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Em 49, deputado foi cassado por ter posado para foto de cueca e fraque

Barreto Pinto foi cassado por ter posado com uma samba-canção, enquanto Chico Rodrigues e Lebrão contam com o corporativismo no legislativo.
Barreto Pinto aceitou ser retratado com cueca samba-canção e perdeu o mandato.

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF, recuou da decisão de suspender Chico Rodrigues (DEM-RR) do cargo porque o senador pediu licença de 120 dias, após ser convencido pelo espírito de corpo do Senado de que era a melhor coisa a fazer para não ser cassado. O ministro proibiu a circulação de vídeo comprovando que o dinheiro estava escondido na parte íntima do parlamentar para evitar “humilhação pública”, por expor em demasia sua intimidade.

O cuidado adotado pelo ministro tem razão de ser. A vexaminosa corrente de exibição do flagrante feito pela Polícia Federal, nas redes sociais, seria devastadora não apenas para o político, mas também fortemente para a instituição Senado. E para sua família, quiçá pessoas de bem a sua volta, que certamente seriam incomodadas onde quer que fossem ao ser confrontadas com cenas degradantes de um senador da República escondendo dinheiro supostamente desviado nas nádegas.

Nem precisa de tamanha humilhação no Brasil onde tudo se converte em piada e meme, e basta a notícia em si para que o Senado seja enlameado e o senador passe a ser ridicularizado e agredido em lugares públicos e muito especialmente nos aviões.  Nos últimos tempos, neles são corriqueiras as manifestações indignadas dos passageiros contra políticos corruptos.

E foi a pergunta de um dos aflitos colegas, tomados pelo espírito de corpo, que fez Chico Rodrigues buscar refúgio numa licença do cargo, por 120 dias e sem remuneração. “Como fica agora, Chico, andar de avião?”, disse o colega. São 4 horas de voo para Roraima, sua base parlamentar, tempo mais do que suficiente para quem sabe ser trucidado pela fúria contida durante o recolhimento social.

Chico, que não queria sair e numa explicação estapafúrdia disse que ficou atônito com os homens da Federal no seu quarto, num ímpeto escondendo no estranho lugar dinheiro que seria para pagar funcionários, recuou. Vice-líder do Governo escolhido por Jair Bolsonaro, o senador carimbou a corrupção nas hostes bolsonaristas.

O dinheiro seria proveniente de propina resultante da compra de kits para exames da Covid-19, e a Polícia Federal tem elementos que indicam ter o senador intermediado empresa para que ele fosse favorecido, havendo depoimento de funcionário que atuava na Secretaria de Saúde de Roraima.

São situações incompatíveis com a ética e o decoro porque abusam das prerrogativas do exercício do cargo e evidenciam recebimento de vantagens indevidas, tipificadas no Código de Ética e Decoro do Senado Federal como razões para perda de mandato, bem descritas pelos partidos Rede e Cidadania que entraram com representação no Conselho de Ética.

Por aqui, temos o nosso caso de falta de ética e decoro em suspenso, contaminado também pelo espírito de corpo que protege os espíritos de porco. O deputado Lebrão, experiente parlamentar, foi pego com as mãos na botija ao aceitar propina de empresário que filmou tudo numa ação orquestrada com a Polícia Federal.

Tanto em Brasília quanto por aqui o que prevalece é o corporativismo. A ética e o decoro dos cargos de deputado e senador são exigências apenas ritualísticas, formalidades no regimento, que para ser respeitados reclamam líderes de estofo, personalidades que fazem da política instrumento de culto ao bem comum, e estes estão cada vez mais distantes de um Brasil onde havia ideias e discussão de um caminho para o pais, e uma simples traição conjugal ou uma foto de um deputado com fraque e cueca dava em cassação.

Este foi o caso do deputado Barreto Pinto, do PTB. Ousado, topou fazer um ensaio para a revista Cruzeiro trajando cueca samba-canção e fraque. Foi o  primeiro caso de deputado cassado por falta de decoro no país, em uma sessão secreta da Câmara dos Deputados, em 27 de maio de 1949.

É ou não uma humilhação para todos nós? Que tempos vivemos!

Representação Rede e Cidadania contra Chico Rodrigues no Conselho de Etica