dra Ludhmila durante entrevista. Foto: Reprodução/Globonews.

Médica foi ameaçada e criaram perfis falsos dela no instagram e twiteer 

A médica cardiologista Ludhmila  Hajjar recusou o convite do presidente da República para assumir o Ministério da Saúde. Fez muito bem. Era esperado. Só os ingênuos achavam que Bolsonaro havia dado um cavalo de pau e, por causa da pressão de governadores  e prefeitos por vacina, por causa da queda em sua popularidade e possibilidade de Lula vir a disputar a presidência, teria ele se convertido ao ideário aceito no mundo todo para enfrentar a pandemia do novo coronavírus.

Dra. Ludhmila, cardiologista de um punhado de gente graúda de Brasilia, onde estudou Medicina, contou o que ocorreu de sexta-feira até esta segunda-feira, 15, em excelente entrevista à Globo News.

Disse ter sido ameaçada. Não teve medo, mas ficou assustada com a invasão de sua privacidade, ameaças e tentativa de invasão de seu hotel na capital federal, onde esteve no domingo para conversar com o presidente.  Divulgaram seu celular em listas de whatsapp, descobriram seu endereço e ameaçaram sua família. E criaram perfis falsos das suas contas no Instagram e Twiteer

É tudo coisa de gente inspirada em um chefe de Nação que na violência e na apologia da violência exerce a política de governo, estimulando eleitores à agredirem instituições e pessoas que pensam diferente, tem outra visão de mundo.

Ludhmila disse ao jornalista Valdo Cruz ser “sombria” a perspectiva para o Brasil, a continuar com a má condução da crise sanitária, com evolução desastrosa da Covid-19, podendo se atingir a marca de até 600 mil mortes em pouco tempo, estimativa já dada também pelo médico e cientista Miguel Nicolelis.

Os jornalistas quiseram saber porque, mesmo sabendo ser o presidente negacionista, aceitou conversar sobre a possibilidade de assumir o Ministério. Disse a  médica que pelo fato de Bolsonaro saber que ela defende o que por ele é hostilizado  e sabotado – mascara, isolamento, distanciamento e vacina -e mesmo assim tê-la chamado para conversar, e diante da gravidade da pandemia no país, considerou que talvez uma reviravolta estivesse em curso na maneira do presidente lidar com a crise sanitária.

A médica disse ter tido vontade de ajudar 210 milhões de pessoas e não apenas seus 80 pacientes que acompanha diariamente em São Paulo, disse que é preciso regular diversas ações no Ministério da Saúde e que  até agora ocorreram muitas discussões infrutíferas e desnecessárias:

“Não se discute o que tem de ser feito com o paciente hospitalizado. Ficam discutindo cloroquina, ivermectina e azitromicina, é assunto ultrapassado, a ciência já deu essa resposta, e não se discute o que tem de ser feito com o paciente hospitalizado”, disse.

A médica disse que faltam protocolos para a regulação do Sistema Único de Saúde, o Ministério da Saúde está omisso. “Qual o critério de internação que o Ministério recomenda? Quem é o paciente que vai tomar corticoide? Sim, porque falo dele? Porque já foi demonstrado em inúmeros estudos científicos que reduz a mortalidade,” disse.

E continua a indagação: “O que se faz com o anticoagulante ? E na hora de intubar? Quantas mortes estão ocorrendo porque estão intubando pacientes de forma inadequada? O Brasil precisa de protocolos, e é para ontem.”

As sociedades médicas e os especialistas, disse ela,teriam de estar dentro do Ministério da Saúde discutindo esses protocolos.

Ludhmila Hajjar disse também ser necessário estruturar setor no ministério que trate da reabilitação de pacientes hospitalizados. As sequelas são graves, e a condução errática da pandemia está trazendo alto custo social e econômico.

Sobre vacinas, ação dos governadores e prefeitos também foram pontos abordados.

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