O retrato do governo e o perfil de qualidades e defeitos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva traçados pela Pesquisa CNT/MDA revelam que o eleitor está mais crítico e menos fiel. A pesquisa aponta uma queda generalizada na popularidade de Lula, com “destaque para a percepção de piora na condução do governo, na economia e do aumento de preço dos produtos,” diz Marcelo Souza, diretor do Instituto MDA.
A tendência ao que tudo indica é que a popularidade derreta cada vez mais, a menos que o governo consiga sair das cordas e apresentar uma agenda positiva já. A CNT avaliou não apenas o que o eleitorado pensa do governo, quais as áreas positivas e negativas e o trabalho do Presidente, mas também as expectativas futuras em relação ao emprego, renda mensal, saúde e segurança pública, setores com pior avaliação.
A pesquisa Datafolha mostrou há dez dias que a aprovação do governo era de 24%, a da CNT aponta 29%, e baque grande teve a aprovação pessoal do Presidente: queda de 10% em relação a novembro de 2024, última pesquisa CNT.
A aprovação de Lula é de 40%, mas a desaprovação é maior, 55%, e ela cresce em todas as faixas etárias e regiões do país. É um descontentamento que se verifica na base do eleitor de Lula em 2022. Mulheres, brasileiros de baixa renda e eleitores do Nordeste, embora a região seja ainda a única em que a aprovação ao presidente é maior do que a desaprovação.
O diretor da Quaest, Felipe Nunes, ao analisar que a queda na popularidade de Lula é “estrutural e não conjuntural” – em artigo na Folha no dia 15 de fevereiro -, aponta que além desse grupo de eleitores os setores que compunham a chamada frente ampla – liberais sociais, progressistas e empreendedores individuais – “já demonstraram insatisfação há meses.”
No entanto, “o governo parece encastelado, distante da realidade do país,” disse Nunes, para quem a meritocracia e a responsabilidade individual e não a gratidão política automática são valores crescentes no eleitorado, e por isso está mais crítico e menos fiel. É um retrato que muitos dentro do governo vem fazendo.
Uma leitura atenta das pesquisas aponta para essas constatações. A CNT/MA mediu a capacidade do líder Lula nos momentos de crise, indicando atenção a essa questão. 41,7% acham péssima ou ruim a capacidade do Presidente em solucionar crises, como a dos preços altos de alimentos. Isso indica a pouca confiança no governo, o que claramente transpareceu na regulamentação do PIX.
Os entrevistados, pouco mais de 2 mil, consideram como os quatro piores defeitos de Lula a desonestidade (21,7%); preocupação excessiva com a reeleição (14,2%); exagerado na briga com a oposição (13,7%) e despreparado, com o mesmo índice de 13.7%.
Destacam como qualidades a atenção aos pobres (20%); buscar o bem para o país (10,35); inteligente (8,8%) e trabalhador (7,6%).
Outros números, claramente identificados com uma postura mais crítica do eleitor: 60,1% avaliam como ultrapassadas e repetitivas as falas e pronunciamentos do Presidente, e 62% dizem que Lula não está no caminho certo de seu mandato nos próximos dois anos.
Juntando essa posição depreciativa crescente da atuação pessoal do Presidente,com avaliação ruim da segurança, saúde e economia, respectivamente 20%, 13,5% e 32%, e expectativas pessimistas do cenário futuro para emprego, renda mensal, segurança e saúde, o governo precisa dar um cavalo de pau se quiser que seu líder tenha sobrevida política.
Do contrário, será em breve o ocaso de um líder com pés de barro.