O incendiário Jair Bolsonaro mais uma vez jogou o povo, pelo menos o dele, contra os outros poderes, Supremo Tribunal Federal (STF) e Congresso Nacional, com os quais prometeu, quando empossado, respeitar e ter uma relação independente e harmônica.
Saiu neste domingo 3 da Alvorada, foi à rampa do Palácio do Planalto e, outra vez, aproximou-se de manifestantes que depois de uma carreata na capital federal novamente pediram “Fora Maia” e o fim do STF, dizendo que acabou a “paciência” e que deseja “um governo sem interferência.”
Paciência, devo dizer, jamais o presidente teve, e pontuo para não me alongar muito à exigida para a convivência com os demais poderes. Desde o inicio, o presidente Bolsonaro adotou a mesma postura negacionista que adota para a pandemia, abdicando da tarefa de liderar o processo de aprovação de reformas, processo que exige diálogo permanente com as instituições.
O STF é sim contaminado em alguma medida por uma ativismo político e também judicial, e o Congresso pela já longa trajetória carimbada de entreposto de trocas inconfessáveis, antirepublicanas, mas que não se apresentam tão somente com vícios. Agora mesmo, na crise sanitária, ambos desempenham bem sua função, e não fosse o parlamento o auxílio emergencial aos que mais precisam não passaria de R$ 200.
Governo sem interferência deseja todo déspota, e Bolsonaro é só mais um deles, obsediado pelo ódio permanente. Mais uma vez atacou governadores.
A verdade verdadeira é que o incendiário presidente, sem os atributos para a convivência democrática – quem disse que é fácil ? – se meteu numa camisa de sete varas, e tenho cá o palpite de que não vai conseguir escapar dela. É questão de tempo.
Emparedado pelo inquérito aberto para apurar o que disse Sergio Moro no pedido de demissão nada pacífico, pelo inquérito das fake news, pela investigação de deputados bolsonaristas, pela rachadinha do filho senador e pela sombra de 26 impeachments na mesa do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a quem declarou guerra, Bolsonaro é um presidente desesperado e caminha para o cadafalso.
Para evitar a tragédia aproxima-se do centrão, o liquidificador de partidos formados pela fina flor da fisiologia, duramente criticado por ele na campanha de 2018, uma boia salva-vida que na verdade pode selar o beijo da morte, como bem disse o filosófo Marcos Nobre.
Bolsonaro é carcereiro dele próprio, brigou com todos ao mesmo tempo, estratégia suicida na política, exibiu Sergio Moro como um troféu em seu governo, mas impiedosamente, como é próprio do espírito autoritário, o escanteou para que esquecessem o que prometeu – o combate à corrupção.
Judas, assim carimbado Moro pelo presidente no twitter, como se vê, é o próprio Bolsonaro. Traiu o eleitorado dele.